U. 0, RtV') Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desa. Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira

Transcrição

1 U. 0, RtV') Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desa. Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira ACÓRDÃO REMESSA OFICIAL E APELAÇÃO CÍVEL N /001 - CAMPINA GRANDE RELATORA : Des a Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira 1 APELANTE: Município de Campina Grande, representado por seu Prefeito ADVOGADO : Alisson Fabiano Estrela Bonfim 2 APELANTE: Ministério Público, através da Curadoria do Patrimônio Público de Campina Grande 111 APELADOS : Cícero Ramos Diniz e Noêmia Silva Diniz ADVOGADO : Douglas Antério de Lucena REMESSA OFICIAL E APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO. BEM ENCRAVADO EM VIA PUBLICA. ALEGAÇÃO DE IMPOSSIBILIDADE DE USUCAPIÃO. BEM PUBLICO. INOCORRÊNCIA. CONSUMAÇÃO DO PRAZO VINTENÁRIO ANTES DO LOTEAMENTO. DESPROVIMENTO O prazo prescricional de aquisição por usucapião, antes da autorização para o loteamento e criação de via pública, concede ao apelado o direito de adquirir o imóvel por usucapião. VISTOS, relatados e discutidos os autos acima referenciados. ACORD A, a Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, conhecer e negar provimento aos recursos apelatórios e à remessa oficial. O MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE, já qualificado nos autos, interpôs recurso de apelação, irresignado com a decisão proferida pelo Juízo de Direito da ia Vara Cível da Fazenda Pública da Comarca de Campina Grande, que julgou procedente o pedido formulado na ação de usucapião movida pelos recorridos. Alega, o apelante, preliminarmente, a carência da ação, em razão da impossibilidade jurídica do pedido. No mérito, aduz, em suma, que a sentença guerreada merece ser reformada, uma vez que o terreno em litígio consiste na

2 OA no /001 2 continuação da Rua Basílio Araújo, sendo, portanto, um bem público, não sujeito a usucapião, visto que é imprescritível; que o projeto de loteamento que deu origem a rua foi aprovado desde 1963; e que o loteamento aprovado torna a área pública, independentemente de título aquisitivo (fls ). Devidamente intimados, os recorridos apresentaram contra-razões (fls ), alegando que o bem usucapiendo jamais pertenceu ao município de Campina Grande; que os apelados jamais lotearam o imóvel em questão; que o bem particular precisa ser desapropriado para adquirir o caráter público; que o imóvel usucapiendo, quando do termo da prescrição aquisitiva, não fazia parte de nenhum loteamento. Por fim, aduziu que o loteamento é irregular e que não existe nenhum registro do loteamento Acauã, ou mesmo da suposta rua onde estaria encravado o bem. O Ministério Público, por meio da Curadoria do Patrimônio Público de Campina Grande, também interpôs recurso de apelação, irresignado com a decisão atacada, alegando que os recorridos não cumpriram o prazo da prescrição aquisitiva ao tempo do loteamento, levantando, no mais, os mesmos fundamentos que o Município de Campina Grande (fls ). Intimados a oferecer resposta à apelação do Parquet, os apelados apresentaram contra-razões (fls ), pugnando pelo desprovimento do apelo. Parecer da Procuradoria de Justiça, opinando pelo provimento dos recursos, para que seja reformada a sentença, julgando-se improcedente o pedido contido na ação de usucapião (fls ). É o relatório. VOTO: Desa MARIA DAS NEVES DO EGITO DE A. D. FERREIRA Relatora Trata-se de remessa oficial e recursos de apelações interpostos pelo Município de Campina Grande e pela Curadoria do Patrimônio Público de Campina Grande, como litisconsorte, que se insurgem contra sentença que julgou procedente o pedido formulado na ação de usucapião, para reconhecer o domínio dos recorridos no imóvel usucapiendo. A ação de usucapião foi ajuizada tendo como fundamento o art. 550 e ss. do Código Civil de 1916 e o art. 941 e ss. do CPC, alegando, os recorridos, que possuem há mais de 20 (vinte) anos a posse mansa, pacífica e ininterrupta do terreno onde construíram residência e um pequeno comércio. Eis que a ação está bem instruída e descreve devidamente os limites e confrontações do bem, assim como o pagamento das taxas e impostos incidentes sobre o bem, além do fato dos apelados não possuírem outro imóvel. Assim, foram preenchidos os requisitos de ordem processual. Antes de adentrar no mérito, é necessária a análise da preliminar de carência de ação, por impossibilidade jurídica do pedido, argüida pelo primeiro apelante. Eis que tal preliminar não merece ser acolhida. É que foi levantado como fundamento da preliminar o fato do imóvel se encontrar encravado em via pública, não podendo, portanto, sofrer

3 OA no /001 3 usucapião. Eis que tal fundamento confunde-se com o mérito da causa, devendo ser analisado como matéria de mérito, e não processual. Adentrando-se no mérito, o caso trata de uma ação de usucapião, cujo pedido foi julgado procedente, sendo interpostos recursos apelatórios sob a alegação de que o imóvel é um bem público municipal. A essência da questão motiva-se em saber se o imóvel sob litígio é ou não bem público, pois, caso o seja, não estará sujeito à usucapião. Adquire-se um bem por este instituto no momento em que se implementam os respectivos requisitos, todavia, não provada a usucapião anterior à propriedade pública, deve-se julgar improcedente o pedido, porque não se demonstra a usucapião pretendida. Desde logo, ponho-me de inteiro acordo com a respeitável sentença do Juízo a quo, que enfrentou com critério e exatidão a matéria, a qual assim também se confirma pelos seus próprios fundamentos. 111 As razões recursais, não obstante o empenho do procurador, que é sensível, não se sobrepõem, ou superam, de modo algum, as razões da respeitável sentença. Eis que, analisando os autos, verifica-se que o apelado trabalhou para a Cerâmica São José e que, com a morte do antigo proprietário, tal empresa foi vendida e os empregados foram indenizados, sendo que o recorrido foi indenizado por meio do imóvel objeto da ação, como dação em pagamento no ano de Além disso, na época, não existiam ruas no local, uma vez que o referido terreno encontrava-se encravado na fazenda do antigo proprietário da cerâmica e a área era considerada zona rural. Eis que a área da qual o terreno faz parte só foi loteada pelo município de Campina Grande em 1963, sem, no entanto, desapropriar o imóvel sobre o qual, até hoje, a Prefeitura cobra IPTU. 110 Conforme os trechos dos depoimentos das testemunhas, comprovam-se as alegações acima realizadas. Vejamos: "Que conhece os autores há mais de 50 anos; que na época o Sr. Cícero Ramos Diniz já residia no imóvel objeto do pedido de usucapião...; que acha que o imóvel em questão pertencia ao Dr. Jióia da cerâmica; que na época já funcionava a cerâmica acima referida; que o autor era funcionário do Dr. Jióia". (fl. 257). "Que o depoente chegou a esta cidade em 1944, sendo naquela época o autor já residia no imóvel objeto do pedido de usucapião...; que em 1944 já existia uma cerâmica instalada no local; que na época o autor trabalhava na cerâmica do Dr. Jióia" (fl.. 258). Do mais, verifica-se que o município de Campina Grande jamais reivindicou o imóvel objeto do litígio; do contrário, veio cobrando durante esse tempo o IPTU sobre o bem (fls. 15).

4 OA no /001 4 Alega-se que já haveria transcorrido o prazo prescricional de aquisição antes do surgimento do loteameht o Acauã. Vislumbro que tal alegação procede, vez que o possuidor pode unir sua posse à do antecessor, para efeitos legais, conforme se depreende do teor dos arts. 496 e 552, ambos do Código Civil de 1916: "Art O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais." "Art O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a do seu antecessor (art. 496), contanto que ambas sejam contínuas e pacificas." É que, conforme se observa do depoimento da testemunha José Tavares do Rego Filho, acima transcrito, o imóvel pertencia ao dono da Cerâmica antes de 1954, ao menos a partir da data de 1944, quando a testemunha chegou à cidade. Assim, somando-se a posse do antigo proprietário com a posse do apelado, ultrapassa o prazo da prescrição aquisitiva de 20 anos até a data de 1963, quando houve o loteamento. Deste modo, o loteamento é posterior ao fim do prazo de aquisição pelos apelados. Além do mais, o município apelante, ao autorizar o loteamento, que deu origem à via pública, que passa, desde a sua aprovação, por afetação, automaticamente ao domínio público, não adotou as providências ditadas em lei para indenizar os proprietários e possuidores dos imóveis atingidos pelo novo zoneamento urbano, com o fito de abrir a nova rua que perpassa pelo imóvel. Vale ressaltar que, à época do loteamento, o recorrido já era possuidor do bem em questão, onde possui sua residência e um pequeno mercado. Ocorre que a aprovação do loteamento, dada pelo município, dá a este a opção de abrir logradouro, desde que venha a indenizar os possuidores e proprietários dos imóveis, pois a supremacia do interesse público sobre o privado deve respeitar os direitos dos particulares. Por fim, foi informado, pelo cartório imobiliário, que não existe nenhum registro do loteamento Acauã, ou mesmo da rua onde estaria encravado o imóvel litigioso. Com isso, conclui-se que os recorrentes não provaram o direito que alegam, de modo que as razões recursais não superam a fundamentação da respeitável sentença recorrida. Isto posto, nego provimento aos recursos apelatórios e à remessa oficial, mantendo a sentença em todos os seus termos. É como voto. Presidiu a Sessão o Excelentíssimo Desembargador MARCOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, que participou do Julgamento com ESTA RELATORA e com o Excelentíssimo Doutor RODRIGO MARQUES SILVA LIMA, Juiz de Direito Convocado, em substituição à Eminente Desembargadora MARIA DE FÁTIMA MORAES BEZERRA CAVALCANTI.

5 i 1 1, OA no /001 5 n Presente à Sessão, a Excelentíssima Doutora MARIA DE ARAÚJO MELO PORTO, Promotora de Justiça Convocada. Sala das Sessões da Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa/PB, 08 de abril de Desa MARIA DAS NEVES IJ e.ti IT e 'E A. D. FERREIRA Rel. )11ifo I,

6 TRIBUNAL DE JUSTIÇA Coordenadoria Judiciária) Registrado em.)~44