Tribunal de Justiça do Estado do Paraná Décima Primeira Câmara Cível

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1 Certificado digitalmente por: LUCIANE DO ROCIO CUSTODIO LUDOVICO Tribunal de Justiça do Estado do Paraná APELAÇÃO CÍVEL Nº VARA DE REGISTROS PÚBLICOS DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA. APELANTE: RGB ADMINISTRADORA DE BENS LTDA. APELADA: ELIANE TEIXEIRA REYNAUD QUINTÃO. RELATORA: JUÍZA SUBST. 2º GRAU LUCIANE R. C. LUDOVICO (EM SUBSTITUIÇÃO AO DES. DALLA VECCHIA). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE ÁREA EM REGISTRO DE IMÓVEIS. DISCORDÂNCIA DE CONFRONTANTE MANIFESTADA EM PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. DÚVIDA A RESPEITO DA SOBREPOSIÇÃO DE ÁREAS. DECISÃO QUE REMETE AS PARTES ÀS VIAS ORDINÁRIAS. PETIÇÃO INICIAL INDEFERIDA EM CONFORMIDADE COM O ART. 295, V, CPC/73. NECESSIDADE DE OPORTUNIZAR À PARTE O DIREITO DE PROVAR A SUA TESE. DECISÃO REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Vistos e examinados, estes autos de Apelação Cível nº , da VARA DE REGISTROS PÚBLICOS DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA em que é Apelante RGB ADMINISTRADORA DE BENS LTDA. e Apelada ELIANE TEIXEIRA REYNAUD QUINTÃO. I. RELATÓRIO. Trata-se de Apelação Cível interposta por RGB ADMINISTRADORA DE BENS LTDA. em face da r. sentença proferida nos autos de Ação Ordinária de Retificação de Imóvel nº , pela qual o Juízo a quo indeferiu a petição inicial com fulcro nos artigos 295, inciso V, e 267, inciso I, do Código de Processo Civil de 1973, por entender que, à medida em que se alega a existência de sobreposição de área, sendo até mesmo defendida a tese de usucapião, a pretensão extravasa os limites da ação de retificação, não sendo lícito o reconhecimento de direito real de qualquer das partes litigantes em sede registral. 1 Página 1 de 5

2 Em suas razões, o Apelante sustenta em síntese que: a) a lide não trata de questão referente à propriedade, mas de pretensão de efetivar retificação de registro imobiliário, impugnado pela proprietária do imóvel vizinho, por haver discordância quanto à área do imóvel; b) a sentença deve ser reformada, vez que está ocorrendo conflito negativo de competência; c) a medida cabível é ação ordinária de Retificação e não a Demarcatória. O recurso foi recebido em seu efeito devolutivo e suspensivo (mov. 25.1). As contrarrazões foram apresentadas pelo Ministério Público (mov. 31.1), requerendo o conhecimento e desprovimento do recurso. Vieram os autos a este Tribunal. Nesta Instância, a Douta Procuradoria da Justiça entendeu pela desnecessidade de sua intervenção no feito (fls. 12/13). II. VOTO. É, em síntese, o relatório. Insta salientar, de início, que, em respeito ao enunciado administrativo nº 2, do Superior Tribunal de Justiça, o presente recurso deverá ser julgado nos moldes do CPC/73 1. Estão presentes os pressupostos processuais intrínsecos (legitimidade, interesse, cabimento e inexistência de fato impeditivo ou extintivo) e extrínsecos (tempestividade e regularidade formal), como condição irrefutável ao conhecimento do recurso. A Autora/Apelante ajuizou pedido de retificação de registro imobiliário em face de proprietária confrontante, postulando ordem de abertura de matrícula individualizada dos lotes F-1 e D-3 e retificação da área, nos moldes do croqui e laudo apresentados com a inicial, independente do consentimento da parte Ré. Os autos foram distribuídos à 25ª Vara Cível da Região Metropolitana de Curitiba, entretanto, o Magistrado declarou sua incompetência, sob o fundamento de que o juízo competente para processar e julgar as causas referentes a registros públicos, mesmo as contenciosas, é da Vara de Registros Públicos, determinando, por isso, a remessa dos autos. 1 Enunciado administrativo número 2 - Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Página 2 de 5 2

3 Recebido o processo, a Magistrada do Juízo especializado indeferiu a petição inicial conforme mencionado em relatório. Registre-se, ainda, que antes de ajuizar a ação ordinária, pretensão semelhante já havia sido buscada junto ao Oficial do Registro Imobiliário e, consultado o Juízo, foi rejeitada pelo Juízo da Vara de Registros Públicos sob o seguinte fundamento (mov do Projudi): Extrai-se dos autos que o sr. Registrador encaminhou a este Juízo, a pedidos dos envolvidos e nos termos do artigo 213, II, Parágrafo 6º., da Lei n.6.015/73, documentação referente a pretensas retificações administrativas, que restaram impugnadas. Após manifestação do Ministério Público, determinou-se a oitiva da parte autora, tendo sido intimado o sr. Registrador a se manifestar. Todavia, em atenção ao princípio da celeridade, entendo que merece acolhimento o douto parecer ministerial acostado ao movimento Projudi. 15.1, o qual adoto por brevidade como fundamento e razão de decidir, determinando a remessa das partes às vias ordinárias a fim de dirimir a questão do direito de propriedade, já que o colacionado aos autos não trata de mera retificação de registro imobiliário. A ação que deu origem ao recurso nada mais é que do que um pedido de retificação contencioso. Sem razão, todavia, a MM. Juíza sentenciante ao indeferir a inicial. Sabe-se que o procedimento de retificação do registro do imóvel se aplica aos casos em que, dentro das divisas originais do imóvel, forem encontradas áreas ou outras informações sobre as quais exista divergência entre a realidade e o registro imobiliário. Caso haja impugnação de um dos confrontantes e as partes não formalizarem acordo para solucioná-la, o oficial remeterá o processo ao juiz competente, todavia, se a lide envolver divergência sobre direito de propriedade, os autos serão remetidos às vias ordinárias 2. 2 Lei 6.015/73. Art O oficial retificará o registro ou a averbação: II - a requerimento do interessado, no caso de inserção ou alteração de medida perimetral de que resulte, ou não, alteração de área, instruído com planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente habilitado, com prova de anotação de responsabilidade técnica no competente Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura - CREA, bem assim pelos confrontantes. Página 3 de 5 3

4 Foi o que inicialmente fez o Juízo da Vara de Registros Públicos. Ocorre que a Apelante, ao procurar as vias ordinárias, em que pese ter abordado diversos assuntos relativos à propriedade, que, segundo seu entendimento, amparariam o direito à retificação mesmo com acréscimo de área, sustentou, num primeiro momento, que não há sobreposição de áreas, discordando, portanto, da tese manifestada pela confrontante na esfera administrativa -. Eis o trecho da petição inicial: AQUISIÇÃO DO IMÓVEL DA RÉ - AD CORPUS Em suma, a Ré baseia sua impugnação no croqui 4650 da Secretaria Municipal de Urbanismo (fls. 104 do processo judicial de retificação), enquanto a Autora baseia - se na metragem do imóvel intramuros e que está consubstanciada no croqui 5083 e 5376, da Secretaria Municipal de Urbanismo (em anexo). Qual seria o correto? Os croquis 5083 e 5376 ou o croqui 4650? Veja-se que realmente existe uma divergência entre os croquis. Porém, não há como dizer qual dos croquis está correto. E nem se poderia aplicar um croqui em detrimento do outro, favorecendo a Autora ou a Ré, com base exclusivamente nesses documentos. O remédio para que essas divergências sejam regularizadas é o procedimento de retificação administrativa, que serve justamente para que a documentação reflita a REALIDADE FÁTICA! Como visto, a Ré tenciona fazer valer o documento em detrimento DA REALIDADE, mesmo sem ter fundamento para isso, em atitude totalmente ilegal e arbitrária! Nota-se, então, que dentre os diversos argumentos da Autora, um é de que não existe sobreposição de áreas e que a retificação é apenas intra muros, afirmando que existe divergência nos croquis apresentados pelas partes. Essa divergência não foi resolvida administrativamente, daí porque, entende-se, com a devida vênia, que à Autora deve ser assegurado o direito de fazer prova dessa alegação, até porque, caso verdadeira a sua tese, eventual discussão sobre o direito de 6º. Havendo impugnação e se as partes não tiverem formalizado transação amigável para solucioná-la, o oficial remeterá o processo ao juiz competente, que decidirá de plano ou após instrução sumária, salvo se a controvérsia versar sobre o direito de propriedade de alguma das partes, hipótese em que remeterá o interessado para as vias ordinárias. Página 4 de 5 4

5 propriedade em outra ação não teria sentido. Se no curso da instrução restar provado que há divergência métrica nas propriedades confrontantes, com sobreposição de áreas, restará evidente que não se trata de mero erro escritural, e a Autora, então, arcará com o ônus da propositura da ação inadequada. Em síntese, não se pode afirmar, desde logo, que a retificação pretendida redundaria na diminuição da área pertencente à parte Apelada, ou seja, que a questão envolve direito de propriedade de alta indagação, que não possa ser solucionado pela via eleita. Só a instrução relevará o que de fato existe nos imóveis confrontantes. Ante o exposto, o voto é no sentido de dar provimento ao recurso, nos termos da fundamentação. III. DECISÃO. ACORDAM os Magistrados integrantes da do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos termos do voto da Relatora. A Sessão foi Presidida pelo Excelentíssimo Senhor Desembargador Ruy Muggiati (sem voto) e acompanharam o voto da Relatora o Excelentíssimo Senhor Desembargador Sigurd Roberto Bengtsson e o Excelentíssimo Senhor Juiz Subst. em 2º Grau Gil Francisco de Paula Xavier F. Guerra. Curitiba, 31 de agosto de Juíza Subst. 2º G. LUCIANE R.C.LUDOVICO Relatora Página 5 de 5 5