Nº COMARCA DE CRUZ ALTA MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA JOSUÉ EMANUEL DE MATOS SUCESSÃO DE URCINO MATTOS

Transcrição

1 APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO TRIBUTÁRIO. IPTU E CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. EXECUÇÃO FISCAL PROPOSTA CONTRA DEVEDOR JÁ FALECIDO. REDIRECIONAMENTO CONTRA A SUCESSÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 392 DO STJ. A substituição da CDA até a decisão de primeira instância, nos termos do art. 8º, 2º, da Lei nº 6.830/80, somente é facultada na hipótese de erro formal ou material no título executivo. Tratando-se de execução fiscal ajuizada contra devedor já falecido, referente a exercícios posteriores ao óbito, descabe a substituição do pólo passivo pela sucessão. Inaplicabilidade do artigo 43 do CPC. A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução. (Súmula 392 do STJ) REsp /BA, submetido ao regime do art C do CPC. Precedentes do TJRGS e STJ. Apelação a que se nega seguimento. APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE CRUZ ALTA MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA JOSUÉ EMANUEL DE MATOS SUCESSÃO DE URCINO MATTOS APELANTE APELADO APELADO D E C I S Ã O M O N O C R Á T I C A Vistos etc. 1

2 Trata-se de apelação interposta pelo MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA diante de sentença que extinguiu a execução fiscal ajuizada contra URCINO MATTOS, declarando a nulidade do título executivo. Em suas razões, assevera, em apertada síntese, que o óbito do devedor não foi assentado no Registro Civil do Município, o que seria obrigação dos sucessores do executado, devendo execução fiscal prosseguir contra estes, uma vez que são os responsáveis tributários pelo débito. Discorre acerca da legislação pertinente e da presunção de certeza e liquidez das CDAs. Colacionando jurisprudência, requer o provimento do recurso. É o relatório. Com fundamento no art. 557 do CPC, efetuo o julgamento de forma monocrática porque de acordo com a orientação jurisprudencial sobre o tema, admitido o julgamento singular, tendo em vista que o resultado será o mesmo, quer através da decisão monocrática ou em sessão. O exame dos autos revela que o Município ajuizou execução fiscal, em 29/12/2005, contra URCINO MATTOS, proveniente de débitos de IPTU, exercícios de 2000, 2001, 2002, e 2004, conforme CDAs de fls Contudo, foi juntada a certidão de óbito do executado, fl. 31, comprovando que a data do falecimento do mesmo ocorreu em 27/08/1985. Efetivamente, os créditos em questão são de 2000 a 2004, sendo ajuizada a execução em 2005, posteriores ao óbito do executado, ocorrido em 1985, fl. 31. A hipótese é de execução fiscal decorrente de créditos tributários lançados contra pessoa falecida. Não há que se falar em substituição processual, nos termos do art. 43 do CPC, porque não se trata de morte da parte no decorrer do processo, quando seria permitida a substituição pela sucessão, tendo o 2

3 executado falecido anteriormente ao ajuizamento da ação e da própria constituição dos créditos, ausente a legitimidade passiva. Como se vê, não se trata simples tentativa de substituição da CDA em virtude de irregularidade, tampouco de nulidade devido à falta de requisitos, e sim de modificação do devedor, circunstância que equivale à alteração do próprio lançamento, o que não se mostra possível no curso do feito executivo, tornando inaplicável, em face disto, o que dispõe o art. 2º, 8º, da Lei de Execuções Fiscais, prevendo a emenda ou substituição da CDA até a decisão de primeira instância para correção de erro formal ou material no título executivo, situação inocorrente. É o que expressamente prevê a Súmula 392 do STJ, in fine: A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução. Por conseguinte, não obstante a previsão do art do Código Civil, pelo qual Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários., a execução foi proposta diretamente contra o devedor já falecido, levando à extinção do processo sem resolução de mérito. Neste sentido, precedentes desta Corte: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ- EXECUTIVIDADE. IPTU E TAXAS. ILEGITIMIDADE PASSIVA. REDIRECIONAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. EXECUTADO JÁ FALECIDO AO TEMPO DO AJUIZAMENTO DA EXECUÇÃO. Caso concreto em que, quando do ajuizamento da execução fiscal, o executado já era falecido, não se mostrando possível a regularização do sujeito passivo. Súmula 392 do STJ. Precedentes. Hipótese de manutenção da 3

4 extinção da execução, ainda que por fundamento diverso. RECUO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. (Apelação Cível Nº , Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do, Relatora: Des.ª Denise Oliveira Cezar, Julgado em 28/07/2011) AGRAVO. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DECLARA, DE OFÍCIO, A NULIDADE DA EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. MUNICÍPIO DE VACARIA. CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA QUE INDICA COMO DEVEDOR PESSOA CONTRA QUEM FOI AJUIZADA A AÇÃO, A QUAL HAVIA FALECIDO ANTES DA EXPEDIÇÃO DO TÍTULO EXECUTIVO QUE A INSTRUMENTALIZA. PROSSEGUIMENTO DO FEITO EM RELAÇÃO AO ESPÓLIO. DESCABIMENTO. CASO CONCRETO. SUBSTITUIÇÃO DA CDA PARA ALTERAÇÃO DO SUJEITO PASSIVO. IMPOSSIBILIDADE. ENUNCIADO Nº 392 DA SÚMULA DO STJ. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA, RELACIONADA ÀS CONDIÇÕES DA AÇÃO EXECUTIVA. PROCESSO EXTINTO. AGRAVO DE INSTRUMENTO PREJUDICADO. DECISÃO DA RELATORA CHANCELADA PELO COLEGIADO. AGRAVO DESPROVIDO. (Agravo Nº , Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do, Relator: Sandra Brisolara Medeiros, Julgado em 21/03/2012) APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO FISCAL. FALECIMENTO DO EXECUTADO ANTES DA CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO, BEM COMO DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. INAPLICABILIDADE DO ART. 43, DO CPC. INVIÁVEL O REDIRECIONAMENTO DA DEMANDA AO ESPÓLIO OU AOS SUCESSORES, NA FORMA DO ARTIGO 131, II E III, CTN, SOB PENA DE VIOLAÇÃO À SÚMULA 392, DO STJ. Na espécie, o executado, falecido antes do ajuizamento da ação, é parte ilegítima para constar no pólo passivo da demanda que visa à cobrança de créditos tributários constituídos após a sua morte. O exeqüente não pode redirecionar a execução para o espólio ou sucessão do de cujus. APELO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº , Vigésima Primeira Câmara Cível, 4

5 Tribunal de Justiça do, Relator: Marco Aurélio Heinz, Julgado em 25/01/2012) TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL PROPOSTA CONTRA PESSOA FALECIDA. ÓBITO ANTERIOR À CONSTITUIÇÃO DOS CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO PROCESSUAL SUBJETIVO. EXTINÇÃO DO FEITO. Proposta a execução contra pessoa falecida antes mesmo da própria constituição dos créditos executados, correta a extinção do feito sem julgamento do mérito ante a ausência de pressuposto processual subjetivo indispensável à existência da relação processual. (Apelação Cível Nº , Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do, Relator: Des. Armínio José Abreu Lima da Rosa, Julgado em 13/04/2011) repetitivo: A questão restou assentada pelo STJ em sede de recurso PROCESSO CIVIL. RECUO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉIA. ARTIGO 543-C, DO CPC. PROCESSO JUDICIAL TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA (CDA). SUBSTITUIÇÃO, ANTES DA PROLAÇÃO DA SENTENÇA, PARA INCLUSÃO DO NOVEL PROPRIETÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. NÃO CARACTERIZAÇÃO ERRO FORMAL OU MATERIAL. SÚMULA 392/STJ. 1. A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução (Súmula 392/STJ). 2. É que: "Quando haja equívocos no próprio lançamento ou na inscrição em dívida, fazendo-se necessária alteração de fundamento legal ou do sujeito passivo, nova apuração do tributo com aferição de base de cálculo por outros critérios, imputação de pagamento anterior à inscrição etc., será indispensável que o próprio lançamento seja revisado, se ainda 5

6 De igual sorte: viável em face do prazo decadencial, oportunizando-se ao contribuinte o direito à impugnação, e que seja revisada a inscrição, de modo que não se viabilizará a correção do vício apenas na certidão de dívida. A certidão é um espelho da inscrição que, por sua vez, reproduz os termos do lançamento. Não é possível corrigir, na certidão, vícios do lançamento e/ou da inscrição. Nestes casos, será inviável simplesmente substituir-se a CDA." (Leandro Paulsen, René Bergmann Ávila e Ingrid Schroder Sliwka, in "Direito Processual Tributário: Processo Administrativo Fiscal e Execução Fiscal à luz da Doutrina e da Jurisprudência", Livraria do Advogado, 5ª ed., Porto Alegre, 2009, pág. 205). (...) 4. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008. (REsp /BA, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/11/2009, DJe 18/12/2009) PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. SUBSTITUIÇÃO OU EMENDA DA CDA. IMPOSSIBILIDADE. 1. A jurisprudência desta Corte é assente no sentido da possibilidade de se emendar ou substituir a CDA por erro material ou formal do título, até a prolação da sentença de embargos, desde que não implique modificação do sujeito passivo da execução, nos termos da Súmula 392 do STJ. Tal substituição também não é possível quando os vícios decorrem do próprio lançamento e/ou da inscrição. 2. Entendimento ratificado pela Primeira Seção, ao julgar o REsp /BA, sob o regime do artigo 543-C do CPC. 3. Na hipótese dos autos, não se poderia simplesmente permitir a substituição da CDA, ao fundamento da existência de mero erro material no título, pois a aplicação de fundamentação legal equivocada gera a modificação substancial do próprio lançamento tributário. 4. Recurso especial não provido. 6

7 (REsp /RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/02/2011, DJe 10/03/2011) Nessas circunstâncias, somente mediante lavratura de nova CDA e ajuizamento de nova execução pode o credor, em tese, intentar haver o crédito alegado. Deve ser observado que o presente caso é diverso de inúmeros outros que têm sido submetidos a esta Câmara, nos quais, considerando-se que tal aspecto constitui erro formal, e em virtude do art. 2º, 8º, da Lei de Execuções Fiscais, é possível a emenda ou substituição da CDA, oportunizando-se ao credor a regularização do título. Diante do exposto, nego seguimento à apelação. Intimem-se. Porto Alegre, 23 de outubro de DES. CARLOS EDUARDO ZIETLOW DURO, Relator. 7