PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Itapetininga, em que é apelante LATAM AIRLINES BRASIL S.A, são apelados IRACI CORREA LEITE e MAIARA CORREA DE JESUS (MENOR REPRESENTADA PELA MÃE). ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 16ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores SIMÕES DE VERGUEIRO (Presidente), MIGUEL PETRONI NETO E MAURO CONTI MACHADO. São Paulo, 5 de junho de Simões de Vergueiro Relator Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº: APEL.Nº: COMARCA: ITAPETININGA APTE. : LATAM AIRLINES S/A APDO. : IRACI CORREA LEITE, E OUTRA JUIZ : JAIRO SAMPAIO INCANE FILHO RECURSO DE APELAÇÃO INTERPOSTO CONTRA R. SENTENÇA PELA QUAL FOI JULGADA PROCEDENTE AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DECORRENTES DE OVERBOOKING E ATRASO DE VÔO DELE DECORRENTE - ALEGAÇÃO DE INCORREÇÃO PEDIDO DE REFORMA RESPONSABILIDADE CIVIL TRANSPORTE AÉREO OVERBOOKING INEFICIÊNCIA DO SERVIÇO PRESTADO HIPÓTESE EM QUE AS AUTORAS FORAM IMPEDIDAS DE EMBARCAR NO VOO PREVISTO, TENDO QUE SEGUIR VIAGEM SOMENTE NO DIA SEGUINTE DANOS MORAIS CONFIGURADOS E DECORRENTES DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE FORMA INADEQUADA DANOS MORAIS QUE DEVEM SER ARBITRADOS EM CONSONÂNCIA COM OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE - QUANTIA INDENIZATÓRIA MORAL DEFINIDA EM R$ ,00 PARA CADA RECORRIDA - JUSTA E ADEQUADA FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO PELOS PREJUÍZOS DE ORDEM MORAL EXPERIMENTADOS PELAS AUTORAS ACERTO DA R. SENTENÇA - REAPRECIAÇÃO MINUCIOSA DA R. SENTENÇA QUE IMPLICARÁ EM DESNECESSÁRIA REPETIÇÃO DOS ADEQUADOS FUNDAMENTOS DO PENSAMENTO ADOTADO PELO JUÍZO SIMPLES RATIFICAÇÃO DOS TERMOS DA R. DECISÃO DE 1º GRAU, QUE SE MOSTRA SUFICIENTEMENTE MOTIVADA RECURSO NÃO PROVIDO. Tratam os autos de Recurso de Apelação interposto contra R. Sentença encartada a fls. 103/107, pela qual foi julgada procedente Ação de Indenização por Danos Morais proposta por IRACI CORREA LEITE, E OUTRA, contra LATAM AIRLINES S/A, esta que culminou com imposição à vencida de condenação ao pagamento da quantia de R$ ,00 para cada autora, devida a título de reparação por danos morais, com a condenação da ré, ainda, no que Apelação nº Voto nº 2

3 toca a arcar com custas, despesas processuais, e honorários Advocatícios, estes por sua vez fixados em valor correspondente a 10% do valor da condenação. Dizendo da incorreção dos termos da R. Sentença, dela recorre a ré, conforme dão conta suas razões de fls. 110/128, pugnando pela necessária reforma dos termos constantes da R. Sentença, e alegando, em suma, que não se fazem presentes no caso danos morais indenizáveis, uma vez que a prática do overbooking é corriqueira e indispensável ao adequado funcionamento do mercado de aviação comercial, não se revestindo de qualquer ilicitude, motivo pelo qual pede pelo acolhimento de seus reclamos, buscando, em caráter alternativo, a necessária redução do valor indenizatório fixado. Recebido o recurso, e com contrarrazões (fls. 133/136), subiram então os autos a esta E. Corte, de sorte a se promover a reapreciação da matéria já decidida em 1º Grau de Jurisdição. É o relatório. O recurso como interposto não deve merecer guarida por parte desta Turma Julgadora, devendo ser mantida inalterada a R. Sentença hostilizada, notadamente porque os limites definidos quando de sua prolação se mostraram plenamente adequados à realidade que vem regularmente estampada no todo processado. Nessa linha, de rigor ressaltar que as autoras ajuizaram ação de indenização por danos morais asseverando que foram vítimas de prática de overbooking levado a cabo pela requerida, tendo sido impedidas de embarcar no voo JJ8064, sendo fato que somente conseguiram empreender a viagem no dia seguinte. Assim, resultou incontroverso no feito que as autoras, foram submetidas a atraso excessivo de voo, o que se deu diante da prática confessa Apelação nº Voto nº 3

4 de overbooking pela ré apelante, fato este que lhes trouxe incômodo e desconforto, além de implicar em quebra do contrato com a requerida, a qual desconsiderou, ao que conste, sem motivos lícitos para tanto, os termos que nortearam a emissão do bilhete aéreo adquirido. Em que pese as explicações dispendidas pela recorrente, no sentido de não se constituir em prática irregular o overbooking, o qual supostamente se justificaria em razão de situação conhecida como no show, fato é que as autoras não possam ser penalizadas por política adotada pela ré para evitar sofrer prejuízos. É de se ter como certo que a inconformada não possa repassar para seus consumidores, eventuais prejuízos decorrentes da própria atividade que desempenha, já que o cancelamento de passagem pelo passageiro, possibilidade conhecida e admitida pelas empresas aéreas, implica na cobrança de valores, muitas vezes excessivos, estes acrescidos de multa e outros encargos, não se justificando portanto, eximir-se de penalização quando, sem motivos plausíveis, adota procedimentos que alteram os limites contratados, daí emergindo seu dever no que toca a indenizar os passageiros prejudicados pela adoção de sua política de trabalho. Ademais, é de se ter em mente que o simples atraso de voo gera direito de ver-se o passageiro indenizado, isto nos termos do artigo 6º, inciso VI, do Código de Defesa do Consumidor, que estabelece que ao consumidor é garantido o direito à efetiva reparação dos danos morais e patrimoniais sofridos. Nesse sentido, a jurisprudência pacífica desta E. Corte: APELAÇÃO CÍVEL Transporte aéreo Ação de reparação de danos morais por overbooking Passageira que foi impedida de embarcar em voo Confissão pela companhia aérea da prática de venda excessiva de assentos (overbooking) - Prevalência do Código de Defesa do Consumidor sobre Apelação nº Voto nº 4

5 o Código Brasileiro de Aeronáutica Responsabilidade da companhia aérea nos termos dos artigos 6º, inciso VI e 14 do Código de Defesa do Consumidor Dano moral caracterizado Sentença que condenou a companhia aérea no pagamento de R$ ,00 (quinze mil setecentos e sessenta reais) à passageira a título de indenização por dano moral Valor fixado de forma adequada em vista do caso concreto Sentença mantida Recurso não provido. (TJSP; Apelação ; Relator (a): Daniela Menegatti Milano; Órgão Julgador: 16ª Câmara de Direito Privado; Foro de Guarulhos - 8ª Vara Cível; Data do Julgamento: 13/03/2018; Data de Registro: 19/03/2018) "AÇÃO INDENIZATÓRIA TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL OVERBOOKING - DANOS MORAIS QUANTUM Overbooking no voo contratado pelo autor, que ocorreu em virtude de a empresa aérea ter vendido mais passagens do que os lugares disponíveis, o que ocasionou a necessidade de remarcação da viagem Prestação de serviço defeituosa Responsabilidade objetiva da ré - Prova da existência do dano moral despicienda, uma vez que, pela evidência dos fatos, são notórios o cansaço exagerado, os transtornos, aborrecimentos e constrangimentos por que passou o autor Impossibilidade de embarque no voo para o qual adquirira o bilhete, sem qualquer justificativa, é suficiente para caracterizar o dano moral Configurado o dano moral, a estipulação da indenização deve ser ponderada, suficiente para amenizar o abalo emocional experimentado Indenização bem fixada em R$10.000,00 Sentença mantida Honorários advocatícios já fixados em percentual máximo Impossibilidade de majoração em razão do trabalho adicional realizado em grau recursal Vedação expressa Art. 85, 11, do NCPC - Apelo improvido." (TJSP; Apelação ; Relator (a): Salles Vieira; Órgão Julgador: 24ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 10ª Vara Cível; Data do Julgamento: 19/02/2018; Data de Registro: 19/02/2018) CONTRATO DE TRANSPORTE AÉREO Danos morais Avença não cumprida pela empresa Atraso do voo, com caracterização do Apelação nº Voto nº 5

6 chamado "overbooking", sendo necessário deslocamento para outro aeroporto Indenização moral devida, com valor mantido Percentual de honorários inalterado, bem assim a multa por litigância de má-fé Recurso desprovido. (TJSP; Apelação ; Relator (a): Vicentini Barroso; Órgão Julgador: 15ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional I - Santana - 7ª Vara Cível; Data do Julgamento: 16/02/2018; Data de Registro: 16/02/2018) AÇÃO INDENIZATÓRIA. "OVERBOOKING". VALOR DA INDENIZAÇÃO. 1. O planejamento de uma viagem a outro país, frustrado por conduta deliberada da companhia aérea, certamente gera danos morais cuja reparação impõe a majoração para R$20.000,00 (vinte mil reais). 2. Os honorários advocatícios são majorados para 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, inclusive considerando o trabalho realizado em grau de recurso. Recurso de apelação provido. (TJSP; Apelação ; Relator (a): Roberto Mac Cracken; Órgão Julgador: 22ª Câmara de Direito Privado; Foro de Santos - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento: 08/02/2018; Data de Registro: 16/02/2018) Destarte, plenamente caracterizado o dano moral sofrido, este a ensejar o direito à indenização. Vale ressaltar que para possibilitar a indenização por danos morais, não se faz necessário a demonstração dos prejuízos causados, porque presente responsabilidade objetiva do transportador. Configuradas portanto as práticas que implicaram nos danos morais indenizáveis, e tendo em vista que sua fixação deve se dar de forma a não gerar indevido enriquecimento por parte daquele que tem direito ao recebimento da compensação, ou mesmo ruína daquele que se vê obrigado a prestá-la, deve ser apreciada agora questão relativa à definição dos valores de indenização como fixados em 1º Grau, valor este que pretende a ré seja reduzido, sendo de se concluir que, nesse tocante, razão igualmente não assista à inconformada, uma vez que o valor da condenação imposto pela R. Sentença, este da ordem de R$ ,00 para cada autora, não se mostrou irrisório, excessivo, ou mesmo desproporcional em relação aos malefícios experimentados por elas, notadamente porque definidos com total observância dos critérios de Apelação nº Voto nº 6

7 proporcionalidade e razoabilidade, levando ainda em consideração o Juízo, o fato de que a reparação pelo dano suportado, este de natureza moral, deve ser compreendida como justa punição aplicada contra aquele que atenta contra a honra, o nome, ou a imagem de outrem, ou mesmo causa a este extrema dor psicológica. Assim, de forma mais pormenorizada, e no que toca ao recurso como intentado, agora examinando de forma ainda mais minuciosa os autos, em verdade se apura que a R. Sentença combatida analisou corretamente todas as questões como suscitadas, motivo pelo qual não possam os vazios reclamos constantes das razões de apelo merecer guarida, devendo, por força de consequência, a R. Decisão como encartada ao feito ser integralmente mantida, o que se dá com base em seus próprios, legítimos, e jurídicos fundamentos, salvo quanto aos honorários advocatícios, que deverão ser majorados para valor equivalente a 20% da condenação, nos termos do art. 85, 11, do CPC. termos do Voto. Pelo exposto, nega-se provimento ao recurso, nos exatos SIMÕES DE VERGUEIRO Relator Apelação nº Voto nº 7