TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL Nº APELANTE 1: UNIMED RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO DO RIO DE JANEIRO LTDA. APELANTE 2: LUIX ALVAREZ BLANCO [RECURSO ADESIVO] APELADO: OS MESMOS RELATOR: Des. EDUARDO DE AZEVEDO PAIVA DECISÃO MONOCRÁTICA 1 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANO MORAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. NECESSIDADE DE INTERNAÇÃO DE EMERGÊNCIA. INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO. NEGATIVA DO RÉU ALEGANDO CARÊNCIA. EXCEPCIONALIDADE PREVISTA NA ALÍNEA "C", DO INCISO V, DO ARTIGO 12, DA LEI DOS PLANOS DE SAÚDE (LEI Nº DE 2008), BEM COMO EM RAZÃO DO DISPOSTO NO ART. 35-C DA

2 LEI Nº 9656/98 QUE DETERMINA A OBRIGATORIEDADE DE COBERTURA DOS CASOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA, SENDO O PRAZO DE CARÊNCIA DE NO MÁXIMO 24 HORAS, ALÉM DE ATENDER À PRÓPRIA NATUREZA DO CONTRATO EM TELA, QUE, NO CASO, É A SAÚDE. ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA QUE COLOCA O CONSUMIDOR EM DESVANTAGEM EXAGERADA, INCOMPATÍVEL COM A BOA-FÉ E A EQUIDADE. É LEGÍTIMA A EXPECTATIVA DO CONSUMIDOR DE TER A SUA SAÚDE RESTABELECIDA DE FORMA MENOS GRAVOSA E MAIS EFICAZ POSSÍVEL. PRECEDENTES DESTA CORTE. DECISÃO QUE SE MANTÉM. QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO EM PATAMAR RAZOÁVEL E PROPORCIONAL. RECURSOS AOS QUAIS NEGO SEGUIMENTO, NA FORMA DO ART. 557, CAPUT, DO CPC. 2 RELATÓRIO LUIS ALVAREZ BLANCO ajuizou a presente demanda de obrigação de fazer c/c indenizatória contra UNIMED RIO - COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO DO RIO DE JANEIRO, em que afirma ser associado à ré desde janeiro de 2008, permanecendo em período de carência até

3 junho de 2008, sendo que poucos dias antes de terminar o referido prazo sofreu um infarto agudo do miocárdio, tendo sido solicitada sua imediata internação em Unidade Coronariana. Afirma a autora que apesar da situação emergencial, a empresa ré não autorizou sua internação, em função do prazo de carência, pelo que ingressou com ação, com pedido de antecipação dos efeitos da tutela para que fosse autorizada sua imediata internação e tratamento, que tramitou junto à 4ª Vara Cível da Barra da Tijuca, tendo sido deferida a tutela. Requereu a condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais, em razão da negativa de autorização para internação. Juntou os documentos de fls. 17/91. O pedido de gratuidade de justiça foi deferido às fls Decisão monocrática às fls. 132/136, determinando o prosseguimento do feito pelo rito ordinário. Contestação às fls. 137/177, alegando que a parte autora deveria ter requerido indenização na oportunidade em que propôs a outra ação, que o prazo de carência é legítimo, tendo sido pactuadas as cláusulas que o preveem, não sendo obrigatória a cobertura de internação. Juntou os documentos de fls. 178/220. Réplica às fls. 225/235, com os documentos de fls. 237/240. Sentença às fls. 328/332, que julgou procedente o pedido formulado pelo autor para condenar a parte ré a pagar ao autor o valor

4 de R$ ,00 a título de indenização por danos morais, com correção monetária a partir da sentença e juros legais desde a citação, e condenou a ré ao pagamento das custas, despesas processuais e verba honorária fixada em 10% do valor atualizado da condenação. Apelo do réu às fls. 333/362, em que pretende a integral reforma da r. sentença, para o fim de ser julgado improcedente o pedido inicial ou, subsidiariamente, reduzido o valor da indenização fixado excessivamente. Contrarrazões às fls. 365/375. Apelo do autor às fls. 376/386, pugnando pela reforma parcial da r. sentença e a majoração do quantum indenizatório para R$16.000,00. Contrarrazões do réu às fls. 389/ É o relatório. Passo à decisão Os recursos são tempestivos e com eles se encontram os demais requisitos de admissibilidade. Versa a demanda sobre pedido de internação hospitalar que teria sido negado pela ré ao autor sob o enfoque do cumprimento de carência, diante do que também pugnou pela condenação da demandada ao pagamento de dano moral.

5 O autor logrou êxito na demanda, tendo obtido a condenação da ré ao pagamento de danos morais no valor de R$10.000,00, contra o que se insurgem as partes, o demandante pretendendo a majoração e a ré a improcedência do pedido ou a redução de tal valor. A relação jurídica entre as partes é de consumo e desafia as regras da lei de proteção ao consumidor. Não obstante o repúdio da ré aos termos da r. sentença, não nega que mantém contrato com o autor, sendo este associado de seu plano de saúde, assim como que o mesmo tenha tido necessidade da internação e que no referido plano o demandante tenha cobertura para as providências médico-hospitalares necessárias. No caso, a falha do serviço prestado pela ré se verifica quando não conseguiu demonstrar que tenha informado ao autor adequadamente sobre os prazos restritivos, tal como prazo de carência. Não obstante, o caso clínico do autor era de emergência e seu quadro era de risco de morte, o direito à vida é bem supremo [art. 5º, caput, da CF] que supera qualquer cláusula restritiva de direito, e, em casos tais, são consideradas abusivas e, portanto, nulas. 5 A hipótese é regulada pela Lei nº 9.656/98, com alterações da Lei nº /2009), verbis: [...] É obrigatória a cobertura do atendimento nos casos:

6 I - de emergência, como tal definidos os que implicarem risco imediato de vida ou de lesões irreparáveis para o paciente, caracterizado em declaração do médico assistente; II - de urgência, assim entendidos os resultantes de acidentes pessoais ou de complicações no processo gestacional; [...]. O dano moral, portanto, está absolutamente configurado, porquanto o fato descrito na inicial tem potencial suficiente para causar desconforto psicológico no autor, e com isso abalar seus valores internos de boa fé. A experiência pretoriana converge com os termos da r. sentença e das razões acima postas, consoante se tem nos seguintes arestos desta eg. Corte: APELACAO DES. JACQUELINE MONTENEGRO - Julgamento: 03/07/ DECIMA QUINTA CAMARA CIVEL AGRAVO INTERNO EM APELAÇÃO CÍVEL. PLANO DE SAÚDE. NEGATIVA DE INTERNAÇÃO DE EMERGÊNCIA. VIOLAÇÃO AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. DANO MORAL CONFIGURADO, HONORÁRIOS FIXADOS DENTRO DOS PARÂMETROS LEGAIS, QUE DEVEM SER PAGOS EM FAVOR DO PATRONO DA PARTE AUTORA, E NÃO AO CEJUR.1. Solicitação médica de manutenção de internação hospitalar.2. No presente caso, a Autora se encontrava internada, sendo certo que no mesmo dia em que foi informada que deveria deixar o hospital ou custear o tratamento, obteve a antecipação dos efeitos da tutela para que a Ré mantivesse a sua internação. [...] Ausente qualquer

7 argumento capaz de infirmar a decisão agravada, o Agravo Interno deve ser desprovido APELACAO DES. CARLOS SANTOS DE OLIVEIRA - Julgamento: 27/06/ NONA CAMARA CIVEL OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM INDENIZATÓRIA. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. INCLUSÃO DE RECÉM-NASCIDA COMO DEPENDENTE. NEGATIVA DE INTERNAÇÃO EM SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA. ILEGALIDADE. DANO MORAL CONFIGURADO. MANUTENÇÃO DO JULGADO. 1- Resta pacífica nos tribunais a ilegalidade da negativa de atendimento nas situações de emergência, nos termos do art. 35-C da Lei 9.656/98. Assim, se na hipótese dos autos restou demonstrado que a primeira autora (menor com apenas dois meses na época dos fatos narrados), apresentava quadro grave, necessitando de internação imediata, não se afigura legítima a conduta da ré. [...] Legítima expectativa incutida nos usuários acerca da continuidade do tratamento. [...] 3- Dano moral configurado. Transtornos suportados pela parte autora que não podem ser restringidos a uma simples divergência de interpretação contratual, considerando-se a natureza do bem tutelado (direito à saúde e à vida). Súmula 209 do E.TJ/RJ. Verba compensatória arbitrada adequadamente. Manutenção.- DECISÃO MONOCRÁTICA. NEGATIVA DE SEGUIMENTO AO RECURSO APELACAO DES. MARCOS ALCINO A TORRES - Julgamento: 25/06/ DECIMA NONA CAMARA CIVEL APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZATÓRIA. PLANO DE SAÚDE. RECUSA A INTERNAÇÃO. RELAÇÃO DE CONSUMO. DANOS MATERIAIS E MORAIS. DEVER DE INDENIZAR. 1. O caso dos autos retrata situação de urgência e emergência, a teor do que a autora afirma na peça inicial, e do laudo

8 médico por ela apresentado. Saliente-se que a obrigação de autorizar a internação de urgência está amparada pelo art. 12 da lei 9.656, em seu inciso II, alínea a, bem assim inciso V, alínea c, e pelo art. 35-C do mesmo diploma. [...] 3. A recusa de cobertura a determinado procedimento médico para o devido convalescimento de doença que acomete o segurado, acarreta-lhe inegável sofrimento e angústia, atenta contra a dignidade da pessoa humana, ou caso se prefira, a um direito fundamental da personalidade, gerando, assim, o dever de indenizar. [...] 5. Negativa de seguimento ao recurso. Quanto ao valor fixado na r. sentença, não merece qualquer reparo, haja vista que o valor de R$10.000,00 representa patamar razoável e proporcional que atende, acima de tudo, ao recomendado efeito pedagógico, sem imprimir premiação ou enriquecimento sem causa ao autor. 8 Isto posto, na forma do art. 557, caput, do CPC, conheço e nego seguimento aos recursos. Rio de Janeiro, 09 de julho Desembargador EDUARDO DE AZEVEDO PAIVA Relator Certificado por DES. EDUARDO DE AZEVEDO PAIVA A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço Data: 24/07/ :00:29Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: Tot. Pag.: 8