TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Votorantim, em que é apelante UNIVERSO ON LINE S/A, é apelado ANTONIO GABRIEL CERQUEIRA GONÇALVES (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em 25ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores HUGO CREPALDI (Presidente sem voto), EDGARD ROSA E VANDERCI ÁLVARES., 12 de dezembro de 2013 WALTER CESAR EXNER RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação com Revisão nº: Apelante: Universo On Line S/A. Apelado: Antonio Gabriel Cerqueira Gonçalves. Ação: Rescisão (n /00). Comarca: Votorantim 2ª Vara Cível. Voto n Prestação de serviço. Internet. Hospedagem compartilhada. Inércia na solução de problemas relatados pelo usuário, que frustrou a finalidade do próprio serviço contratado. Vício configurado. Dano moral que restou provado, ante as circunstâncias do caso concreto. Quantum que assegura ao lesado justa reparação, sem incorrer em enriquecimento ilícito. Juros de mora a conta da citação. Exegese do art. 219 do CPC. Sentença integralmente mantida. Recurso improvido. Vistos. Trata-se de ação de rescisão c.c. indenização movida por Antonio Gabriel Cerqueira Gonçalves que a r. sentença de fls. 160/162, de relatório adotado, julgou procedente em parte para rescindir o contrato a contar de , declarando inexigíveis os débitos vencidos a partir de então, além de condenar a ré ao pagamento de R$ 4.000,00, a título de danos morais, atualizados a partir da sua fixação, e juros de mora a contar da citação. Irresignada, recorre a ré, alegando, em síntese, a regular prestação do serviço de hospedagem compartilhada, sendo o problema solucionado no prazo de dois dias, e que as dificuldades Apelação nº Votorantim - VOTO Nº 2/5

3 noticiadas foram decorrentes da alteração técnica solicitada, do que se infere a culpa exclusiva do consumidor (art. 14, III, 3º, do CDC). Insurge-se contra a configuração de danos morais, ausente qualquer ofensa ao seu patrimônio moral, requerendo, em caráter subsidiário, a sua redução, bem como a fixação dos juros de mora a contar da sentença. O recurso foi recebido em ambos os efeitos e o apelado bateu-se pelo improvimento em contrarrazões. É o relatório. Para o deslinde do feito, basta notar que, como bem reconhecido no bojo da r. sentença, deixou a ré de se desincumbir do ônus previsto no art. 333, II, do CPC, vez que restou incontroversa a falta de operabilidade do blog mantido pelo autor através de serviço de hospedagem compartilhada ofertado pela apelante (fls. 16/27), a partir da data de , quando requereu a migração de um domínio para outro na internet. Nesse passo, ao contrário do que argumenta a ré em seu apelo, no prazo de dois dias, o usuário obteve tão somente o restabelecimento do funcionamento do blog no novo domínio, mas seu conteúdo fora totalmente liquidado, restando noticiada ainda a ocorrência de novos problemas de acesso posteriormente, alegações que sequer foram impugnadas Apelação nº Votorantim - VOTO Nº 3/5

4 em contestação, tendo a ré se limitado a anotar a culpa exclusiva do consumidor, olvidando-se, porém, do disposto no art. 6º, III, do CDC e da vulnerabilidade técnica daquele, que, em réplica, inclusive, apontou que jamais fora alertado e tampouco instruído pelo suporte técnico da empresa acerca dos efeitos da referida mudança (fls. 141/142). Como se não bastasse, a requerida coligiu cópia do atendimento de três chamadas efetuadas entre as datas de e (fls. 105/107), ao passo que o autor, na inicial, apontou a existência de outros tantas em datas distintas que restaram frustradas (fls. 70/72 75/78), do que se infere a inadequada prestação do serviço, que inviabilizou o alcance da própria finalidade do serviço contrato, qual seja, o acesso do conteúdo do blog por terceiros, cujo número de acessos diminuiu vertiginosamente (fls. 04 c.c. 79/88), o que torna de rigor a manutenção da r. sentença quanto à rescisão por inadimplemento contratual da requerida. De outro lado, as provas colhidas aos autos são suficientes para evidenciar a dor moral suportada pelo apelado, que se viu, diante de situação insólita, provocada pelo descaso da apelante, que, através de seu suporte ao usuário deficiente, seja no tocante à resolução dos problemas relatados pelo usuário, seja quanto ao fornecimento de informações adequadas e suficientes do produto, frustrou a própria prestação do Apelação nº Votorantim - VOTO Nº 4/5

5 serviço, o que é inadmissível, mormente em tal área tecnológica, em que a agilidade está intrínseca à prestação do serviço, bastando verificar a rapidez com que decaiu a popularidade do blog do autor. Logo, de rigor a conclusão de que a inobservância das cláusulas contratuais, no caso em tela, provocou mais do que mero dissabor, pois tolheu a eficiência, continuidade e segurança visadas pelo apelado, sendo nítido o abalo sofrido, e, tendo em vista as condições pessoais das partes, os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, e as demais peculiaridades do caso em tela, notadamente quanto à intensidade do dano impingido, e cuidando-se de assegurar à parte lesada uma justa reparação, afigurase adequado o valor já fixado em primeira instância, corrigidos a partir da data de arbitramento, nos termos da Súmula 362, do STJ e com juros de mora a contar da citação, pois data em que constituída em mora a requerida. Isto posto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso. WALTER CÉSAR INCONTRI EXNER Relator Apelação nº Votorantim - VOTO Nº 5/5