1. Princípio do duplo grau de jurisdição.

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1 1. Princípio do duplo grau de jurisdição. Para que os recursos possam ser exercitados, os órgãos jurisdicionais são instituídos segundo o sistema denominado duplo grau de jurisdição, que é uma estrutura hierarquizada, conferindo a alguns órgãos maior autoridade que a outros e o poder conseqüente de modificar decisões por meio dos recursos contra ela apresentados. Amauri Mascaro Nascimento. É o princípio que assegura as partes vencidas na demanda ter a possibilidade de ver a decisão revista por um órgão superior. Uma dos grandes questionamentos trazidos pelo princípio é se há na Constituição Federal de 1988 previsão do duplo grau de jurisdição. Apesar de haver grande divergência doutrinária, filia-se a corrente de que a Constituição apenas garante aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral o contraditório, a ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes (art. 5, LV), o acesso ao Poder Judiciário (LVIII), não fazendo menção, expressa, ao duplo grau. Renato Saraiva 1 confirma a afirmação acima, ao dizer: A Constituição Federal de 1988 não assegura o duplo grau de jurisdição obrigatório, mas garante aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (art. 5.º, LV). apontam: Por outro lado, pode-se ler Sérgio Porto e Daniel Ustárroz 2 que O duplo grau, nesse contexto, conecta-se com o direito de ação e o devido processo constitucional. Processos mais singelos devem ser resolvidos mais rápida e economicamente, podendo-se admitir em tese a exclusão do duplo grau de jurisdição. Contudo, decisões mais graves, que interfiram de forma relevante na vida do cidadão merecem controle mais efetivo, podendo-se alcançar a conclusão de que o devido processo seria ameaçado se evitado o duplo grau nessas hipóteses. 1 SARAIVA, 2009, p PORTO, Sérgio Gilberto; USTÁRROZ, Daniel. Manual dos recursos cíveis. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.

2 2. Princípio da lesividade: O mais básico de todos os princípios. Sua lógica é muito simples, somente se abre a via recursal se a parte tiver sofrido prejuízo, ainda que parcialmente. Ex. O reclamante ingressa com reclamação trabalhista apenas para dar baixa na CTPS para o dia , tendo em vista o fechamento da empresa. Ganha a baixa para o dia pedido. Tem ele o direito de recorrer? Caso o juiz entenda que a baixa é em , tem o direito de recorrer? 3. Princípio da Unirrecorribilidade. Pode também vir a ser conhecido por outros estudiosos do direito como princípio da singularidade ou da unicidade recursal, sendo que o conceito não irá ser diferente. O referido princípio não permite a interposição de mais de um recurso contra a mesma decisão. Sérgio Porto e Daniel Ustárroz 3 : Decorre do princípio da unirrecorribilidade a idéia de que contra cada ato judicial apenas poderá ser manejado um recurso pela parte. Evita-se, assim, a proliferação de inconformidades, tornando o procedimento mais previsível, o que, em última análise, transmitiria ao jurisdicionado maior segurança e propiciaria ao processo maior efetividade pela duração razoável. Diante disso, por exemplo, prolatada a sentença não pode a parte vencida interpor dois recursos ordinários sobre a mesma decisão, ou ainda, não sabendo qual recurso deve interpor, realizar um recurso ordinário e um agravo de petição. Pergunta: um recurso de cada parte infringe o princípio da unirrecorribilidade? 3 PORTO e USTARRÓZ, 2008, p. 57.

3 Preclusão consumativa: desaparece a possibilidade de outras impugnações contra aquela mesma decisão. Pergunta: posso desistir do recurso e interpor outro no lugar? Não. Pergunta: interpus dois recursos? O que acontece? Apenas o primeiro irá ser julgado, o segundo terá sua admissibilidade negada. Exceção: julgamento dos embargos de declaração, com efeito modificativo. A parte poderá interpor outro recurso ou aditar o anteriormente interposto. (cuidar com o posicionamento jurisprudencial). ao dizer: A exceção pode ser confirmada com a leitura de Renato Saraiva 4 Imaginemos a hipótese de sucumbência recíproca, ou seja, sentença com pedidos julgados procedentes em parte. Suponhamos que o reclamante, no 3.º dia após a prolação da sentença, interponha recurso ordinário e o reclamado, no 5.º dia, oponha embargos de declaração com pedido de efeito modificativo. Caso os embargos de declaração sejam providos, modificando-se o julgado, ao reclamante será facultado interpor novo recurso ordinário, ou mesmo aditar o recurso anteriormente interposto, constituindo-se numa exceção ao princípio em destaque. 4. Princípio da fungibilidade ou conversibilidade: permite ao juiz que conheça de um recurso que foi erroneamente interposto como se fosse o recurso cabível. Contudo o recurso equivocadamente interposto em face de outro, por se tratar de um erro dentro do processo, apenas pode ser conhecido quando preenchidos três requisitos, quais sejam, inexistir erro grosseiro, haver dúvida plausível sobre o cabimento do recurso e, por fim, o recurso erroneamente interposto deve obedecer o prazo do recurso que seria o certo. 4 SARAIVA, 2009, p. 512.

4 Este último, prazo menor, é contestado por alguns autores, como Sergio Porto e Ustárroz 5, ao dizerem: Em que pesem estarem os autores convictos acerca da irrelevância do prazo menor, em face da manifesta incoerência de se admitir a dúvida, mas se exigir os requisitos de admissibilidade do recurso dito correto, a jurisprudência ainda registra acórdãos em sentido contrário. Assim, devem ser analisados três requisitos: 1. Inexistir erro grosseiro; 2. Tem que ter dúvida plausível quanto ao recurso cabível; 3. O recurso erroneamente interposto deve obedecer ao prazo do recurso cabível. Orientação Jurisprudencial 69 da SDI II: Nº 69 FUNGIBILIDADE RECURSAL. INDEFERIMENTO LIMINAR DE AÇÃO RESCISÓRIA OU MANDADO DE SEGURANÇA. RECURSO PARA O TST. RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL E DEVOLUÇÃO DOS AUTOS AO TRT. Inserida em Recurso ordinário interposto contra despacho monocrático indeferitório da petição inicial de ação rescisória ou de mandado de segurança pode, pelo princípio de fungibilidade recursal, ser recebido como agravo regimental. Hipótese de não conhecimento do recurso pelo TST e devolução dos autos ao TRT, para que aprecie o apelo como agravo regimental. Súmula nº TST - Res. 137/05 - DJ 22, 23 e Conversão da Orientação Jurisprudencial nº 74 da SDI-II Embargos Declaratórios - Justiça do Trabalho - Decisão Monocrática - Cabimento I - Tendo a decisão monocrática de provimento ou denegação de recurso, prevista no art. 557 do CPC, conteúdo decisório definitivo e conclusivo da lide, comporta ser esclarecida pela via dos embargos de declaração, em decisão aclaratória, também monocrática, quando se pretende tão-somente suprir omissão e não, modificação do julgado. II - Postulando o embargante efeito modificativo, os embargos declaratórios deverão ser submetidos ao pronunciamento do Colegiado, convertidos em agravo, em face dos princípios da fungibilidade e celeridade processual. (ex-oj nº 74 - inserida em ) 5 PORTO e USTÁRROZ, 2008, P. 61.

5 5. Princípio da voluntariedade: A regra do recurso é ser voluntário, ou seja, ninguém pode ser obrigado a interpor um recurso. Ainda, pode a parte que recorreu desistir da interposição do recurso que havia interposto. 6. Princípio da proibição da reformatio in pejus: é vedado ao tribunal, no julgamento de um recurso, proferir decisão mais desfavorável ao recorrente, do que daquela recorrida. Sergio Porto e Daniel Ustárroz 6 apontam: Tendo em vista que a finalidade do recurso é melhorar a posição da parte sucumbente, natural que o direito se preocupe com a possibilidade de o próprio recorrente ter a situação agravada com o novo julgamento. Este risco poderia até mesmo fazer com que o cidadão deixasse de contestar as decisões, o que prejudicaria o controle da atividade jurisdicional e a realização do livre acesso à justiça. Bom exemplo: os recursos das provas dos alunos. Exemplo judicial: sentença condena a reclamada a pagar ao reclamante 40% de insalubridade, mais horas-extras, vale-transporte e deixa de condenar ao pagamento do FGTS. Reclamada recorre, somente ela, para retirar a condenação da insalubridade, das horas-extras, do vale-transporte, e o desembargador condena, através do seu recurso interposto, ao pagamento do FGTS. 7. Princípio da inexigibilidade de fundamentação: Outra regra geral, de suma importância para o processo trabalhista, está insculpida no artigo 899 da CLT que prevê a inexigibilidade de fundamentação, ou seja, os recursos podem ser interpostos por simples petição sem qualquer exigência quanto à fundamentação do apelo. 6 PORTO e USTÁRROZ, 2008, p. 69.

6 Todavia, como bem lembra Sergio Pinto Martins, A inexigibilidade de fundamentação não vige para recursos técnicos em que é preciso demonstrar a violação da lei como ocorre no recurso de revista e nos embargos. Nesse viés de raciocínio, ainda, adverte o autor que a interpretação sistemática da CLT mostra que a exigibilidade de fundamentação só pode ser utilizada nos casos em que empregado ou empregador estiverem postulando na Justiça do Trabalho sem advogado (arts. 791 e 839 da CLT). Os recursos técnicos (recurso de revista, embargos) necessitam de fundamentação. Súmula 422 do TST: RECURSO. APELO QUE NÃO ATACA OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO RECORRIDA. NÃO CONHECIMENTO. ART. 514, II, do CPC. Não se conhece de recurso para o TST, pela ausência do requisito de admissibilidade inscrito no art. 514, II, do CPC, quando as razões do recorrente não impugnam os fundamentos da decisão recorrida, nos termos em que fora proposta. (ex-oj nº 90 - inserida em ) 8. Princípio da motivação: Tendo em vista a precípua finalidade privada dos recursos, que é a melhora da situação do recorrente, impõe o direito que o interessado fundamente de forma adequada a sua impugnação. 9. Princípio da taxatividade: os recursos trabalhistas estão disciplinados, em numerus clausulus, pelo artigo 893 da CLT. Entrementes, há a possibilidade de utilização de recursos que estejam previstos no CPC ao processo laboral, ressalvando que estes terão seus prazos de acordo com o que disciplina o CPC, vale dizer, é o princípio da aplicação subsidiária do CPC. Como exemplos de recursos previstos no CPC, aplicáveis ao processo do trabalho, citamos o recurso extraordinário (prazo de quinze dias consoante determina o art. 508 do CPC); os embargos de declaração (prazo de cinco dias conforme dispõe o artigo 535 do CPC) e o recurso adesivo cuja previsão legal está no artigo 500 do

7 CPC (como o recurso adesivo adere ao principal, seu prazo sempre será o mesmo prazo do recurso principal). Além dos recursos previstos no CPC, também o pedido de revisão previsto na Lei n. 5584/1970, é admissível na Justiça do Trabalho. O prazo para a interposição do pedido de revisão, que não tem efeito suspensivo (art. 2, 2 da Lei n. 5584/1970), é de 48 horas ( 1 do artigo 2 da lei n. 5584/1970). Todos os recursos relacionados estão elencados nas leis processuais, ou seja, estão de alguma forma taxados, disciplinados pela legislação em vigor. Diz Meireles e Dias Borges 7 : Não significa, pelo princípio da taxatividade, que apenas os recursos previstos na Consolidação das Leis do Trabalho possam ser usados pelos operadores do direito processual trabalhista. O que este princípio está a indicar é que os recursos tenham previsão legal. Por conseguinte, um recurso, conquanto não-previsto no texto consolidado, pode ser utilizado nos domínios das lides trabalhistas, diante do que dispõe o art. 769 da CLT. Assim, alguma parte da doutrina poderá dizer que existe um princípio da taxatividade dos recursos trabalhistas no art. 893 da CLT, embora não seja o caso. 10. Princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias: Quais são os atos do juiz: despacho, decisão interlocutória e sentença. Art Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. 1º - Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei. 2º - Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente. 3º - São despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma. 4º - Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessários. 7 MEIRELES e DIAS BORGES, 2009, p. 447.

8 O processo do trabalho traz no artigo 893 a impossibilidade de se recorrer de imediato das decisões interlocutórias, somente permitindo-se a apreciação do seu merecimento em recurso da matéria definitiva. Art º Os incidentes do processo são resolvidos pelo próprio Juízo ou Tribunal, admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões interlocutórias somente em recurso da decisão definitiva Decisão interlocutória. Irrecorribilidade - Decisão Interlocutória. Irrecorribilidade. Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, 1º, da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão: a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, 2º, da CLT. 11. Princípio da uniformidade dos prazos para recursos: O artigo 6º da lei 5.584/1970 estabelece que será de 8 dias a prazo para interpor e contra-arrazoar qualquer recurso trabalhista. Contudo, alguns prazos são diferenciados: RECURSO PRAZO DE INTERPOSIÇÃO E CONTRARRAZÕES Ordinário art. 895 da CLT. 8 dias. Revista art. 896 da CLT. 8 dias. Embargos de declaração art. 897 A. 5 dias somente há contrarrazões se houver pedido de efeito modificativo. Agravo de petição art. 897, a, da 8 dias. CLT. Agravo de instrumento art. 897, b, 8 dias.

9 da CLT. Agravo regimental. Recurso extraordinário art. 102, III, da CF/88 e art. 26 da Lei 8.038/90. Recurso adesivo. Pedido de revisão Lei 5.584/70, art. 2º, 2º. Embargos no TST (infringentes, de nulidade e de divergência), Lei 7.701/88. Depende do regimento interno de cada tribunal. TST: 8 dias. TRTs: 5 ou 8 dias. Não tem contrarrazões. 15 dias. 8 dias. Súmula 283 do TST 48 horas. Não há contrarrazões. 8 dias. 12. Princípio da aplicabilidade imediata da lei nova: A parte não tem direito adquirido a determinado recurso, mas direito de recorrer, de acordo com o recurso que estiver previsto em lei. A lei processual tem aplicação imediata e apanha os processos em curso. Art CPC: Este Código regerá o processo civil em todo o território brasileiro. Ao entrar em vigor, suas disposições aplicar-se-ão desde logo aos processos pendentes. Art. 915 da CLT - Não serão prejudicados os recursos interpostos com apoio em dispositivos alterados ou cujo prazo para interposição esteja em curso à data da vigência desta Consolidação. Decisão saísse em e a parte tivesse 8 dias para recorrer ordinariamente. Em entrasse em vigor lei nova processual reduzindo o prazo para 6 dias, o que aconteceria? E se entrasse em vigor lei dia do mesmo ano reduzindo o prazo do recurso ordinário para 6 dias, qual seria o prazo para recorrer? E se a lei do dia aumentasse o prazo para 15 dias?

10 Aplicabilidade imediata da Lei Nova: Havendo mudança durante o processo, o recurso cabível é o previsto na lei vigente quando prolatada a sentença e não a em vigor no dia da interposição do apelo, salvo se a matéria for de natureza constitucional, quando, segundo o STF, se aplica a lei do dia do recurso. Divergência doutrinária quanto a matéria. 13. Princípio da livre desistência dos recursos: Os titulares do direito de exercer a pretensão impugnativa, as partes ou terceiros podem, em virtude disso, desistir, a qualquer tempo e sem concordância da parte contrária ou dos litisconsortes, do recurso que tenha interposto (art. 501 do CPC). 14. Princípio da instância única nos dissídios de alçada. Em relação as decisões prolatadas nos dissídios de alçada, até dois salários mínimos, não caberão recursos, salvo se a matéria versar sobre a Constituição Federal.