TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADO DO PARANÁ

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1 Certificado digitalmente por: LUCIANO CARRASCO FALAVINHA SOUZA TRIBUNAL DE JUSTIÇA do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba Vara de Registros Públicos e Corregedoria do Foro Extrajudicial. Apelante: Luciana Mina Hashimoto. Interessados: Henrique Yuji Yamamoto e outro (representados). Relator: Luciano Carrasco Falavinha Souza em substituição ao Desembargador Mário Helton Jorge. Apelação Cível. Retificação de Registro Civil. Sentença de improcedência. Pretensão de inclusão do patronímico do cônjuge varão após a celebração do casamento. Possibilidade. Desiderato não sujeito a preclusão temporal. Observância dos artigos 1565, 1º do Código Civil e 109 da Lei 6.015/73. Precedentes jurisprudenciais. Decisão reformada. 1. (...) Dada a multiplicidade de circunstâncias da vida humana, a opção conferida pela legislação de inclusão do sobrenome do outro cônjuge não pode ser limitada, de forma peremptória, à data da celebração do casamento. Podem surgir situações em que a mudança se faça conveniente ou necessária em período posterior, enquanto perdura o vínculo conjugal. Nesses casos, já não poderá a alteração de nome ser procedida diretamente pelo oficial de registro de pessoas naturais, que atua sempre limitado aos termos das autorizações legais, devendo ser motivada e requerida perante o Judiciário, com o ajuizamento da ação de retificação de registro civil prevista nos arts. 57 e 109 da Lei 6.015/73. Trata-se de procedimento judicial de jurisdição voluntária, com participação obrigatória do Ministério Público. (REsp /SC, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 04/09/2012, DJe 19/06/2013). 2. Recurso conhecido e provido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível nº , da Vara de Registros Públicos e Corregedoria do Foro 1 Página 1 de 8

2 Extrajudicial do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em que é apelante Luciana Mina Hashimoto e interessados Henrique Yuji Yamamoto e Guilherme Ryu Yamamoto (representados). 1. Trata-se de recurso de apelação cível interposto pela autora Luciana Mina Hashimoto, contra a sentença 1 prolatada nos autos da Ação de Alteração de Registro Civil nº que: a) homologou a desistência manifestada no (e.doc. 14), julgando extinto o processo sem resolução de mérito em relação ao menores Henrique Yuji Yamamoto e Guilherme Ryu Yamamoto (representados) e b) julgou improcedente o pedido de retificação de registro civil formulado pela autora, no intuito de ver acrescido ao seu nome o patronímico de seu cônjuge Yamamoto, condenando-a ainda ao pagamento das custas processuais. Em sua tese recursal (e.doc. 29) a recorrente alega que muito embora tenha optado pela manutenção de seu nome de solteira quando da celebração do matrimônio, faz jus ao acolhimento da pretensão a fim de ver acrescido ao seu nome o sobrenome do cônjuge varão. Sustenta que a Lei de Registros Públicos prevê em seu art. 57, exceções à regra de imutabilidade do nome, desde que haja justo motivo para tal formulação. No caso em comento, está plenamente justificado o intento da recorrente, já que em decorrência do nascimento dos filhos (que adotaram somente o sobrenome paterno), não é possível saber se a recorrente é mãe ou madrasta dos infantes, já que nos respectivos registros não consta o patronímico materno, tampouco ela carrega o do seu cônjuge. 1 e.doc Página 2 de 8

3 Por fim, colacionando precedentes jurisprudenciais favoráveis a sua tese, requer a reforma da sentença a fim de que se julgue procedente o pedido exordial para permitir a alteração do seu nome de casada, passando a chamar-se Luciana Mina Hashimoto Yamamoto. Sem comprovante de preparo recursal por força do benefício da gratuidade processual concedida no (e.doc. 11). O recurso foi recebido em seu duplo efeito (e.doc. 32). Ofertadas contrarrazões (mov. 38) pelo não conhecimento do recurso por intempestividade e, no mérito, pelo não provimento do apelo. A Procuradoria Geral de Justiça, por intermédio do parecer lançado às fls. (12-16) se pronunciou pelo conhecimento e provimento do recurso. 2. De chofre, é caso de rejeição da preliminar de intempestividade arguida pelo Ministério Público. Consoante se vê, a sentença de improcedência foi prolatada em 14/12/ e dela a parte autora intimada em 23/01/2016 (sábado) 3, iniciando-se o prazo recursal em 26/01/2016, ex vi o disposto nos artigos 184, I e 2º e 506, II, ambos do CPC/1973. Sendo assim, o prazo recursal de 15 dias (art. 508 do CPC/73) iniciado em 26/01/2016 (terça-feira), findou em 09/02/2016 (terça-feira, 2 (e.doc. 24). 3 (e.doc. 27). 3 Página 3 de 8

4 feriado de carnaval), postergando-se ao primeiro dia útil subsequente, portanto, dia 10/02/2016, data de protocolo do recurso de apelação. Por tais razões, não constatada a alegada intempestividade recursal, rejeito a preliminar suscitada pelo Ministério Público. Quanto ao mérito, merece prosperar a insurgência recursal. Realmente, de acordo com o que dispõe o art. 1565, 1º do Código Civil , é possível que qualquer dos nubentes acresça ao seu o sobrenome do outro. A Lei de Registros Públicos (L /1973), por seu turno, prevê em seu artigo a possibilidade de retificação do assento no registro civil, contanto que haja pedido fundamentado e devidamente instruído, além de ouvido o Ministério Público. No caso em apreço, todos estes requisitos foram cumpridos. Em que a pese a recorrente tenha optado por não adotar o patronímico do cônjuge varão no momento da celebração do casamento, nada a impede que opte por fazê-lo em momento posterior enquanto perdurar o vínculo conjugal, já que tal desiderato não se sujeita a preclusão temporal, nos termos da orientação jurisprudencial do Superior Tribunal Justiça, a qual me alio: 4 Art Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família. 1 o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro. 5 Art Quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento no Registro Civil, requererá, em petição fundamentada e instruída com documentos ou com indicação de testemunhas, que o Juiz o ordene, ouvido o órgão do Ministério Público e os interessados, no prazo de cinco dias, que correrá em cartório. 4 Página 4 de 8

5 RECURSO ESPECIAL. CIVIL. REGISTRO PÚBLICO. DIREITO DE FAMÍLIA. CASAMENTO. ALTERAÇÃO DO NOME. ATRIBUTO DA PERSONALIDADE. ACRÉSCIMO DE SOBRENOME DE UM DOS CÔNJUGES POSTERIORMENTE À DATA DE CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO E DA LAVRATURA DO RESPECTIVO REGISTRO CIVIL. VIA JUDICIAL. POSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. 1. O art , 1º, do Código Civil de 2002 autoriza a inclusão do sobrenome de um dos nubentes no nome do outro, o que se dá mediante solicitação durante o processo de habilitação, e, após a celebração do casamento, com a lavratura do respectivo registro. Nessa hipótese, a alteração do nome de um ou de ambos os noivos é realizada pelo oficial de registro civil de pessoas naturais, sem a necessidade de intervenção judicial. 2. Dada a multiplicidade de circunstâncias da vida humana, a opção conferida pela legislação de inclusão do sobrenome do outro cônjuge não pode ser limitada, de forma peremptória, à data da celebração do casamento. Podem surgir situações em que a mudança se faça conveniente ou necessária em período posterior, enquanto perdura o vínculo conjugal. Nesses casos, já não poderá a alteração de nome ser procedida diretamente pelo oficial de registro de pessoas naturais, que atua sempre limitado aos termos das autorizações legais, devendo ser motivada e requerida perante o Judiciário, com o ajuizamento da ação de retificação de registro civil prevista nos arts. 57 e 109 da Lei 6.015/73. Trata-se de procedimento judicial de jurisdição voluntária, com participação obrigatória do Ministério Público. 3. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp /SC, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 04/09/2012, DJe 19/06/2013). Convém destacar que a Corte paranaense em outras oportunidades já se manifestou pelo deferimento de pretensões semelhantes. A propósito: DIREITO PROCESSUAL CIVIL E REGISTROS PÚBLICOS.APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARA ACRESCER AO SOBRENOME DA AUTORA O PATRONÍMICO 5 Página 5 de 8

6 DO MARIDO.AUSÊNCIA DE PRECLUSÃO TEMPORAL PARA O DESIDERATO. JUSTIFICATIVA IDÔNEA. IDENTIFICAÇÃO PERSONALÍSSIMA DA ENTIDADE FAMILIAR.INTERPRETAÇÃO CONJUNTA DA REGRA DOS ARTS. 109, DA LEI DE REGISTROS PÚBLICOS (LEI Nº 6.015/1.973) E ART , DO CÓDIGO CIVIL.1. Não obstante seja de estilo a adoção do patronímico do cônjuge por ocasião da celebração do casamento, a lei não impede taxativamente que não possa ocorrer em momento posterior, justamente porque não há limitação às hipóteses de modificação do nome, cujo pedido será levado sob justificativa à apreciação judicial.2. Em sendo manifesto o interesse na adoção do patronímico do marido, inclusive como forma de identificação da família no meio social, não há por que privarem-se as pessoas desse direito personalíssimo.recurso DE APELAÇÃO CÍVEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - 12ª C.Cível - AC Curitiba - Rel.: Ivanise Maria Tratz Martins - Unânime - J ). APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL - PEDIDO DE INCLUSÃO DO PATRONÍMICO DE SOLTEIRA AO LADO DO SOBRENOME DO MARIDO - VIABILIDADE - MERA INCLUSÃO QUE NÃO AFETA A IDENTIFICAÇÃO DA AUTORA NEM CAUSA PREJUÍZOS A TERCEIROS - PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA - NOME COMO EXPRESSÃO DA PERSONALIDADE - PRINCÍPIO DA IMUTABILIDADE DO NOME - RELATIVIDADE - SENTENÇA REFORMADA.- O nome da pessoa natural é elemento revelador de sua personalidade e, portanto, de sua trajetória pessoal no decorrer da vida, razão pela qual poderá ser alterado quando não houver prejuízos à identificação do indivíduo. APELO CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR - 12ª C.Cível - AC Curitiba - Rel.: Angela Maria Machado Costa - Unânime - J ). Outrossim, vale ressaltar que o acolhimento da pretensão exordial não é passível de ensejar prejuízo à terceiros e muito menos à identificação da recorrente, já que as certidões acostadas (e.docs. 1.4 e 1.5) apontam para a inexistência de pendências registradas em seu nome e a 6 Página 6 de 8

7 alteração pretendida visa apenas e tão somente o acréscimo de um sobrenome (sem nenhuma supressão). De outro lado, a lei civil não prevê a renunciabilidade do direito de acrescer o nome do outro cônjuge no momento do casamento; se a lei nada prevê, não há que se falar em impossibilidade, portanto, ausente qualquer prejuízo. Enfim, como refere a doutrina de Mário Luiz Delgado: O Novo Código Civil, por sua vez, trouxe norma expressa de proteção ao direito da identidade, que abrange o nome, o prenome, o nome dos pais ou patronímico, o gentílico ou nome de família, o sobrenome adquirido pelo casamento ou por adoção e ainda quaisquer outros sinais identificadores da pessoa 6. Nesse contexto, é inegável concluir que a sentença hostilizada viola direito da personalidade da apelante, preceito constitucional lhe assegurado. Veja-se que no divórcio pode um dos cônjuges permanecer com o nome do outro, o que consagra mais uma vez o equívoco do que se decidiu. Forte nestes argumentos, voto no sentido de conhecer e dar provimento ao recurso para, reformando a sentença, julgar procedente o pedido exordial e autorizar a retificação do assento civil da recorrente de Luciana Mina Hahimoto, para Luciana Mina Hashimoto Yamamoto. É o voto. 6 Direitos da Personalidade nas relações de família, Família e Dignidade Humana. Coord. Rodrigo Cunha Pereira, IBDFam, 2006, p Página 7 de 8

8 3. Acordam os Desembargadores e Juízes integrantes da Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos em conhecer e dar provimento ao recurso. O julgamento foi presidido pela Desembargadora Ivanise Maria Tratz Martins, com voto, e dele participou o Desembargador Luís Espíndola, além do relator. Curitiba, 08 de fevereiro de Luciano Carrasco Falavinha Souza Relator 8 Página 8 de 8