EXPERIÊNCIAS DE ENSINO: HISTÓRIA DA ARTE ENTRE APRENDER A VER E APRENDER A FAZER
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- Brenda Santarém
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1 106 EXPERIÊNCIAS DE ENSINO: HISTÓRIA DA ARTE ENTRE APRENDER A VER E APRENDER A FAZER Paulo Henrique Tôrres Valgas ¹ Lucas Souza ² INTRODUÇÃO Durante o ano de 2016, os professores Paulo Henrique Tôrres Valgas ³ e Lucas Souza ⁴ aplicaram o projeto de ensino História da Arte: Entre aprender a ver e aprender a fazer no campus Ibirama do Instituto Federal Catarinense. O projeto propôs um curso de História da Arte em dois vieses: um histórico-social, e assim teórico, e um prático. O primeiro contemplou a presença e a necessidade da arte para o ser humano, além de discutir sobre seu percurso histórico, relacionando-a com seus contextos específicos, com enfoque nas artes plásticas, mas conversando com a arquitetura, por exemplo. O segundo viés envolveu a parte técnica, onde os alunos tiveram a possibilidade de conhecer métodos e materiais para o desenho, contemplando desde o retrato ao desenho de paisagem. O projeto englobou, portanto, uma educação crítico-social, estética e sensitiva, além de possibilitar aos alunos o aperfeiçoamento de suas habilidades, tornando-os mais qualificados para o desenho, seja como hobby ou nas diversas áreas profissionais que eles virão a seguir, como moda, arquitetura, design ou outro. MATERIAL E MÉTODO Os encontros iniciaram no dia 27 de abril e encerraram-se em 23 de novembro. Em geral, aconteceram quinzenalmente, salvo em mudanças necessárias (eventos, contratempos e feriados). Com duração de duas horas, os alunos tinham uma parte de explicação teórica/contextual da História da arte, ministrada pelo professor Paulo, e uma parte de prática do desenho, ministrada pelo professor Lucas. Os alunos matriculados provinham dos três cursos técnicos integrados ao ensino médio do campus (Administração, Informática e Vestuário) e do curso de tecnólogo em Design de moda. Além disso, uma professora e uma pintora da cidade compartilharam das aulas. Os conteúdos foram agrupados segundo uma periodização clássica: ¹Professor de História (IFC). paulo.valgas@ifc.edu.br ²Professor de Física (IFC). lucas.souza@ifc.edu.br ³Mestre em Artes Visuais/Teoria e História da Arte (Udesc/PPGAV). ⁴Mestrando em Física/ Ensino de Física (UFSC/MNPEF), desenhista e pintor autodidata.
2 107 a) arte pré-histórica: as cavernas e os monumentos megalíticos, as estatuetas ritualísticas do homem pré-histórico; b) arte antiga: as grandes civilizações da Antiguidade: Egito, Grécia e Roma; o vínculo religioso, o cotidiano, os monumentos cívicos. c) arte medieval: o catolicismo e a arte, as catedrais góticas, as pinturas religiosas e didáticas, o cotidiano cavalheiresco. d) Renascimento: os pré-renascentistas: Giotto, Duccio, Lorenzetti. Os renascentistas: Da Vinci, Michelangelo, Rafael, Brunelleschi. O contexto italiano e o mecenato. O renascimento nórdico com Jan van Eyck. e) Barroco e Rococó: Rubens, Rembrandt, Velásquez, Caravaggio e Vermeer. O contexto da reforma no norte e no sul da Europa. O absolutismo e o rococó francês: Fragonard e Watteau. f) Movimentos artísticos do século XIX: neoclassicismo, romantismo, realismo e impressionismo: principais artistas do conturbado século na Europa e seus contextos e problemáticas: David, Ingres, Friedrich, Turner, Constable, Courbet, Delacroix, Gericault, Bonheur, Millet, Monet, Manet, Renoir, Toulouse-Lautrec e Degas. g) Pós-impressionismo e vanguardas modernas: Van Gogh, Cézanne e Gauguin como precursores do modernismo. As vanguardas e seus diversos desdobramentos: expressionismo, fauvismo, cubismo, surrealismo, dadaísmo, futurismo, etc. Klimt, Picasso, Dalí, Matisse, Magritte, Gris, Duchamp, Malevich, Mondrian, Munch, etc. h) Arte contemporânea/ pós-moderna: Pollock, Beuys, Warhol. As novas mídias, temáticas e problemáticas da contemporaneidade. i) Arte brasileira: arte indígena, pintores viajantes, barroco mineiro, Missão Francesa e pintores da corte, Victor Meirelles e Pedro Américo, realismo e naturalismo, semana de 22, década de 60 (Pape, Clark e Oiticica), arte brasileira na atualidade. As aulas de desenho tiveram os seguintes temas: a) Desenho artístico. Materiais para o desenho. b) Desenho cego. c) Forma e figuras geométricas. d) Luz e Sombra: O peso da mão e a técnica do Sfumato. e) Traço e a personalidade do artista. f) Enquadramento, composição e proporção. g) Perspectiva.
3 108 Os conteúdos da História da Arte, agrupados em eixos temáticos, tiveram na medida do possível conteúdos similares na prática do desenho. Durante os encontros, houveram debates, análises de cenas de filmes e principalmente a abertura para os alunos exporem suas perceções, dúvidas, questionamentos e experiências. Foi selecionada como bolsista a aluna Bárbara Schlegel, do 3º ano do curso de Vestuário. Suas atividades consistiram em auxiliar os professores na preparação das aulas (materiais, cronograma, ementas) e na divulgação e inscrições, realização das leituras básicas e preparação das salas e materiais para aulas práticas, organização de exposições no Instituto, auxílio com feedbacks no fim das aulas, entre outros. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em setembro, aconteceu no Instituto a Feira do Conhecimento, onde a bolsista e a participante do projeto, Débora Sartor, coordenaram uma mesa com a apresentação do projeto. Diversas imagens de obras de arte foram coladas na parede, acompanhando uma trajetória dos principais movimentos artísticos do Ocidente. Na mesa e em varais na parte de cima, foram expostos desenhos realizados pelos alunos. Na mesa, desenhos do professor Lucas também compuseram a exposição. O público demonstrou interesse e surpresa com os desenhos, e o resultado da feira foi considerado de sucesso pelos alunos e professores. O projeto teve seu último encontro no dia 23 de novembro, quando, inspirados nos movimentos de desenho urbano na atualidade ⁵, os alunos e professores se deslocaram até a Igreja Luterana de Ibirama, local turístico e histórico da cidade, para uma aula experimental de desenho in loco. Neste dia, a igreja e o cemitério, que fica logo abaixo, foram retratados, aproveitando o clima e luminosidade propícios. Mesmo com duas dificuldades encontradas durante o curso, ministrar muitos conteúdos em tão poucas aulas e lidar com a carga de atividades dos alunos, sendo que muitos desistiram por incompatibilidade de horário ou sobrecarga de trabalho, tantos os professores quanto os participantes consideraram o projeto de sucesso. Como resultado final, observou-se uma série de aprendizagens. O projeto teve bastante repercussão, os alunos relataram que aprenderam bastante, que ampliaram seus conhecimentos sobre história da arte e que passaram a perceber mais sobre as imagens a sua volta. Os alunos apreenderam os conteúdos teóricos, desenvolveram habilidades investigativas ( o que significa essa obra? E esse símbolo? Qual era a proposta desse pintor? Que relações entre essa obra/movimento e o contexto da época podemos traçar? ) e construção de novos conhecimentos ( não sabia que isso tinha sido assim Que interessante a forma como eles ⁵A pesquisa de mestrado do prof. Paulo diz respeito ao movimento de desenho urbano Urban Sketchers, fundado em 2007 pelo espanhol Gabi Campanario.
4 109 pensavam naquela época! ). Assim, também, expressões de admiração ( que obra linda!, como podiam ter feito isso com tecnologia ainda tão rudimentar? que emocionante! ) ⁶. Em relação à parte técnica, relataram que aprenderam formas de melhorar seu desenho e que o curso foi bom para desenharem mais. Muitos alunos admitiram no começo do curso que não eram bons desenhistas e que estavam um pouco apreensivos em relação às aulas práticas, contudo, à medida que eles eram expostos às mais variadas técnicas de desenho e aos diferentes movimentos artísticos, pode-se ver um aumento gradual na sua confiança e maturidade nos trabalhos executados. O progresso realizado por alguns alunos foi impressionante, mostrando que aprender a ver e a fazer a arte está ao alcance de todos aqueles que estão dispostos a vivenciá-la. Nos dias da Feira do Conhecimento, os alunos ficaram bastante orgulhosos de si por poder expor seus desenhos, assim como pelos muitos elogios dos espectadores. CONSIDERAÇÕES FINAIS Enfim, enfatiza-se o que, por todo esse texto já foi falado. É de suma importância ensinar a ver num mundo onde as imagens saturam o olhar e roubam a experiência estética. É necessário pôr os alunos em contato com as obras e sua história e memória, fortalecendo sentimentos identitários. É também essencial ensiná-los a desenhar numa sociedade cuja educação se pauta em escrever e fazer contas, mas não dá a ênfase merecida a expressão artística e habilidade do desenho. Por isso, esse projeto foi iniciado e encerrado com entusiasmo e com professores crentes no aprendizado e diferença que puderam fazer na formação dos seus alunos. REFERÊNCIAS AMARAL, Cláudio S. John Ruskin e o desenho no Brasil. XI Encontro Nacional da Associação Nacional da Pós-Graduação e Pesquisa em planejamento urbano e regional- ANPUR Disponivel em: < Acesso em 06 mar BODEI, Remo. As formas da beleza. Tradução de Antônio Angonese. Bauru, São Paulo: Edusc, COELHO, Teixeira. Catálogo da exposição Itaú Contemporâneo Arte no Brasil EÇA, Teresa. Desígnios do Desenho no contexto da cultura visual. Revista Eletrônica Educação & Linguagem (v. 13; n. 22) Disponível ⁶Essas são frases e expressões não literais que sintetizam os comentários feitos durante a ministração das aulas.
5 110 em:< Acesso em 31 mai FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, GARCEZ, Luciane; MAKOWIECKY, Sandra. O contato com uma obra prima: a primeira missa de Victor Meirelles e o renascimento de uma pintura. 17 Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas- ANPAP Disponível em: < Acesso em 31 mai OSTROWER, Fayga. Universos da arte. 13º ed. Rio de Janeiro, campus: MAKOWIECKY, Sandra. Os lugares das imagens: arte, história, evento. XVIII Simpósio Nacional de História. Encontro Nacional da ANPUH Disponível em: < yanpuh2015.pdf> Acesso em 31 mai NIETZSCHE, Friedrich. Obras Incompletas. Seleção de textos de Gérard Lebrun. Tradução e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho. Posfácio de Antônio Cândido. São Paulo: Nova Cultural: PETHERBRIDGE, Deanna. Nailing the liminal: the difficulties of defining drawing. In: GARNER, Steve (org.). Writing on Drawing: Essays on Drawing Practice and Research. Bristol: Intellect Books, SALAVISA, Eduardo (org.). Diários gráficos em Almada Não somos desenhadores perfeitos. Almada: Câmara Municipal/Museu da Cidade, SOARES, Rute M.L. O Lugar do Olhar: desenho, arte, composição e imaginação. Relatório de Pratica de Ensino supervisionada. Universidade de Lisboa Disponível em: < Acesso em 31 mai VALERY. Paul. Degas dança desenho: Paul Valery. Trad. Christina Muracho e Célia Euvaldo. 1 ed. São Paulo: Cosac Naify, VASARI, Giorgio. As vidas dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos. In: LICHTENSTEIN, Jacqueline (org.). A pintura - vol. 9: o desenho e a cor / organização de Jacqueline Lichtenstein; apresentação de Jacquline Lichtenstein; coordenação da tradução de Magnólia Costa. - São Paulo: Ed. 34, 2006.
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