A EMISSORA Vários trabalhos sobre televisão e teledramaturgia apresentam informações sobre a

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1 Minisséries históricas: as produções e os produtores. (Maria Angela Raus FFLCH/USP Mestranda em História Social) O objetivo deste trabalho é, dentro dos estudos sobre a teledramaturgia nacional, particularmente de minisséries históricas, contemplar o envolvimento de seus agentes na produção: emissora, autores, atores, diretores, entre outros. Destaca-se, assim, a relação entre os seus objetivos enquanto produtores culturais contemporâneos e a visão histórica que suas produções passam. Ele é parte da pesquisa de mestrado Teledramaturgia e história: estudo das representações de São Paulo em minisséries. Quando se pensa em uma novela, normalmente se pensa como sua principal produtora a emissora que a transmite. Porém, esta emissora não atua sozinha enquanto produtora. Para a realização de uma telenovela é necessário o envolvimento de vários profissionais, contratados pela emissora, porém com atuações muito diferentes que com o conjunto do seu trabalho apresentam então a telenovela. Assim, entende-se a telenovela e outras obras de teledramaturgia como sendo resultado de um trabalho coletivo, portanto um tipo de produção cultural com diversos produtores. Neste trabalho está sendo utilizado material sobre uma minissérie histórica produzida pela Rede Globo de Televisão: A Muralha (2000). O cenário da minissérie é São Paulo de Piratininga no início do século XVII. Foi inspirada no romance de Dinah Silveira de Queiroz, escrita por Maria Adelaide Amaral e produzida como parte das comemorações dos quinhentos anos do Brasil. Através de informações, principalmente de entrevistas e depoimentos, pretende-se apontar o envolvimento e a importância dos profissionais. Também pretende-se indicar elementos de uma possível visão de história que tenham e que ficou evidenciada através da minissérie. Entende-se assim que a emissora não é a única responsável pela construção de uma determinada visão de história. A EMISSORA Vários trabalhos sobre televisão e teledramaturgia apresentam informações sobre a

2 história da Globo. 1 Em um breve resumo destacaremos alguns pontos desta história. A emissora foi inaugurada em 26 de abril de 1965 no Rio de Janeiro, em pleno período do regime militar. Em 24 de março de 1966, inicia suas atividades em São Paulo. Como é de conhecimento geral, a emissora teve inicialmente colaboração financeira e técnica do grupo norte-americano Time-Life por acordo firmado em O contrato permitia ao grupo estrangeiro participação nos lucros, sendo estabelecido de forma legal, porém contradizendo o artigo 160 da Constituição de 1964, que não permitia a companhias estrangeiras o direito de propriedade sobre meios de comunicação. A programação foi inicialmente direcionada às camadas sócio-econômicas mais baixas, dando à emissora, já no final dos anos sessenta larga audiência. Nos anos setenta a emissora alcançou enorme desenvolvimento, apostando em estratégias comerciais como a criação de um departamento de pesquisa e análise, adequando assim os programas a diferentes gostos e planejando a publicidade. 2 Outra investida da Globo no período foi a nacionalização de sua programação 3 e o início do chamado Padrão Globo de Qualidade. Buscou-se uma melhora na qualidade técnica e no conteúdo dos programas. Na mesma época, a emissora entrou no mercado internacional ganhando prêmios importando produções. 4 Quanto ao governo militar, Sérgio Mattos coloca: Sem dúvidas, o governo foi a mais importante força motriz por trás do desenvolvimento da indústria televisiva brasileira, especialmente da TV Globo (criada depois do golpe de 64). Ao criar facilidades nas telecomunicações, tais como as redes de microondas, o cabo coaxial, os satélites e a televisão a cor, o regime militar brasileiro contribuiu para o desenvolvimento técnico da televisão, utilizando-a para promover os ideais do regime. Os governos do período , com suas políticas 1 Entre outros, podemos citar: MATTOS, Sérgio. A televisão no Brasil: 50 anos de história: ( ). Salvador: Editora PAS - Edições Ianamá, MATTELART, Armand. O Carnaval das imagens: a ficção na TV. São Paulo: Brasiliense, BORELLI, Silvia Helena Simões & PRIOLLI, Gabriel. A Deusa ferida: porque a Rede Globo não é mais a campeã absoluta. São Paulo: Summus, DONATO, João Olavo de. O capital estrangeiro e as empresas de teledifusão brasileiras: o caso da Rede Globo e PGQ Padrão Globo de Qualidade. Tese de Doutorado. São Paulo: FFLCH/USP (Departamento de História), MATTOS, Sérgio. A televisão no Brasil: 50 anos de história: ( ). Salvador: Editora PAS - Edições Ianamá, 2000, p Nos anos cinqüenta e sessenta, a programação da televisão era carregada de programas estrangeiros, os chamados enlatados.

3 protecionistas, afetaram o desenvolvimento da indústria publicitária no país e, em conseqüência, também da televisão. 5 Na história recente do Brasil, a Globo sempre esteve presente, mesmo quando se omitiu em relatar algum fato. Sua omissão em alguns momentos, paradoxalmente declara sua posição contrária ou favorável a determinado acontecimento e a que grupo está aliada. São exemplos disso a opção por não mencionar em seus jornais as passeatas em Curitiba, Vitória, Salvador e Campinas pelo movimento das Diretas Já e, ao mesmo tempo, por mostrar a manifestação em São Paulo, em 25 de janeiro de 1984, misturando o pedido por diretas e o aniversário da cidade; a questão do apoio da emissora à candidatura de Fernando Collor de Mello e depois o seu impeachment. 6 Na teledramaturgia, a Globo absorveu grandes nomes do teatro e do cinema. Esses profissionais, muitas vezes vigiados pelo regime militar, acabaram trabalhando dentro de uma emissora que servia de porta-voz, mas que também era vigiada e sofria com a censura. Como era prática naquele tempo, cenas eram cortadas. O caso mais drástico foi o da novela Roque Santeiro, de Dias Gomes, que teve sua primeira versão censurada em Apesar da censura, pode se considerar o período como o mais rico da teledramaturgia brasileira. Deixou-se de lado o chamado modelo mexicano e firmou-se uma teledramaturgia com características nacionais como originalidade de textos e maior realismo. Recentemente a emissora lançou alguns produtos no mercado com intuito de apresentar sua história e demonstrar a importância que considera ter para a cultura nacional. Entre esses produtos, encontra-se o Dicionário da TV Globo-vol.1: programas de dramaturgia e entretenimento. Na apresentação da publicação, o diretor da Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger, faz a seguinte colocação: "Num país de dimensões territoriais como as nossas e de cultura de massa diversificada e fértil, que mistura tradição e modernidade, a televisão desempenha uma função marcante na consolidação da identidade nacional. 4 Ibid., p Ibid. p NARLOCH, Leandro. A voz do Brasil. Super Interessante, edição 214, jun./2005, p Dicionário da TV Globo, v.1: programas de dramaturgia & entretenimento (Projeto Memória das Organizações Globo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003, p.142.

4 Por suas características, a Rede Globo assume um papel de importância indiscutível nesse processo..." 8 Para a emissora, que diz ter sido cerceada pelo regime militar no jornalismo, a dramaturgia serviu de espaço para a crítica: Durante o regime militar, em que o jornalismo da Rede Globo em alguns casos, mais do que em outros veículos de comunicação era cerceado pela censura, coube à dramaturgia desempenhar a tarefa de retratar e criticar a realidade política e social do país. Com toda essa força de comunicação e acima de tudo por sua aceitação pelos brasileiros -, a emissora é hoje uma das mais importantes fontes de difusão cultural dentro e fora do Brasil.(...). 9 Há vários estudos que discutem a questão da Globo, em particular a novela, ser considerada como fator de integração e formação da identidade nacional. 10 A compreensão do papel da Globo, particularmente da teledramaturgia, na questão da identidade nacional é de fundamental importância. Não se pode negar esse papel, porém não se pode apenas aceitar o discurso da emissora, sem uma reflexão sobre o tipo de cultura que ela produz e a forma como alcança a população. É claro no discurso da emissora que ela considera ter um papel importante para a cultura nacional, porém ela não pode ser vista como a principal, ou de maneira excessiva, a única criadora de cultura no Brasil. Sua importância está mais no alcance de sua produção (já que é a emissora líder de audiência e faz tudo para se manter assim), do que efetivamente na qualidade ou conteúdo do que produz, o que não quer dizer que não tenha boas produções e conteúdos pertinentes. AUTORIA Normalmente o artista age intuitivamente na produção de suas obras, nem sempre tendo plena consciência dos pontos em comum que elas podem apresentar. O artista retrata 8 ELANGER, Luis. Apresentação. Dicionário da TV Globo, v.1: programas de dramaturgia & entretenimento (Projeto Memória das Organizações Globo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003, p.ix. 9 Ibid.,p.ix 10 Podem ser citados, entre outros: HAMBURGER, Esther. O Brasil antenado: A sociedade da novela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., KORNIS, Mônica de Almeida. Uma história do Brasil recente nas minisséries da Rede Globo. Tese de Doutorado. São Paulo: ECA/USP, WOLTON, Dominique. Elogio do grande público; uma teoria crítica da televisão. São Paulo: Ática, 1996, p.44. MATTELART, Armand. O Carnaval das imagens: a ficção na TV. São Paulo: Brasiliense, 1989.

5 elementos de seu próprio universo e experiências, portanto para se entender as minisséries, deve-se olhar um pouco para a história e produção de seus autores. Maria Adelaide Amaral é portuguesa de nascimento, mas paulistana de coração. Começou sua carreira na televisão como colaboradora de Cassiano Gabus Mendes, em 1990, na novela Meu Bem, Meu Mal. De lá para cá não parou. Antes, teve uma experiência de estepe de Lauro César Muniz, em 1979, ajudando-o com a novela Os Gigantes. 11 Além de Cassiano, atuou como colaboradora de Sílvio de Abreu nas novelas Deus nos Acuda (1992)e A Próxima Vítima (1995) e de Marcílio Moraes em Sonho Meu (1994), sempre na Rede Globo. Sua primeira telenovela em que é responsável pela autoria foi o remake de Anjo Mau, em Trabalhou também em seis episódios do seriado Mulher e, desde 2000, dedica-se às miniséries históricas, consagrando-se como autora do formato e do horário. Além de sua obra para televisão tem reconhecida carreira no teatro e na literatura. Em sua ficção televisiva encontramos alguns elementos comuns nas obras: o gosto pela história, pela literatura e a cidade de São Paulo. Primeiramente seu trabalho com Sílvio de Abreu, um autor reconhecidamente paulista em suas obras. Em sua versão de Anjo Mau, ambientou a novela em São Paulo, mostrando ações cotidianas de pessoas na cidade. Alguns exemplos ligados ao universo cultural como por exemplo a FAAP (Faculdades Armando Álvares Penteado), onde estudava um grupo de personagens. O universo cultural da cidade é retomado em Um Só Coração (2004), já que o objetivo da autora e de seu parceiro, Alcides Nogueira, foi contar a história da cidade do ponto de vista da cultura. O gosto pela história e pela literatura aparece em outras produções como A Muralha, inspirada no romance de Dinah Silveira de Queiroz, Os Maias, baseado na obra de Eça de Queiroz e A Casa das Sete Mulheres de Letícia Wierzchowski. Já Um Só Coração e JK, são textos originais, com profunda pesquisa histórica. Segundo a autora sua paixão pelos livros e pela História começou na infância: (...).Eu me refugiava nos livros de histórias. Embarcava em qualquer narrativa sobre fadas e princesas, passava a viver o que eu lia num exercício de pura evasão. Eu lia compulsivamente, adorava, sorvia e vivia 11 Na função de estepe ela assumiria a novela caso o autor necessitasse, como em caso de doença, e foi o que aconteceu. In: DWEK, Tuna. Maria Adelaide Amaral: a emoção libertária. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Cultura: Fundação Padre Anchieta, 2005,p

6 emocionalmente de leitura. Mais tarde, quando fui estudar História, os castelos de Reis e Rainhas eram como castelos das minhas histórias. Acho que foi essa sensação que despertaria a minha paixão pela História, uma das mais longas e permanentes de minha vida. 12 Cada autor tem um estilo próprio de trabalho para conduzir tramas de época, ou históricas. No caso de Maria Adelaide Amaral, seus trabalhos são pautados por uma profunda pesquisa histórica, a qual a própria autora conduz, com a colaboração de pesquisadores e consultores. Maria Adelaide é uma pessoa apaixonada por História e pela pesquisa, porém deixa bem claro que seu compromisso é com a criação. Não se vê na função de educadora, mas reconhece que seu trabalho ensina a medida que desperta interesse. Em sua biografia, ao falar de Um Só Coração: Gosto muito desse tipo de minissérie de época, desse filão com muitas possibilidades, que une a história real com a ficção, personagens reais e inventados, gosto muito de fazer e acho que faço bem. É freqüente cruzar com pessoas na rua que me perguntam: Então, sobre o que vai tratar a sua próxima minissérie? Ou a gente que me diz: Aprendi tanto sobre a Revolução de 32, ou: Aprendo tanto com as suas minisséries. E constato que tenho um público que espera que as minhas minisséries lhe ensinem alguma coisa. 13 OS ATORES No processo de escolha do elenco de uma telenovela, ou minissérie, vários fatores podem interferir. Encontrar uma ator apropriado, com determinadas características físicas e, principalmente, talento não é uma tarefa tão fácil. Notas diárias na imprensa dão conta de diretores com dificuldades para escalação de elenco. Às vezes o ator escolhido já está comprometido com outra produção da casa e, atualmente, até com outra emissora. Pode estar envolvido em outros projetos pessoais e abrir mão da sua participação. A Rede Globo possui atores contratados por anos e por obra. As estrelas da casa normalmente se repetem em várias produções, quando solicitadas. Muitos atores mal saem 12 DWEK, Tuna. op. cit. p

7 de uma produção e já começam a gravar outra. Alguns já estão reservados para novelas que vão estrear daqui um ano. O ator, talvez, seja a figura mais exposta desse tipo de produção. Mais até que o autor. Ao autor cabe a parte intelectual do projeto, e sua exposição em eventos é bem menor, até pela necessidade de isolamento de um escritor. Já o ator aparece enquanto personagem da trama e enquanto personagem de sua própria vida, sendo que a mídia constrói isso para ele. Muitos atores acabam conseguindo mais projeção pela sua vida pessoal, do que por uma boa interpretação, ou um personagem de destaque e não pode se negar que atores-celebridades são escalados por serem figuras de destaque na mídia, muito mais do que pelo talento. Em alguns casos, há autores que escrevem personagens já pensando no intérprete. Outros, escrevem e depois decidem juntamente com a direção quem vai interpretar o personagem, escolhendo entre antigos ou novos parceiros de trabalho. Alguns atores estão presentes em mais de uma obra da autora: Letícia Sabatella, Celso Frateschi, Maria Luisa Mendonça, Mauro Mendonça, Pedro Paulo Rangel, Tarcísio Meira, Leandra Leal, Ana Paula Arósio, Camila Morgado, José Wilker, Luís Melo, Débora Falabella, Alessandra Negrini, Ariclê Peres, Sérgio Viotti, Mila Moreira, entre tantos outros. Alguns depoimentos de atores que trabalharam em A Muralha indicam elementos para entender seu envolvimento com os personagens e sua visão da história: Eu acho que A Muralha é um projeto em que a gente foi surpreendido pelo espírito dos bandeirantes. O ineditismo. A gente tinha a sensação de estar desbravando uma história de um período tão obscuro da história do Brasil. Então, eu acho que esse espírito, ele permeia praticamente todo o tempo em que se trabalhou nessa minissérie, A Muralha. (...).Eu acho muito importante essa proximidade entre literatura e teledramaturgia, e, também contar uma história da gente.(...) (Vera Holtz/Mãe Cândida) A Muralha foi uma minissérie que nos marcou a todos, que assistimos, que vimos, porque retratou um Brasil e uma situação social de um Brasil, de uma 13 DWEK, Tuna.op. cit.p.267.

8 época que, eu acho, até então a gente não tinha visto de forma tão bem elaborada. Com arte, com condições de ser realizada. Porque era uma minissérie difícil. A gente teve povos indígenas brasileiros que contribuíram para a minissérie. (...). (Letícia Sabatella/Ana) Gostei de ter feito A Muralha por várias razões. Uma delas é a adaptação de Maria Adelaide Amaral. O romance de Dinah Silveira de Queiroz foi escrito por ocasião do Quarto Centenário de São Paulo. Então, era, de certa maneira, uma louvação ao espírito empreendedor do bandeirante, pioneiro, formador dessa nação, que entra para o interior, com todo sacrifício e constrói este país que é o Brasil.(...). (Paulo José/Padre Simão) 14 A DIREÇÃO Na Rede Globo de Televisão há núcleos de direção, dedicados às suas diversas produções de dramaturgia e shows. No caso de A Muralha a direção coube ao núcleo Denise Saraceni, com direção de Carlos Araújo e Luís Henrique Rios. Em depoimento, Denise Saraceni coloca: Definido o conceito artístico, a visão da história, como a gente queria contar, essa história de A Muralha, aproveitando os quinhentos anos do Brasil, enfocando a história na característica da alma brasileira, da alma nacional, dentro de tudo que ela tem de simpático, ou antipático, tudo que ela tem de bonito, ou tudo que ela tem de feio. A gente buscou entrosar uma equipe e um elenco com essa vontade de descobrir nosso país.(...) 15 CONCLUSÃO 14 Depoimentos transcritos de entrevistas contidas no DVD. AMARAL, Maria Adelaide e outros. A Muralha (DVD). Globo Vídeo, Depoimentos transcritos de entrevistas contidas no DVD, conforme nota anterior.

9 Procurou-se demonstrar neste trabalho a importância de todos os profissionais envolvidos para a realização da obra de teledramaturgia, sendo esta uma obra coletiva. A própria autora Maria Adelaide Amaral assim a considera: (...). Quando se escreve para teatro ou para televisão, seu texto será intermediado pela concepção do diretor, pela interpretação dos atores e, no caso da TV, até pelo editor, que é quem faz, por assim dizer, a arte-final da minissérie ou da novela que vai para o ar. Ou seja, o texto que a gente escreve pode ser transformado, melhorado, deformado, ou engrandecido por outros profissionais. Porque uma peça de teatro e uma obra teledramatúrgica não pertencem apenas ao autor do texto. Como a dança, a música e o cinema, são artes coletivas. 16 Pelos depoimentos dos atores, percebe-se que o grau de envolvimento e entrega aos personagens e ao projeto como um todo era muito grande. Apesar do interesse nos temas, não há aprofundamento, o que realmente não é sua função. O vivenciar a atmosfera do período, através do espírito dos bandeirantes ou a convivência com os indígenas que participaram da minissérie são elementos importantes para passar veracidade. Em todos os depoimentos encontram-se elementos que indicam a preocupação dos atores com a história do Brasil. No depoimento da direção observa-se a preocupação com a história do Brasil e o nacional. Os termos alma brasileira e alma nacional indicam uma idéia de nacionalidade e integração nacional, o objetivo de descobrir o país através da história. A produção de A Muralha está inserida no contexto da comemoração dos quinhentos anos do descobrimento do Brasil. A Globo tinha um grande projeto de exibir várias minisséries, retratando cada século da história do país. Por razões de produção, o projeto não se concretizou e a única minissérie apresentada foi A Muralha. É nítido no discurso da emissora a preocupação em identificar sua produção e seu papel para a cultura nacional. Os outros produtores assimilam este discurso, nem sempre de uma maneira objetiva, mas acabam retratando uma grande preocupação em como contar e descobrir a história do Brasil. 16 DWEK, Tuna. op. cit., p. 121.

10 Este trabalho é uma proposta de discussão sobre cultura de massa contemporânea no Brasil, através do estudo de produções e seus agentes. É uma proposta para o estudo de história do presente.