INFLUÊNCIA DO RISCO CLÍNICO NEONATAL NO DESENVOLVIMENTO DE BEBÊS PREMATUROS DE 2 A 8 MESES DE IDADE

Transcrição

1 INFLUÊNCIA DO RISCO CLÍNICO NEONATAL NO DESENVOLVIMENTO DE BEBÊS PREMATUROS DE 2 A 8 MESES DE IDADE Amanda Martins Campos 1 ; Renan Neves Urzêda 1 ; Thalita Galdino de Oliveira 2 ; Cibelle Kayenne Roberto Martins Formiga 3,4 ; Maria Beatriz Martins Linhares 4 1 Bolsista PBIC/UEG, graduandos do Curso de Fisioterapia, UnU ESEFFEGO - UEG. 2 Voluntário de Iniciação Científica PVIC/UEG, graduanda do Curso de Fisioterapia, UnU ESEFFEGO UEG. 3 Orientadora, docente do Curso de Fisioterapia, UnU ESEFFEGO UEG. 4 Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo, USP. RESUMO O nascimento de um bebê prematuro e de baixo peso aumenta as chances de risco para problemas no desenvolvimento. Um dos indicadores de avaliação do risco neonatal é o Neonatal Medical Index (NMI), o qual classifica o bebê pré-termo quanto o seu risco durante a permanência no hospital, levando em conta todas as diferentes complicações e sintomas apresentados pela criança. O objetivo do estudo foi verificar a influência do risco neonatal (baixo e alto risco) no desenvolvimento de bebês nascidos prematuros de 2 a 8 meses de idade cronológica corrigida. Participaram da pesquisa 190 bebês pré-termo nascidos no Hospital Materno Infantil de Goiânia. Os bebês foram avaliados pelo Teste de Triagem do Desenvolvimento de Denver II em três faixas etárias: 2 a 4 meses, 4 a 6 meses e 6 a 8 meses de idade corrigida. Os resultados revelaram que os bebês com alto risco neonatal pelo NMI apresentaram maior prevalência de risco no desenvolvimento pessoal-social e linguagem na idade entre 2 e 4 meses de idade. Na idade entre 4 e 8 meses não se observou a influência do risco neonatal no desenvolvimento. Palavras-chave: desenvolvimento infantil, prematuridade, risco clínico neonatal. Introdução Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), recém-nascido pré-termo é aquele cujo parto ocorre antes de completar 37 semanas de gestação. A idade gestacional (IG) e o peso ao nascer são as principais variáveis biológicas relacionadas com o desenvolvimento dos sistemas orgânicos. Quando a criança nasce com menos de 2.500g é classificada como baixo 1

2 peso ao nascimento (MARCONDES, 2002). Quanto menor o peso ao nascer e a IG maiores serão as possibilidades de a criança apresentar distúrbios no seu desenvolvimento neurocomportamental (HALPERN et al., 2002; LINHARES et al., 2003). Os avanços científicos na área da Neonatologia que ocorreram nas últimas décadas contribuíram para o aumento das taxas de sobrevivência dos lactentes prematuros (SANTOS, ARAÚJO & PORTO, 2008). Isso propiciou um aumento considerável dos limites da viabilidade desses bebês, visto que, atualmente, recém-nascidos com IG cada vez menores recebem alta das unidades de cuidados neonatais em condições aparentemente satisfatórias (LEONE, RAMOS & VAZ, 2002; SILVA, 2004). O Neonatal Medical Index (NMI) é um indicador clínico que classifica o bebê prétermo quanto o seu risco durante a permanência no hospital, levando em conta todas as diferentes complicações e sintomas apresentados pelo bebê. O escore do NMI baseia-se no peso ao nascer, nas intercorrências clínicas do neonato (apnéia, bradicardia, hiperbilirrubinemia, entre outras) e nas medidas clínicas utilizadas durante a internação (ventilação mecânica, cirurgias, transfusão, etc). O escore varia de 1 a 5 e quanto mais alto mais grave a condição do bebê (KORNER et al., 2000). Embora a mortalidade dos bebês de alto risco tenha diminuído, houve um aumento na incidência de distúrbios neuropsicomotores entre os bebês sobreviventes. Esse fato tem motivado a realização de inúmeras pesquisas cientificas na área, que visam, através do acompanhamento dessas crianças ao longo do tempo, esclarecer o que realmente ocorre no desenvolvimento dessa população e determinar os possíveis fatores de risco envolvidos (MANCINI et al., 2002; ROSA NETO et al., 2005). Devido à relevância e ao impacto dos atrasos no desenvolvimento no que se refere à morbidade neonatal, é necessário que se possa, o mais cedo possível, detectar as crianças de maior risco, a fim de minimizar os efeitos negativos daí decorrentes. Existem evidências de quanto mais precoces forem o diagnóstico de atraso no desenvolvimento e a intervenção, maiores serão as chances de a criança não desenvolver seqüelas futuras (FORMIGA et al., 2004). O objetivo do presente estudo foi verificar a influência do risco clínico neonatal no desenvolvimento de bebês prematuros de 2 a 8 meses de idade cronológica corrigida. 2

3 Material e Métodos A amostra constituiu-se de 190 bebês pré-termo (IG < 37 semanas) e com baixo peso ao nascimento (< 2.500g), nascidos no Hospital Materno Infantil de Goiânia (HMI) e que permaneceram internados em pelo menos uma das unidades de cuidados neonatais para os cuidados imediatos de suas complicações advindas da prematuridade. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa do HMI. Os pais e /ou responsáveis pelos bebês autorizaram a participação das crianças assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para a avaliação dos bebês foi utilizado o Teste de Triagem do Desenvolvimento de Denver II (FRANKENBURG & DODDS, 1992), instrumento que avalia o desenvolvimento em quatro áreas: pessoal-social, linguagem, desenvolvimento motor amplo e fino. A pontuação no teste é codificada em respostas Passa, Falha, ou Recusa (não testável), de acordo com a habilidade da criança em realizar determinado item. Segundo a norma do teste são considerados os itens dentro da idade em que a criança se encontra na data da avaliação. Ao final do teste, a criança é classificada em Normal (nenhum atraso e no máximo um cuidado dentro dos itens avaliados) ou Risco (dois ou mais cuidados e/ou um ou mais atrasos ). Além do desempenho global, no presente estudo foi considerado o desempenho obtido pela criança em cada uma das quatro áreas avaliadas. Dos prontuários de cada bebê foram extraídos dados referentes às complicações neonatais, medidas clínicas utilizadas, IG e o peso ao nascer, sendo, posteriormente, lançados em uma ficha individual. As informações coletadas permitiram o cálculo do Neonatal Medical Indez (NMI). Os bebês foram divididos em dois grupos de acordo com a pontuação no NMI. A gravidade do risco neonatal pelo NMI varia de 1 a 5, em que 1 e 2 são considerados de baixo risco e 3 a 5 são escores de alto risco. Os bebês foram avaliados pelo Teste de Denver II em três faixas etárias e, por este motivo, a amostra não permaneceu a mesma ao longo do estudo devido à evasão de algumas crianças da pesquisa. Desta forma, as faixas etárias e a quantidade de bebês foram as seguintes: 2 a 4 meses (n=182); 4 a 6 meses de idade (n=142) e 6 a 8 meses de idade (n=112). De acordo com a orientação da OMS, em todas as avaliações foi considerada a idade cronológica corrigida de acordo com o grau de prematuridade da criança. A fase de coleta de dados foi realizada no Ambulatório de Alto Risco do Hospital Materno Infantil e a fase de análise dos dados foi realizada no Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa da ESEFFEGO (NIPE), da Unidade. 3

4 Após a coleta de todos os dados e depois que todas as avaliações foram filmadas e convertidas para CD, foi realizada a fase de análise e organização dos dados. Além disso, foram realizados estudos de confiabilidade entre avaliadores, no qual houve concordância acima de 80%, indicando a confiabilidade exigida em pesquisas com seres humanos. Os dados foram analisados descritivamente e foi utilizado teste de comparação de grupos (teste Qui-quadrado) para verificar a influência do risco neonatal no desenvolvimento das crianças nas três faixas etárias: 2 a 4 meses, 4 a 6 meses e 6 a 8 meses de idade cronológica corrigida (ICC). As análises foram realizadas no programa estatístico SPSS Statistical Package for Social Sciences (versão 15.0) e foi adotado o nível de significância de 5% (p 0,05). Resultados e Discussão Os bebês do presente estudo apresentaram uma prevalência de risco para problemas no desenvolvimento de 51% (2 a 4 meses), 43% (4 a 6 meses) e 33% (6 a 8 meses). Quando analisada a influência do risco neonatal nestas faixas etárias, os resultados revelaram que o risco neonatal (NMI) teve influência apenas na idade entre 2 e 4 meses (Tabela 1). Nas demais idades as crianças classificadas como baixo e alto risco neonatal apresentaram desenvolvimento semelhante. Tabela 1 Indicadores do desenvolvimento dos bebês entre 2 e 4 meses de idade cronológica corrigida (ICC) pelo Teste de Denver II, de acordo com o risco clínico neonatal (n = 182) Desenvolvimento Global de 2 a 4 meses de Idade Cronológica Corrigida pelo Denver II ( n = 182) Global Áreas Indicadores de Desenvolvimento Baixo Riso (NMI 1 ou 2) Alto Risco (NMI 3 a 5) Valor f % f % de p* Normal Risco Pessoal-social Normal Risco Linguagem Normal Risco Motora Fina Normal Risco Motora Ampla Normal Risco * Teste Qui-Quadrado (p < 0,05). 0,34 0,01 0,04 0,51 0,45 4

5 A partir dos dados apresentados na Tabela 1 foi verificado que os bebês classificados como alto risco pelo NMI apresentaram maior porcentagem de risco para problemas no desenvolvimento na área pessoal-social e linguagem entre 2 e 4 meses de ICC. Com estes achados, verifica-se no presente estudo que o risco neonatal não influenciou negativamente o desenvolvimento global e motor dos bebês. Entretanto, as áreas em que envolveram comportamentos de atenção, socialização e de linguagem expressiva foram as atingidas na fase entre 2 e 4 meses de ICC. Estes resultados são diferentes dos encontrados no estudo de Samsom & de Groot (2000) que verificou que os bebês com menor pontuação na avaliação da força muscular apresentavam maior risco clínico na fase neonatal pelo NMI. No presente estudo a influência dos grupos diferenciados pelo NMI não foi observada no desenvolvimento motor dos bebês. Conclusão Com base nos resultados do presente estudo concluí-se que os bebês prematuros apresentaram prevalência de risco ( 33%) entre 2 e 8 meses de idade. O alto risco neonatal teve influência negativa no desenvolvimento pessoal-social e linguagem na faixa etária entre 2 e 4 meses. Neste sentido, verifica-se que nos primeiros meses de vida do bebê há maior impacto da vulnerabilidade biológica em relação às demais faixas etárias estudadas. Referências Bibliográficas FORMIGA, C.K.M.R.; PEDRAZZANI, E.S.; SILVA, F.P.S.; LIMA, C.D. Eficácia de um Programa de Intervenção Precoce com Bebês Pré-Termo. Paidéia, v.14, n.29, p , FRANKENBURG, W.K; DODDS, J.; ARCHER, P.; SHAPIRO, H. & BRESNICK, B. The Denver II: A Major Revision and Restandartization of the Denver Development Screening Test. Pediatrics, v.89, n1, pp.91-97, HALPERN, R.; GIUGLIANI, E.R.J.; VICTORA, C.G.; BARROS, F.C.; HORTA, B.L. Fatores de Risco para Suspeita de Atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor aos 12 meses de vida. Revista Chilena de Pediatria, Santiago, v.73, n.5, p , setembro

6 KORNER, A.F.; BROWN, J.V.; THOM, V.A. & CONSTANTINOU, J.C. The neurobehavioral assessment of the preterm infant. Manual revised. 2nd. Edition, LEONE, C.R.; RAMOS, J.L.A.; VAZ, F.A.C. O Recém-Nascido Pré-Termo. In: MARCONDES, E. Pediatria Básica. 9. ed. São Paulo: Sarvier, p , LINHARES, M.B.M.; CARVALHO, A.E.V.; MACHADO, C. MARTINEZ F.E. Desenvolvimento de Bebês Nascidos Pré-Termo no Primeiro Ano de Vida. Paidéia, v.13, n.25, p.59-72, MANCINI, M.C.; TEIXEIRA, S.; ARAÚJO, L.G.; PAIXÃO, M.L.; MAGALHÃES, L.C.; COELHO, Z.A.C.; GONTIJO, A.P.B.; FURTADO, S.R.C.; SAMPAIO, R.F.; FONSECA, S.T. Estudo do Desenvolvimento da Função Motora aos 8 e 12 Meses de Idade em Crianças Nascidas Pré-termo e a Termo. Arquivos de Neuropsiquiatria, São Paulo, v.60, n.4, p , MARCONDES, E. Pediatria Básica. 9.ed. São Paulo: Sarvier, ROSA NETO, F.; CAON, G.; BISSANI, C.; SILVA, C.; SOUSA, M.; SILVA, E. Características Neuropsicomotoras de Crianças de Alto Risco Neurológico Atendidas em um Programa de Follow up. Pediatria Moderna, v.42, n.2, p.79-85, mar./abr SAMSOM, J.F., DE GROOT, L. The influence of postural control on motility and hand function in a group of high risk preterm infants at 1 year of age. Early Human Development. 60(2), , SANTOS, R.S.; ARAÚJO, A.P.; PORTO, M.A. Early Diagnosis of Abnormal Development of Preterm Newborns: Assessment Instruments. Jornal of Pediatrics, v.84, n.4, p , SILVA, R.N.M. Prematuridade. In: ALVES, J.G.B.; FERREIRA, O.S.; MAGGI, R.S. Fernando Figueira: Pediatria Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP). 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p ,