ATIVIDADES DE DESENHO APLICADAS À GEOGRAFIA: O USO DO PONTO DE FUGA PARA O DESENVOLVIMENTO DE NOÇÕES DE ESPAÇO TOPOLÓGICO
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1 ATIVIDADES DE DESENHO APLICADAS À GEOGRAFIA: O USO DO PONTO DE FUGA PARA O DESENVOLVIMENTO DE NOÇÕES DE ESPAÇO TOPOLÓGICO Ms. Diego Moraes Flores DEPED UNICENTRO Campus Santa Cruz. Palavras-chave: Desenho; Ponto de Fuga; Noções Topológicas. INTRODUÇÃO As referências de espaço topológico são os primeiros conceitos trabalhados junto às crianças visando uma relação mais complexa e abstrata do espaço geográfico. Os referenciais, dentro de, fora de, ao lado de, a frente de, perto de, longe de, em cima de e inclinado (oblíquo) são os conceitos mais básicos para o amadurecimento das noções de topologia e podem ser trabalhados, a partir dos anos iniciais e ao longo dos demais anos do ensino fundamental. Nesta fase trabalham-se essencialmente aspectos do plano da percepção (vivencial), como as relações de vizinhança entre os objetos de forma exploratória. Basicamente pode ser utilizar de objetos da própria sala de aula, para explicar tais relações e a disposição destes em um plano. Ou mesmo, utilizar de técnicas de desenho para ampliar o raciocínio reversível e a descentração (ou descentralização) da criança (PIAGET, 1983; PIAGET e INHELDER, 1993; ALMEIDA, 2001; CASTROGIOVANNI, 2000; GUERRERO, 2012; OLIVEIRA, 2005; CASTELLAR, 2005). Para a geografia, o desenvolvimento das noções topológicas é relevante, pois permite na sequência o aprofundamento da aprendizagem geográfica, com a aplicação de noções do espaço projetivo, quando a criança começa a desenvolver o raciocínio operatório concreto (PIAGET, 1983), facilitando a reversibilidade. Ou seja, a capacidade de se entender no espaço, se projetando nele e percebendo que os objetos apresentam partes maiores e menores e lados diferentes (ALMEIDA, 2001; CASTROGIOVANNI, 2000; GUERRERO, 2012; OLIVEIRA, 2005; CASTELLAR, 2005). Estas concepções são importantíssimas, pois funcionarão como base para a criança compreender as noções de espaço euclidiano (noção de coordenadas) nos anos posteriores do ensino fundamental (GUERRERO, 2012). Trabalhar inicialmente as perspectivas topológicas facilita o entendimento de conceitos estruturadores para a alfabetização cartográfica. Como o conceito de visão de uma paisagem a partir de um ponto de vista. Posicionando o observador em relação ao objeto em lugares diferentes, para que este tenha a noção de
2 profundidade e lateralidade. Os três tipos de visão ou posição que devem ser inicialmente trabalhados pelos professores polivalentes nos anos iniciais do ensino fundamental são: a visão frontal ou horizontal; a visão inclinada ou oblíqua e a visão vertical ou de cima. Atividades que contribuam para a compreensão destas visões permitem aos alunos a distinção dos planos de bidimensionalidade e tridimensionalidade da paisagem. Além de permitir o entendimento do posicionamento dos objetos no espaço em diferentes perspectivas (OLIVEIRA, 2005; CASTELLAR, 2005). O uso de técnicas simples de desenhos, além de facilitar a aprendizagem destes conceitos permite a integração de disciplinas (artes e geografia). Tornando o ensino-aprendizagem interdisciplinar e mais prazeroso para os alunos, desafiandoos, mas de maneira compatível a sua fase de desenvolvimento. Como exemplo, apresenta-se aqui, o uso da técnica de perspectiva a partir do ponto de fuga, largamente conhecida no mundo das artes, mas ainda pouco praticada nas aulas geográficas. Objetivou-se a aplicação de desenhos simples de sólidos geométricos, a fim de fornecer ao professor polivalente, a possibilidade de incrementar as aulas e repassar o conhecimento das perspectivas de visão. Estas são importantes para a assimilação de conceitos geográficos que envolvem o plano da percepção (noção topológica) e uma vez aplicada, preparam o aluno para o plano projetivo e euclidiano. DESENVOLVIMENTO A técnica de perspectiva a partir do ponto de fuga cria a ideia de profundidade a partir de quatro fundamentos básicos: O nível do olho (altura onde a pessoa consegue observar o objeto); A linha do horizonte (linha imaginária na qual divide um plano superior de um inferior, exemplo céu e terra em uma imagem); Os pontos de fuga (pontos nas extremidades da linha imaginária ou ao longo dela, que servirão de construção da figura do objeto, quando em perspectiva); As linhas fugantes (linhas que criam o efeito ilusório de três dimensões em um plano bidimensional, elas parecem se unir à medida que convergem para o ponto de fuga sobre a linha do horizonte), (Fig. 1):
3 Figura 1. Montagem de figuras a partir da utilização do ponto de fuga. Em A e C o uso de três pontos, com a linha do horizonte acima do sólido geométrico e a projeção das linhas fugantes formando as arestas dos blocos, possibilitando uma visão do objeto por cima e de forma mais inclinada (oblíqua). Em B, exemplo de visão frontal, com a linha do horizonte na altura da cabeça de quem observa. A linha do horizonte demarca a distância entre o observador e o objeto. Com o uso de um lápis horizontalmente à frente dos olhos da criança é possível explicar a ela, esta ideia. Ou mostrar-lhe, uma imagem de uma paisagem onde a divisão entre o céu e a porção terrestre se separa (linha do horizonte). Mesmo utilizando o desenho para a confecção das visões, é pertinente a movimentação do observador (criança) em relação ao objeto para que este visualize antes, o posicionamento dele, em relação ao objeto a ser desenhado. Na visão frontal ou horizontal, por exemplo, apenas um lado é possível. Já na visão inclinada ou oblíqua é possível perceber a profundidade do objeto em função do deslocamento do observador para um dos lados ou em um plano superior. No desenho esta percepção é dada pela projeção das linhas fugantes, a partir dos pontos de fuga utilizados. A disposição dos pontos de fuga ao longo da linha do horizonte dependerá de como se quer observar o objeto. A demarcação dos pontos nas extremidades da linha facilita uma projeção inclinada. Sua disposição em um ponto específico da linha facilita uma visão lateral permitindo a perspectiva de profundidade. O uso de sombra em lados específicos permite a melhor visualização desta perspectiva (Fig. 2). Figura 2. Visão lateral permitindo a noção de profundidade de um dos lados (topológica) ao
4 observador. O uso do desenho em perspectiva por diversos pontos de vista permite projetar a disposição dos objetos como na realidade. Tanto acima, abaixo, como ao lado, da linha do horizonte, funciona como um ótimo exercício mental aplicado às crianças visando a representação de figuras bidimensionais e tridimensionais (Fig. 3). Figura 3. Exemplo de desenho que pode ser elaborado de objetos componentes do espaço geográfico a partir do uso da técnica do ponto de fuga. A técnica permite o trabalho de aspectos topológicos visando a descentração e entrada em uma noção projetiva do espaço geográfico. O exercício com o ponto de fuga, aplicado a geografia possibilita a ampliação de conceitos topológicos e o desenvolvimento de raciocínio cognitivo reversível (PIAGET e INHELDER; GUERRERO, 2012). Promovendo à criança aos poucos, a noção de relação entre objetos, ordem e sequência espacial. As diversas construções humanas sobre o espaço são fruto das modificações do pensamento humano, contudo, este nível de abstração pela criança, dependerá de como ela assimilará as noções mais elementares do pensamento geográfico, como as noções topológicas básicas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A técnica de desenho através do ponto de fuga não é uma técnica nova ou desconhecida. Aliás, é uma forma, mais que elementar utilizada pela disciplina de artes para expressar posicionamento dos diversos objetos em um plano, configurando tridimensionalidade a este objeto. O uso desta técnica em atividades de ensino deve ser utilizado conjuntamente aos conteúdos de geografia, pois contribui com a descentração e desenvolvimento cognitivo topológico e o desenvolvimento projetivo da criança a
5 partir de diversos pontos de vista. Isso fornecerá a criança elementos estruturadores básicos para compreender uma terceira noção geográfica, conhecida como euclidiana. Que é quando o indivíduo passa a ter a capacidade de posicionar os objetos no espaço e se projetar nele, relacionando os objetos a ele mesmo, através de símbolos e códigos (mapas com legendas, softwares de mapeamentos, etc..). O uso do desenho torna-se, portanto, uma ferramenta valiosíssima para promover a assimilação e acomodação de conceitos geográficos fundamentais. Proporciona também, a ampliação destes conceitos através de uma atividade divertida e instigadora, que imprime no aluno a necessidade de atenção, relativa precisão e foco para fazê-la. Permite ao professor polivalente, outra forma de trabalhar conteúdos diversos em uma mesma atividade, atribuindo ao seu trabalho um significado específico, em relação ao processo de ensino e aprendizagem. Desta forma, a base, para a organização espacial cognitiva de um adulto dependerá e muito de como estas noções iniciais de topologia são trabalhadas já nos anos iniciais do ensino fundamental. Pois estas noções permitirão, uma vez bem trabalhadas, ao adulto alfabetizado geograficamente, se localizar e se orientar, utilizando referenciais não apenas concretos, mas sobretudo, abstratos. REFERÊNCIAS ALMEIDA, R. A. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. São Paulo: Contexto, 2001 (Coleção Caminhos da Geografia). ; PASSINI, E. O espaço geográfico: ensino e representação. 10 ed. São Paulo: Contexto, 2001 (Coleção Repensando o Ensino). CASTELLAR, S. M. V. Educação geográfica: a psicogenética e o conhecimento escolar. In:, (Coord.). Caderno Cedes, Campinas, Cedes, v. 25, n. 66, p , CASTROGIOVANNI, A. C. Apreensão e compreensão do espaço geográfico. In:, (Org.). Ensino de Geografia: práticas e textualizações do cotidiano. 2. Ed. Porto Alegre: Mediação, GUERRERO, A. L. A. Alfabetização e letramento cartográficos na geografia escolar. São Paulo: Edições SM, Somos Mestres. OLIVEIRA, L. A construção do espaço segundo Piaget. Sociedade e Natureza, Uberlândia, Ed. da UFU, v. 17, n. 33, PIAGET, J. A representação do mundo na criança. Trad, Adall Ubirajara Sobral. Aparecida: Ideias e Letras, Problemas de psicologia genética. São Paulo: Abril, 1983 (Coleção, Os Pensadores). ; Inhelder, B. A representação do espaço na criança. Trad. Bernardina Machado de Albuquerque. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
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