TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Campos do Jordão, em que é apelante PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPOS DO JORDÃO, é apelado MUSIC MART COMERCIAL LTDA. ACORDAM, em 15ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ERBETTA FILHO (Presidente sem voto), EUTÁLIO PORTO E RAUL DE FELICE., 14 de setembro de FORTES MUNIZ RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Apelante: Prefeitura Municipal de Campos do Jordão Apelado: Music Mart Comercial Ltda Comarca: Campos do Jordão Voto nº 9575 IPTU Área urbana Ausência dos melhoramentos previstos no art. 32, 1º do CTN Perícia Imóvel não situado em loteamento Inexigibilidade do tributo RECURSO NÃO PROVIDO Trata-se de recurso de apelação interposto contra a r. sentença de fls. 183/190, que julgou procedente o pedido de MUSIC MART COMERCIAL LTDA, declarando nulos os lançamentos de IPTU por ausência dos melhoramentos previstos no art. 32 do CTN. A Fazenda Pública foi condenada à repetição do indébito e ao pagamento das custas e despesas processuais, além de honorários advocatícios fixados em 10% do valor da condenação. Recorre a Fazenda Pública, a fls. 197/205, alegando que ainda que não fosse servido pelos melhoramentos contidos nos incisos do 1º do art. 32 do CTN, o imóvel em questão pode ser considerado em área urbanizável, de acordo com o 2º, para fins de incidência do IPTU, sendo, portanto, regular a cobrança do referido imposto. Recurso tempestivo, recebido em seus regulares Apelação nº Voto nº 2

3 efeitos pela decisão de fls A parte apelada apresentou contrarrazões de fls.210/212 nas quais pleiteia, em síntese, a manutenção da sentença recorrida. É o relatório. I. Trata-se de ação declaratória de inexistência de relação jurídico-tributária e de nulidade de lançamentos de IPTU proposta por MUSIC MART COMERCIAL LTDA contra MUNICÍPIO DE CAMPOS DO JORDÃO, sob o fundamento de que o autor é proprietário de um terreno situado na zona urbana do município, mas que tal área não possui nenhuma infraestrutura básica, ou seja, não é atendida por nenhum dos melhoramentos urbanos previstos nos incisos de 1º do art. 32 do CTN, de modo que o IPTU é inexigível no presente caso. Restou incontroverso no caso que o imóvel situa-se em área urbana, cingindo-se a discussão sobre a necessidade de coexistência de dois ou mais melhoramentos urbanos previstos nos incisos de 1º do art. 32 do CTN para que seja exigível o IPTU. O IPTU tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem móvel, localizado na zona urbana do Município, ou consideradas como de expansão urbana pela lei municipal. Nesse sentido: A zona urbana é conceituada no CTN (art. 32, 1º e 2º): 1º Para os efeitos deste imposto, entende-se como zona urbana a definida em lei municipal, observado o requisito mínimo da existência de melhoramentos indicados em pelo menos dois dos incisos seguintes, construídos ou mantidos pelo Poder Público: Apelação nº Voto nº 3

4 I meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais; II abastecimento de água; III sistema de esgotos sanitários; IV rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar; V escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel construído. 2º A lei municipal pode considerar urbanas as áreas urbanizáveis, ou de expansão urbana, constantes de loteamentos aprovados pelos órgãos competentes, destinados à habitação, à indústria ou ao comércio, mesmo que localizados fora das zonas definidas nos termos do parágrafo anterior. Nessa situação, podem enquadrar-se (a) as áreas pertencentes a parcelamentos de solo regularizados pela Administração Municipal, mesmo que executados irregularmente; (b) as áreas pertencentes a loteamentos aprovados de conformidade com a legislação; (c) as áreas de conjuntos habitacionais, aprovados e executados nos termos da legislação pertinente; e (d) as áreas com uso ou edificação aprovada de acordo com a legislação urbanística de parcelamento, uso e ocupação do solo e de edificações. Os parâmetros estabelecidos pelo CTN para efeito de abrangência de zona urbana têm sido analisados sob as óticas seguintes: (a) a juridicidade é fundamentada na circunstância de que compete à lei nacional dispor sobre conflitos de competência em matéria tributária (art. 146, I, CF), estabelecendo os âmbitos de incidência sobre os bens imóveis para efeitos do IPTU (zona urbana) e do ITR (zona rural); (b) a legitimidade é contestada pelo fato de que o CTN estaria ferindo o princípio da autonomia municipal, além de a própria CF trazer de forma implícita a de imóveis rurais (próprio do campo) em oposição a urbanos (próprio da cidade), utilizando-se o critério da localização Incide o IPTU sobre as áreas consideradas como de expansão urbana por lei municipal, mesmo quando não providas dos melhoramentos previstos no art. 32, 1º, do CTN. 1 Inicialmente, é de se destacar que o imóvel descrito na inicial, não é utilizado em exploração extrativa, vegetal, pecuária ou agroindustrial, estando sujeito, portanto, à incidência do IPTU. Porém, para ser considerado inserido em área urbana, 1 PAULSEN, Leandro; Impostos federais, Estaduais e Municipais; 7ª ed; Porto Alegre: Livraria do Advogado; 2012 Apelação nº Voto nº 4

5 conforme se depreende do artigo 32, caput e 1º, do Código Tributário Nacional, a cobrança de IPTU está condicionada ao oferecimento, pelo Município, de uma infraestrutura mínima a guarnecer o imóvel tributado, consistente em pelo menos dois melhoramentos urbanos.. No presente caso, a perícia de fls. 136/168 apurou que o imóvel de interesse é atendido somente pelo disposto no inciso V escola primária a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros, de modo que a Fazenda Pública não pode exigir o IPTU sobre o bem., como concluiu o perito, in verbis: Realizado os estudos necessários, bem como vistoria, in loco, com observação aos fatos existentes, baseados nas fundamentações descritas, em relação às causas observadas se Rural ou Urbano concluo que conforme CTN Código Tributário Nacional - Lei nº de 25 de Outubro de 1966; Que dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios que a Gleba de Terra com área de ,00 m2, situada na região Ermitage, em Descansópolis ; De acordo com o 1º Para os efeitos deste imposto, entende-se como zona urbana a definida em lei municipal; observado o requisito mínimo da existência de melhoramentos indicados em pelo menos 2 (dois) dos incisos, construídos ou mantidos pelo Poder Público; Item 04 do laudo, pg. 16. Conforme consta o Município só atende um inciso o de nº V - escola primária a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel considerado; De acordo com o exposto a Gleba de Terra com área de ,00 m², seria uma Gleba Rural. Mas conforme Legislação Municipal; LEI 1734/89 que dispõe sobre a ampliação e consolidação da Zona Urbana do Município de Campos do Jordão e LEI Nº 3.049/07 DE 02 DE MAIO DE Que dispõe sobre o Zoneamento de Uso e Ocupação do Solo do Município. Alterada pela Lei 3119/2008; A Gleba de Terra Identificada no ANEXO 04, conforme Planta de Zoneamento, com as respectivas coordenadas georeferenciadas, inseriu e classificou a Gleba de Terra como Urbana. Em suma, ante a inexistência de pelo menos dois dos requisitos mínimos de melhoria para efeito do lançamento do IPTU e diante dos documentos acostados aos autos, conclui-se que o imóvel não está Apelação nº Voto nº 5

6 sujeito ao pagamento do IPTU, por não inserir-se nas condições do art. 32, 1º do CTN. Nesse sentido, inclusive, já decidiu esta Câmara de Direito Público, ao julgar caso análogo: TRIBUTO Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) Exercícios de 2002 e 2003 Município de Campinas Ação Anulatória julgada improcedente Ausência dos melhoramentos previstos no 1º do art. 32 do CTN, segundo apurado pelo perito judicial - Recurso provido. 2 Logo, a r. sentença merece ser mantida por seus próprios fundamentos, a teor do art , do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de Por fim, aplicando-se a nova sistemática para o arbitramento dos honorários em grau recursal, arcará o apelante com as custas e despesas processuais, bem como honorários advocatícios os quais se fixa, em 15% do valor do proveito econômico por obtido pela parte vencedora, nos termos do que dispõe o art. 85, 2º, 3º, I e 11, do CPC de recurso da Fazenda Pública. II. Posto isto, pelo meu voto, nego provimento ao FORTES MUNIZ Relator 2 TJSP; Apelação ; Relator (a): Erbetta Filho; Órgão Julgador: 15ª Câmara de Direito Público; Foro de Campinas - 2ª. Vara da Fazenda Pública; Data do Julgamento: 13/07/2017; Data de Registro: 17/07/ Nos recursos em geral, o relator poderá limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão recorrida, quando, suficientemente, houver de mantê-la. Apelação nº Voto nº 6