PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 1ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Itapetininga, em que são apelantes LUCAS ABRAAO DE CAMPOS e JULIO CEZAR CRUZ AVILA sendo apelado ALEXANDRE DA SILVA KOMENDIR. ACORDAM, em 1ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento aos recursos. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores DE SANTI RIBEIRO (Presidente) e RUI CASCALDI. São Paulo, 6 de dezembro de PAULO EDUARDO RAZUK RELATOR ASSINATURA ELETRÔNICA

2 Apelação: Comarca: Juízo de origem: Juiz prolator: Itapetininga 1ª Vara Cível Processo: 21075/2007 Apelante: Apelado: Jairo Sampaio Incane Filho Lucas Abraão de Campos (conv AJ) (e outro) Alexandre da Silva Komendir (conv AJ) RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATO ILÍCITO Ofensor que na época dos fatos e do ajuizamento da ação contava 17 anos tem legitimidade ad causam para figurar no polo passivo Por ser relativamente incapaz, foi devidamente assistido por sua mãe, bem como o Ministério Público atuou no feito até que completasse a maioridade civil Nulidade processual não verificada Preliminares afastadas - No mérito, o autor foi agredido com socos e pontapés pelos réus, acarretando-lhe lesões corporais de natureza leve - A existência do fato e o resultado lesivo são inequívocos, assim como o nexo causal entre ambos e a culpa dos réus Dever de indenizar caracterizado Dano material de R$ 400,00 correspondente às despesas odontológicas Dano moral de R$ 1.500,00 razoável e consentâneo com o dano causado Ação sumária de indenização por danos materiais e morais procedente Recursos improvidos. VOTO Nº A sentença de fls. 107/112, cujo relatório é adotado, julgou procedente em parte ação sumária de indenização por danos material e moral, fundada em responsabilidade civil por ato ilícito. Apela o corréu Lucas, sustentando a improcedência do pedido. Apela também o corréu Julio Cesar, Apelação nº C fls. 2

3 arguindo ilegitimidade passiva ad causam, bem como a nulidade do processo. É o relatório. De início, não prosperam as preliminares. O co-apelante Julio Cesar, como um dos co-autores da ofensa contra o apelado, tem legitimidade passiva ad causam. Na data dos fatos e do ajuizamento da ação, Julio Cesar contava 17 (dezessete) anos. Assim, por ser relativamente incapaz, foi devidamente assistido por sua mãe, Orlanda de Paula, em todos os atos processuais, não se verificando qualquer nulidade processual. Além disso, o Ministério Público atuou nos autos até que Julio Cesar completasse a maioridade civil (fls. 58). No mérito, narra a petição inicial que, após uma festa junina na igreja do bairro, o autor teria sido agredido com socos e pontapés pelos réus, acarretando-lhe lesões corporais de natureza leve, constatadas por laudo do Instituto Médico Legal (fls. 97). Os réus, por sua vez, alegam que o apelado, alcoolizado, é que iniciou as provocações, gerando as agressões físicas uns contra os outros. O juiz da causa acolheu em parte o pedido para condenar os réus ao pagamento de R$ 400,00 por danos materiais e R$ 1.500,00 por danos morais. Apelação nº C fls. 3

4 A configuração da responsabilidade hábil a ensejar a indenização pretendida pelo apelado requer a demonstração da ação ou omissão, por dolo ou culpa; do resultado lesivo; do nexo causal entre ambos e da culpa do agente, elementos existentes na espécie. É incontroverso que as partes envolveram-se em briga de rua. Deste fato, restou demonstrado, consoante laudo de exame de corpo de delito, que o apelado sofrera escoriações em região malar direito, equimose arroxeada de lábios superior e inferior, fratura do incisivo central superior direito, escoriações em dorso dos dedos da mão esquerda. Vale ressaltar que, ainda que o tumulto tenha se originado por culpa do apelado, não há elementos que justifiquem a ocorrência desse tipo de violência por parte dos réus. Tem-se que a existência do fato e o resultado lesivo são inequívocos, assim como o nexo causal entre ambos e a culpa dos réus. Passa-se assim à fixação do quantum indenizável. Os danos materiais dividem-se em danos emergentes, que consistem em um prejuízo real sofrido pelo credor, e lucros cessantes, que têm relação com um ganho que o credor deixou de auferir. Ambos necessitam ser objetivamente demonstrados, sob pena de restarem excluídos da condenação. No caso, o apelado demonstrou ter despendido R$ 400,00 (quatrocentos reais) com procedimentos Apelação nº C fls. 4

5 odontológicos (fls. 07/vº), os quais devem ser reembolsados a título de danos emergentes. Quanto à indenização por dano moral, também merece acolhimento o pedido do apelado. A Constituição Federal, em seu primeiro artigo, inciso III, consagrou a dignidade humana como um dos fundamentos do nosso Estado Democrático de Direito. Temos hoje o que pode ser chamado de direito subjetivo constitucional à dignidade, a qual deu ao dano moral uma nova feição diante do fator de ser ela a essência de todos os direitos personalíssimos - honra, imagem, nome, intimidade, dentre outros. O dano moral nada mais é do que a violação do direito à dignidade e foi justamente por considerar a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra, da imagem corolário do direito à dignidade, que a Constituição Federal inseriu, em seu artigo 5º, incisos V e X, plena reparação do dano moral, conforme também vem referida na súmula 37 do STJ. Assim sendo, certos tratamentos desrespeitosos afetam a dignidade humana, merecendo o devido reparo. Diga-se do contrário, a urbanidade, a boa educação e a cortesia, dentre outros, são primordiais nas relações humanas. A indenização, por sua vez, deve ser fixada de maneira eqüitativa e moderada, observando as peculiaridades de cada caso, para que não se tenha a dor como instrumento de captação de vantagem. O valor arbitrado na sentença está consentâneo com a extensão do dano causado, razão pela qual fica Apelação nº C fls. 5

6 mantido. não merecendo reparos. recursos. A sentença bem apreciou a espécie, Posto isso, nego provimento aos PAULO EDUARDO RAZUK Relator Apelação nº C fls. 6