PROFESSOR: Karla Faria
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- Luiz Gustavo Dinis Melgaço
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1 PROFESSOR: Karla Faria BANCO DE QUESTÕES - LITERATURA - 3ª SÉRIE - ENSINO MÉDIO ============================================================================================= CIDADE PREVISTA Guardei-me para a epopeia que jamais escreverei. Poetas de Minas Gerais e bardos do Alto-Araguaia, vagos cantores tupis, recolhei meu pobre acervo, alongai meu sentimento. O que eu escrevi não conta. O que desejei é tudo. Retomai minhas palavras, meus bens, minha inquietação, fazei o canto ardoroso, cheio de antigo mistério mas límpido e resplendente. Cantai esse verso puro, que se ouvirá no Amazonas, na choça do sertanejo e no subúrbio carioca, no mato, na vila X, no colégio, na oficina, território de homens livres que será nosso país e será pátria de todos. Irmãos, cantai esse mundo que não verei, mas virá um dia, dentro em mil anos, talvez mais... não tenho pressa. Um mundo enfim ordenado, uma pátria sem fronteiras, sem leis e regulamentos, uma terra sem bandeiras, sem igrejas nem quartéis, sem dor, sem febre, sem ouro, um jeito só de viver, mas nesse jeito a variedade, a multiplicidade toda que há dentro de cada um. Uma cidade sem portas, de casas sem armadilha, um país de riso e glória como nunca houve nenhum. Este país não é meu nem vosso ainda, poetas. Mas ele será um dia o país de todo homem. bardos (verso 4) - trovadores (ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião: 10 livros de poesia. 10 ed. RJ: José Olympio, 1980.) 01- O confronto entre as atitudes de ruptura e de continuidade é marca importante do Modernismo brasileiro. No poema "Cidade Prevista", a articulação entre ruptura e continuidade aparece associada à preocupação metalinguística do eu-lírico. Do trecho compreendido entre os versos 3 e 11, retire dois versos que, em confronto, comprovem a afirmação do parágrafo imediatamente acima. R.: Página 1 de 5-11/04/2013-7:14
2 TEXTO 1 Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como o seu sorriso; nem a baunilha rescendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. TEXTO 2 José de Alencar, Iracema. Rio de Janeiro, Letras e Artes, 1965, p. 16. No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar e exclamava: Ai! que preguiça!... E não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau da paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. Mário de Andrade. Macunaíma. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos; São Paulo, Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1978, p Iracema e Macunaíma podem ser considerados personagens representativos de dois momentos fundamentais de construção da identidade da literatura brasileira: o Romantismo e o Modernismo. Tomando por base os fragmentos selecionados, justifique a afirmação acima. R.: 03- A aproximação entre a língua falada e a língua escrita, bem como o uso do registro coloquial marcam a defesa da valorização e incorporação de uma "fala brasileira" à literatura, uma característica do início do movimento modernista. Destaque dois exemplos do Texto 2 que comprovem esse procedimento. Exemplo 1 - Exemplo 2 - O ÚLTIMO POEMA (Manuel Bandeira, Libertinagem) Assim eu quereria meu último poema Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas que tivesse a beleza das flores quase sem perfume A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos A paixão dos suicidas que se matam sem explicação. 04- Neste texto, ao indicar as qualidades que deseja para o "último poema", o poeta retoma dois temas centrais de sua poesia. Um deles é a valorização da simplicidade; o outro é: (A) a verificação da inutilidade da poesia diante da morte. (B) a coincidência da morte com o máximo de intensidade vital. (C) a capacidade, própria da poesia, de eliminar a dor. (D) a autodestruição da poesia com um meio hostil à arte. (E) a aspiração a uma poesia pura e lapidar, afastada da vida Página 2 de 5-11/04/2013-7:14
3 Leia atentamente o texto: VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA Pra me contar as histórias Lá sou amigo do rei Que no tempo de eu menino Lá tenho a mulher que eu quero Rosa vinha me contar Na cama que escolherei Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Aqui eu não sou feliz Tem um processo seguro Lá a existência é uma aventura De impedir a concepção De tal modo inconsequente Tem telefone automático Que Joana a Louca de Espanha Tem alcalóide à vontade Rainha e falsa demente Tem prostitutas bonitas Vem a ser contraparente Para a gente namorar Da nora que nunca tive E quando eu estiver mais triste E como farei ginástica Mais triste de não ter jeito Andarei de bicicleta Quando de noite me der Montarei em burro brabo Vontade de me matar Subirei no pau de sebo Lá sou amigo do rei Tomarei banhos de mar! Terei a mulher que eu quero E quando estiver cansado Na cama que escolherei Deito na beira do rio. Mando chamar a mãe-d água BANDEIRA, Manuel. e outros poemas. Rio de Janeiro: Ediouro, p Pasárgada transubstanciou-se em um espaço utópico, onde o poeta se refugiou de suas derrotas e pôde realizar todos os sonhos e desejos de um adolescente traumatizado pela doença, que lhe marcou a vida e lhe inspirou a produção poética. Dentre as alternativas que se seguem, assinale aquela que NÃO interpreta corretamente o poema: (A) Pasárgada surge como um delicioso refúgio, onde o prazer e a liberdade se tornam infinitos e os desequilíbrios da vida adquirem uma ordem lógica. (B) "" é um poema de evasão e promete resgatar, oniricamente, as ações simples e insignificantes que constituem a rotina de um menino sadio. (C) Em Pasárgada, os loucos e alienados podem assumir livremente suas contradições e fantasias, o que reafirma o caráter excepcional desse reino imaginário. (D) Em "", Manuel Bandeira contrapõe o espaço da utopia ao espaço da realidade e, indiretamente, critica uma civilização opressora e impregnada de falsos valores. (E) A lúdica e encantada Pasárgada não conseguiu abrandar as frustrações do poeta, possibilitando a existência de uma hierarquia que determina as diferenças sociais. PRONOMINAIS Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro 06- Assinale a alternativa que indica a oposição evidenciada nos versos de Oswald de Andrade. (A) professor x aluno. (B) mal x bem. (C) culto x popular. (D) indivíduo x nação. (E) branco x mulato Página 3 de 5-11/04/2013-7:14
4 07- Um escritor classificou Vidas secas como romance desmontável, tendo em vista sua composição descontínua, feita de episódios relativamente independentes e sequências parcialmente truncadas. Essas características da composição do livro: (A) constituem um traço de estilo típico dos romances de Graciliano Ramos e do Regionalismo nordestino. (B) indicam que ele pertence à fase inicial de Graciliano Ramos, quando este ainda seguia os ditames do primeiro momento do Modernismo. (C) diminuem o seu alcance expressivo, na medida em que dificultam uma visão adequada da realidade sertaneja. (D) revelam, nele, a influência da prosa seca e lacônica de Euclides da Cunha, em Os sertões. (E) relacionam-se à visão limitada e fragmentária que as próprias personagens têm do mundo. 08- A Semana de Arte Moderna representou, no panorama cultural da época: (A) A ruptura total com o passado artístico mais recente, no qual nada permitia prevê-la; daí a comoção que causou. (B) O resultado da condensação das aspirações vagas, ainda informes até então, mas perceptíveis na preferência do público em geral. (C) A congregação de tendências que, sob formas várias e nas várias artes, se vinham delineando desde a década anterior. (D) A reação aos ataques que os últimos parnasianos dirigiam contra a obra incipiente dos primeiros modernistas. (E) A decorrência de reelaboração de recursos estilísticos presentes tanto na poesia parnasiana quanto na simbolista. 09- Observe o quadro, Abaporu, de Tarsila do Amaral (1928). (Abaporu ) Esse quadro motivou o surgimento de uma importante corrente do Modernismo brasileiro, denominada: (A) Verde-Amarelismo; (B) Poesia Pau-Brasil; (C) Antropofagia; (D) Concretismo; (E) Futurismo. Acompanho com assombro o que andam dizendo sobre os primeiros 500 anos do brasileiro. Concordo com todas as opiniões emitidas e com as minhas em primeiríssimo lugar. Tenho para mim que há dois referenciais literários para nos definir. De um lado, o produto daquilo que Gilberto Freyre chamou de casa-grande e senzala, o homem miscigenado, potente e tendendo a ser feliz. De outro, o Macunaíma, herói sem nenhuma definição, ou sem nenhum caráter como queria o próprio Mário de Andrade. Fomos e seremos assim, em nossa essência, embora as circunstâncias mudem e nós mudemos com elas. Retomando a imagem literária, citemos a Capitu menina e teremos como sempre a intervenção soberana de Machado de Assis. Um rapaz da plateia me perguntou onde ficaria o homem de Guimarães Rosa outra coordenada que nos ajuda a definir o brasileiro. Evidente que o universo de Rosa é sobretudo verbal, mas o homem é causa e efeito do verbo. Por isso mesmo, o personagem rosiano tem a ver com o homem de Gilberto Freyre e de Mário de Andrade. É um refugo consciente da casa-grande e da senzala, o opositor de uma e de outra, criando a sua própria vereda mas sem esquecer o ressentimento social do qual se afastou e contra o qual procura lutar. É também macunaímico, pois sem definição catalogada na escala de valores culturais oriundos de sua formação racial. Nem por acaso um dos personagens mais importantes do mundo de Rosa é uma mulher que se faz passar por jagunço. Ou seja, um herói ou heroína sem nenhum caráter. Tomando Gilberto Freyre como a linha vertical e Mário de Andrade como a linha horizontal de um ângulo reto, teríamos Guimarães Rosa como a hipotenusa fechando o triângulo. A imagem geométrica pode ser forçada, mas foi a que me veio na hora e acho que fui entendido. Página 4 de 5-11/04/2013-7:14 CONY, Carlos Heitor. Folha de São Paulo, 21 abr Caderno 5. p Os dois referenciais literários definidores de nossa identidade, de acordo com o texto seriam: (A) o produto de Gilberto Freyre e a casa-grande e senzala; (B) a linha horizontal de um ângulo reto e a hipotenusa fechando o triângulo; (C) o homem miscigenado e o herói sem nenhum caráter; (D) o homem de Guimarães Rosa e a mulher que se faz passar por jagunço.
5 GABARITO 01- O traço característico do Modernismo brasileiro é a ruptura com a tradição, através de uma avaliação crítica da abordagem temática e da linguagem literária do passado. 02- Iracema materializa o desejo romântico de representação do índio como símbolo idealizado do herói brasileiro, identificado com a natureza local, corajoso e guerreiro. Já Macunaíma representa uma visão crítica do nacionalismo romântico, uma leitura irônica do modelo de herói idealizado pelo romantismo, um verdadeiro "anti-herói" que rompe com procedimentos estéticos e ideológicos da literatura no século XIX. 03- Exemplo 1 "Já na meninice fez coisas de sarapantar." Exemplo 2 "De primeiro passou mais de seis anos não falando" Exemplo 3 "Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava para ganhar vintém" 04- C 05- E 06- C 07- E 08- A 09- C 10- C MCS/1304BANCO DE QUESTOES/LITERATURA/LITERATURA - 3a SERIE ENSINO MEDIO 1a ETAPA 2013.DOC Página 5 de 5-11/04/2013-7:14
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