PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 fls. 60 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Campinas, em que é agravante ROBERTO KANEKO, é agravado IPIRANGA PRODUTOS DE PETRÓLEO S/A. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 36ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores JAYME QUEIROZ LOPES (Presidente sem voto), PEDRO BACCARAT E MILTON CARVALHO. São Paulo, 27 de outubro de Arantes Theodoro Relator Assinatura Eletrônica

2 fls. 61 AGRAVO DE INSTRUMENTO AGRAVANTE Roberto Kaneko AGRAVADO Ipiranga Produtos de Petróleo S.A. INTERESSADO Auto Posto Capotuna Ltda. COMARCA Campinas 7ª Vara Cível VOTO Nº EMENTA Execução. Contrato de mútuo. Penhora de apartamento. Substituição do bem que não se justificava, nem a realização de nova avaliação. Impenhorabilidade do imóvel ante a dicção da Lei 8.009/90. Não satisfeito o requisito da Súmula STJ nº 486. Imóvel que, ademais, foi pelo devedor indicado como garantia da dívida. Recurso improvido. Cuida-se de agravo de instrumento tirado de despacho que, em autos de ação de rescisão contratual ora em fase de execução, desacolheu embargos à penhora opostos pelo devedor e condicionou a apreciação do pedido de gratuidade processual à apresentação de documentos. O agravante afirma não se justificar tal desfecho. Assim, ele afirma que segundo princípio legal a execução deve se processar pelo meio menos gravoso ao executado, de modo que no caso a constrição havia de recair sobre o terreno no qual se instalou o posto de gasolina, que fora dado no contrato como garantia e cujo valor era substancialmente maior que o apartamento penhorado. A isso o recorrente acrescenta que se cuidava de bem de família na medida em que se acha locado e os aluguéis são destinados à Agravo de Instrumento nº Voto nº 2

3 fls. 62 subsistência do núcleo familiar do executado e que, de todo modo, havia necessidade de nova avaliação porque a realizada achava-se defasada. Por outro lado, o agravante assevera que a simples declaração a que alude o artigo 99 2º do CPC já se mostrava suficiente para a concessão da gratuidade processual, inexistindo no caso elementos que a desmentissem. Ao agravo foi negado efeito suspensivo. Dele não conheceu a 20ª Câmara de Direito Privado, o que motivou a redistribuição dos autos. É o relatório. I O agravo é manifestamente improcedente e, por isso, pode ser desde julgado sem necessidade de se abrir prazo para a resposta. De pronto se vê que alegação de que o terreno fora oferecido como principal garantia das obrigações contratuais não procede, eis que no contrato de mútuo para aquele fim foram indicados ambos os imóveis, isto é, tanto o referido terreno como o apartamento sobre o qual recaiu a penhora. Pois certo é que, podendo penhorar qualquer daqueles bens, optou o exequente por fazer a constrição incidir sobre o de menor valor, o que evidentemente atendeu ao interesse do executado. Ora, só isso já seria suficiente para a Corte prestigiar a decisão que manteve a constrição. De todo modo, o fato é que na espécie o executado não apontou razão objetiva a justificar a substituição da penhora, a tanto evidentemente não bastando a sua preferência pessoal pelo penhora de um Agravo de Instrumento nº Voto nº 3

4 fls. 63 imóvel no lugar do outro. De lembrar, a propósito, que o princípio da menor onerosidade da execução, anunciado no artigo 805 do Código, não pode ser compreendido sem atenção ao artigo 797 do mesmo diploma, segundo o qual a execução se faz no interesse do credor e não para atender à conveniência do devedor. Por outro lado, quanto ao pedido de nova avaliação o devedor havia de apresentar mínima prova de que em face de ocorrências supervenientes o valor indicado pelo perito já não correspondia ao preço de mercado do bem. Contudo, essa revelação ele não trouxe, nem o fez agora, o que poderia ocorrer mediante juntada de pesquisas no mercado imobiliário, mostrando-se insuficiente a só indicação do lapso temporal entre a avaliação e o leilão agora designado. E quanto à alegação do demandado o Juiz bem enfatizou que à época da produção da prova pericial, ou seja, início do ano de 2013, o mercado imobiliário ainda estava superaquecido e, portanto, o valor do imóvel obtido na avaliação era e continua a ser justo (fls. 18 do agravo). No que concerne à alegação de impenhorabilidade por se tratar de imóvel protegido pela Lei nº 8.009/90, convém lembrar que não se cuidava de imóvel destinado à residência do núcleo familiar do devedor, mas locado para terceiro. Logo, incidia aqui o entendimento sintetizado na Súmula STJ nº 486, isto é, era essencial que o devedor demonstrasse que os rendimentos obtidos com aquela locação eram, de fato, revertidos para a subsistência de sua família. Contudo, como se vê no instrumento isso ele não provou no processo, nem o fez aqui. Agravo de Instrumento nº Voto nº 4

5 fls. 64 De mais a mais, se no contrato o devedor indicou o imóvel como garantia do débito (fls. 6 do agravo), então não pode ele, na sequência e em manifesto desprezado à boa-fé, alegar que se cuidava de bem insusceptível de ser penhorado. objeções do devedor. Como se vê, caso era mesmo de o Juiz rejeitar as II Meramente relativa é a presunção de veracidade da declaração da parte de estar financeiramente incapacitada de suportar as despesas do processo, tanto que o artigo 99 do CPC autoriza o Juiz a indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão do benefício. Pois a própria lei anuncia que nesses casos deve o Juiz, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos. Na espécie tal medida se justificava, note-se, porque se cuidava de interveniente hipotecante de relação comercial de valor vultoso, relacionada com o desenvolvimento de negócios do posto de serviços (fls. 5 do agravo). O Juiz agiu, portanto, em exata conformidade com a previsão legal ao conferir ao devedor aquela oportunidade, o que naturalmente beneficiou o litigante na medida em que poderá ele, agora, dar prova do que alegou acerca de sua situação financeira. Em suma, as razões recursais não autorizam a reforma da decisão monocrática, apresentando-se, pois, manifestamente improcedente o agravo. Nega-se provimento ao recurso. (assinado digitalmente) ARANTES THEODORO Relator Agravo de Instrumento nº Voto nº 5