Lesões no complexo maxilofacial em vítimas de violência no ambiente escolar. Maxillofacial injuries in victims of violence at school environment
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1 835 Lesões o complexo maxilofacial em vítimas de violêcia o ambiete escolar Maxillofacial ijuries i victims of violece at school eviromet ARTIGO ARTICLE Alessadro Leite Cavalcati Programa de Pós Graduação em Saúde Pública, Departameto de Odotologia, Uiversidade Estadual da Paraíba. Aveida das Baraúas 35, Campus Uiversitário, Bodocogó Campia Grade PB. dralessadro@ibest.com.br. Abstract This study ivestigated the presece of ijuries i the maxillofacial complex i childre ad adolescets victims of physical violece i school eviromet. Fortytwo proofs ivolved childre ad adolescets victims of physical violece i school i the years of 003 ad 006 were aalyzed. The data had bee registered i specific form collectig the followig variables: geder, age, perpetrator aget, localizatio of the ijuries i the distict regios of the body, type ad umber of ijuries, existece of ijuries i oral cavity ad tissue ivolvemet. It was observed that 6.9 of the victims were male (6.9), agegroup 3 to 7 years the most reached. I most of the cases (9.9), the perpetrators were frieds from school while teachers represeted 7. of the cases. Ijuries aroud the head ad face were preset i 69. of the sample, with 3.8 of the victims presetig ijuries i the buccal cavity, all of the ijuries were situated i soft tissues, maily i the lips. It was evideced to be high the existece of ijuries i the buccal cavity of the victims of aggressio i the school eviromet, cofirmig the importace of detistry i the diagosis of ijuries aroud the head ad face of the victims of physical abuse. Key words Violece, Multiple trauma, Child abuse Resumo Este estudo ivestigou a preseça de lesões o complexo maxilofacial em criaças e adolescetes vítimas de violêcia física o ambiete escolar. Foram aalisados 4 laudos de exames de corpo de delito evolvedo criaças e adolescetes vítimas de violêcia física a escola, os aos de 003 e 006. Os dados foram registrados em formulário específico e as variáveis coletadas foram gêero, idade, agete agressor, localização das lesões as distitas regiões do corpo, tipo e úmero de lesões presetes, acometimeto da cavidade bucal e tipo de evolvimeto tecidual. Observouse que 6,9 das vítimas eram do gêero masculio, sedo a faixa etária de 3 a 7 aos a mais atigida. Os colegas foram os perpetradores mais frequetes (9,9) equato os professores foram os agressores em 7, dos casos. Lesões as regiões da cabeça e face estavam presetes em 69, da amostra, com 3,8 das vítimas apresetado ijúrias a cavidade bucal, sedo que a totalidade das lesões localizadas em tecido mole, pricipalmete os lábios. Costatouse ser elevada a existêcia de ijúrias a cavidade bucal em vítimas de agressão o ambiete escolar, cofirmado a importâcia da odotologia o diagóstico de lesões as regiões da cabeça e face em vítimas de violêcia física. Palavraschave Violêcia, Traumatismo múltiplo, Maustratos ifatis
2 836 Cavalcati AL Itrodução O Estado cotiua a ser o pricipal resposável pela seguraça. No etato, a partir do mometo em que os problemas de seguraça aumetam em complexidade, ovos atores passam a desempehar um papel esse domíio. Assim, outros setores da sociedade emergem como determiates do estado de seguraça. Etre eles, destacamse a saúde e a educação. No mometo atual, a violêcia é um feômeo que se observa com frequêcia crescete em todos os domíios da vida social. Esse feômeo também ocorre a escola, ode professores e aluos viveciam o seu cotidiao diferetes formas de violêcia 4. No eteder de Marriel et al. 5, a escola é um lugar privilegiado para refletir sobre as questões que evolvem criaças e joves, pais e filhos, educadores e educados, bem como as relações que se dão a sociedade. É também esse uiverso ode a socialização, a promoção da cidadaia, a formação de atitudes, opiiões e o desevolvimeto pessoal podem ser icremetados ou prejudicados. Quado se aborda a violêcia cotra criaças e adolescetes e a viculamos aos ambietes ode ela ocorre, a escola surge como um espaço aida pouco explorado, pricipalmete com relação ao comportameto agressivo existete etre os próprios estudates 6. Paralelamete a esta preocupação social, verificouse um grade aumeto da ivestigação sobre este tema, em particular sobre um tipo especial de violêcia escolar o bullyig termo de origem iglesa que tem sido utilizado para desigar determiadas codutas de agressão/vitimização que ocorrem etre pares, em que o abuso de alguém mais forte para com alguém mais fraco, ou o abuso de um grupo sobre uma vítima idefesa, parece ser a característica mais saliete,3,7 8. Tratase de comportametos agressivos que ocorrem as escolas e que são tradicioalmete admitidos como aturais, sedo habitualmete igorados ou ão valorizados, tato por professores quato pelos pais 6. O evolvimeto o bullyig (quer como vítima, quer como agressor) parece afetar etre 5 7 a 66 8 do total dos aluos que frequetam os vários estabelecimetos de esio. Estes dados têm sido repetidamete obtidos através de diferetes metodologias e istrumetos 7. As criaças e os adolescetes se apresetam como um foco de preocupação para pais e educadores, justamete por viver uma sociedade em trasformação, tomada por valores istáveis e de curta duração. A agressividade, que faz parte da atureza afetiva do ser humao, quado reprimida, pode se maifestar como violêcia. A dificuldade em se perceber a difereça etre ações agressivas e violetas pode promover a repressão dos aluos, os quais por acúmulo desta comportamse aida mais agressivos, criadose um ciclo do qual participam aluos e professores 9. Um ato é caracterizado como violeto quado atede, de acordo com Ferreira e Schramm 0, às seguites codições: causar dao a terceiros, usar força física ou psíquica, ser itecioal e ir cotra a votade de quem é atigido. A violêcia pode ser cosiderada sob diversas óticas, sedo, pricipalmete, classificada em social ou urbaa, psicológica e física. Lopes Neto 6 e Martis 7 ressaltaram que o bullyig ou os maustratos etre compaheiros maifestamse de diversas formas: direto e físico, iclui bater ou ameaçar fazêlo, dar potapés; direto e verbal, que egloba isultar, colocar apelidos ou ofesas verbais; idireto, que se refere a situações como excluir alguém sistematicamete do grupo de pares, ameaçar com frequêcia a perda da amizade ou a exclusão do grupo como forma de obter algo do outro ou como retaliação de uma suposta ofesa prévia, detre outros. A criaça e o adolescete são mais suscetíveis a situações violetas com as quais covivem em seu meio, quer seja ele social, familiar ou escolar. É cediço que, depois do ambiete familiar, a escola é o local que o aluo está presete a maior parte de sua vida, sedo caracterizada como o local de apredizages, estabelecedo ordes e ormas para que os aluos apredam. Sebastião et al., ao se reportarem à violêcia escolar em Portugal, efatizaram três importates aspectos: primeiro, a violêcia aumeta, em particular, as escolas situadas juto de zoas da periferia degradada, margial ou de bairros sociais; segudo, a violêcia preexiste à escola, sedo exterior à mesma, existido uma ievitabilidade a reprodução da violêcia cotextual em violêcia escolar e, terceiro, são os aluos de isucesso escolar os mais violetos e, em particular, os proveietes de miorias éticas. Maldoado 3 afirma que as criaças em idade escolar podem reproduzir comportametos que fazem parte de seu cotidiao, tedo a violêcia doméstica como um dos modelos de relacioametos presetes em seu dia a dia. Desse modo, podese supor que criaças escolares agressivas apresetam tal quadro em decorrêcia do modelo matido em seu lar. Corroborado a afirmativa de Seixas 8, o crescete iteresse pelo estudo o âmbito da violêcia escolar advém, etre outros fatores, da maior frequêcia e visibilidade que as suas maifestações têm
3 837 tido, bem como da cosequete preocupação evideciada pelos diversos profissioais e/ou iterveietes o cotexto educativo. Professores, aluos, ecarregados de educação, psicólogos são algus dos diferetes agetes que, de um modo mais direto ou mais idireto, cotatam com essa realidade. No que se refere à existêcia de lesões maxilofaciais, as regiões da cabeça e face são as áreas mais comumete atigidas em vítimas de violêcia física, correspodedo a 60,9, sedo as abrasões e equimoses as lesões mais frequetes. Ijúrias itraorais foram verificadas em 8,9 das vítimas com lesões a cabeça e face, com os tecidos moles (lábio superior, iferior e mucosa bucal) os mais lesioados (9,8) 4. Portato, com base o exposto, o objetivo deste trabalho foi ivestigar a preseça de lesões o complexo maxilofacial em criaças e adolescetes vítimas de violêcia física o ambiete escolar. lesões corporais proveietes de agressão física. Desse modo, costatouse que, do total de laudos,.070 se referiam a casos de violêcia física evolvedo criaças e adolescetes de zero a dezessete aos de idade. A amostra estudada foi composta por 4 laudos (3,9) referetes a casos cofirmados de agressões físicas cotra criaças e adolescetes o ambiete escolar, objeto de estudo do presete trabalho. O istrumeto de pesquisa cosistiu de um formulário específico, sedo os dados coletados por um úico examiador. A violêcia escolar foi estudada as seguites formas: a) etre aluos; b) de professor para aluo; c) de fucioário para aluo e d) de agetes exteros para o aluo. Foram verificadas também variáveis como gêero, idade, localização das lesões as distitas regiões do corpo, tipo e úmero de lesões presetes, acometimeto da cavidade bucal e tipo de evolvimeto tecidual. Ciêcia & Saúde Coletiva, 4(5):83584, 009 Metodologia Realizouse um estudo observacioal e retrospectivo, com abordagem idutiva e técica de observação idireta por meio da aálise de dados secudários. A pesquisa foi desevolvida o muicípio de Campia Grade (PB), localizada o agreste paraibao, a parte orietal do Plaalto da Borborema, Região Nordeste do Brasil. A cidade possui uma população de habitates e um Ídice de Desevolvimeto Humao (IDH) de 0,7. Diate de uma situação que evolve violêcia, o artigo 58 do Código de Processo Peal estabelece que Quado a ifração deixar vestígios, será idispesável o exame de corpo de delito, direto ou idireto, ão podedo suprilo a cofissão do acusado 5. Deste modo, vítimas de violêcia são ecamihadas ao Departameto de Medicia Legal para a realização do referido exame, visado à quatificação e qualificação das lesões corporais existetes. Portato, embasado a legislação brasileira, defiiuse como local de coleta dos dados a Uidade de Medicia Legal de Campia Grade (PB). O uiverso pesquisado compreedeu a aálise de.64 laudos médicos de exames de corpo de delito realizados o período compreedido etre jaeiro de 003 a dezembro de 006. Objetivado atribuir maior fidelidade aos registros, bem como recuperar iformações que porvetura ão estivessem descritas os laudos, foram também aalisados os boletis de ocorrêcia (BO), totalizado 3.48 documetos examiados. Adotouse como critério de iclusão o estudo a preseça de Aálise estatística O programa utilizado para a realização das aálises estatísticas foi o Epi Ifo 3.4. Para a aálise dos dados, foram obtidas as frequêcias absolutas e percetuais (técicas de estatística descritiva). A associação sigificativa etre as variáveis foi verificada por meio de aálise bivariada (teste exato de Fisher), cosiderado o valor para rejeição da hipótese ula de p<0,05. Este estudo foi registrado o SISNEP (CAAE ) e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Uiversidade Estadual da Paraíba. Resultados A distribuição dos laudos segudo o ao revelou que a maioria das ocorrêcias foi registrada o ao de 005 (37,5), seguido dos aos de 003 e 004, com 3,8 cada um, e de 6,7 para o ao de 006. A aálise das vítimas quato ao gêero mostra que 6,9 eram meios e 38, eram meias, correspodedo a uma proporção de,6:. Quato à faixa etária,,4 tiham etre zero e quatro aos, 7,, etre cico e oito aos, 9,5, etre ove e doze aos e 8,0, etre treze e dezessete. A média de idade foi de catorze aos (± 3,3). No tocate ao horário, 45,7 das ocorrêcias foram o turo da mahã, 40,0, à tarde e 4,3, à oite. A Tabela apreseta a distribuição das vítimas quato ao gêero segudo o horário da agressão. Quato ao agressor, a aálise dos laudos mostrou que em 7, dos casos o agressor se costi
4 838 Cavalcati AL tuiu em um professor, equato que 9,9 dos perpetradores foram colegas da vítima. Registrouse um total de 6 lesões, com média de,45 lesão por vítima. A distribuição segudo o úmero de lesões presetes revelou que 66,7 das vítimas possuíam um úico tipo de lesão (por exemplo, cotusão),,4 apresetavam dois diferetes tipos de lesões (por exemplo, cotusão e edema) e,9 tiham três diferetes tipos de lesões (por exemplo, cotusão, edema e escoriação). Ao se dicotomizar o úmero de lesões (um tipo e dois ou mais tipos), ão se observou associação com o gêero (p>0,05). Os diversos tipos de lesão ecotrados são apresetados a Tabela. No que se refere à área do corpo atigida, lesões a região da cabeça e face (CBFC) exclusivamete estavam presetes em 50,0 (=) dos laudos, coforme pode ser visto a Tabela 3. Porém, quado se verifica a existêcia de lesão essa região associada à outra área, esse percetual atige 69,. Na Tabela 4, é possível verificar a relação etre o perpetrador e a região do corpo lesioada. Observase que em 9,9 das situações o agressor se costitui em um colega da vítima. No etato, foram registrados casos de violêcia tedo como perpetrador o professor. Ao se aalisar a preseça de lesões a cavidade bucal, observouse que 3,8 da amostra possuíam ijúrias essa região. A aálise bivariada etre a preseça de lesão a cavidade bucal e o gêero ão se mostrou estatisticamete sigificate, coforme pode ser visto a Tabela 5. Dos dez casos de evolvimeto da cavidade bucal, 50,0 evolviam a maxila, 30,0, a madíbula e 0,0, ambas as regiões. O tipo de evolvimeto tecidual existete revela que 00,0 das agressões atigiram exclusivamete tecido mole, predomiado ijúrias os lábios (80,0) e a mucosa (0,0). Tabela. Distribuição das vítimas segudo o gêero e de acordo com o horário de ocorrêcia da agressão. Horário Gêero Mahã Tarde Noite * Femiio Masculio TOTAL * , 59, 45, ,5 7,3 40, ,4 3,6 4, , 6,9 00,0 * Em 7 laudos, ão há registro do horário de ocorrêcia. Tabela. Distribuição dos tipos de lesões existetes as vítimas de violêcia. Tipo de lesão presete Cotusão/edema Edema Equimose Equimose/edema Equimose/edema/outra Escoriação Escoriação/edema Escoriação/equimose Escoriação/equimose/edema Escoriação/fratura Escoriação/fratura/edema Ferimeto Fratura Outra Frequêcia ,4,4 9,5 9,5,4 4,9,4 4,8 7,,4,4 4,8,4 4,8 00,0 Tabela 3. Distribuição das lesões segudo a região do corpo atigida. Local do corpo atigido Cabeçaface Cabeçaface/troco membros superiores Cabeçaface/troco membros superiores/iferiores Membros iferiores Trocomembros superiores Trocomembros superiores/ iferiores Frequêcia ,0 6,7,4 4,8,4 4,8 00,0
5 839 Tabela 4. Distribuição das lesões as diferetes regiões do corpo, segudo o perpetrador. Agressor Professor Colega CBFC 9 66,7 48,7 50,0 CBFC/TrMS 7 7 7,9 6,6 Região do corpo atigida CBFC/TrMS/MI TrocoMS,6, ,3 0,6,4 TrMS/ MI 5, 4,8 MI 5, 4,8 * , 9,9 00,0 Ciêcia & Saúde Coletiva, 4(5):83584, 009 CBFC Cabeçaface; TrMS Trocomembros superiores; MI Membros iferiores. Tabela 5. Distribuição das vítimas segudo a preseça de lesão a cavidade bucal, de acordo com o gêero. Preseça de lesão a cavidade bucal Femiio Gêero Masculio Valor de p OR (IC95) Não Sim P=0,64 3, (0,567,0) Discussão A violêcia acomete o mudo cotemporâeo em todas as suas istâcias e se maifesta de variadas formas. Ela está presete em toda sociedade e ão se restrige a determiados espaços, a determiadas classes sociais, a determiadas faixas etárias ou a determiadas épocas. É equivocado pesar que ela se vicula apeas e diretamete à pobreza, aos grades cetros urbaos, aos adultos e aos dias de hoje. Verificase, por exemplo, o crescimeto das práticas da violêcia etre os joves de classes médias e de segmetos privilegiados da sociedade, os seus diferetes espaços de atuação: a família, a escola ou a rua 6. A existêcia de um cojuto de situações que é desigado globalmete por violêcia a escola tem dado origem, os aos mais recetes, a diversos debates públicos e a umerosas referêcias os meios de comuicação social. Um primeiro passo para a clarificação do coceito de violêcia diz respeito à compreesão da multidimesioalidade do feômeo. Agressão/perseguição psicológica, agressão física, assalto/roubo, idisciplia grave são maifestações do feômeo que o coceito de violêcia procura descrever 8,. A escola deve ser um local de bemestar e de apredizagem. O tema da violêcia escolar tem sido objeto de uma preocupação crescete as últimas duas décadas, quer por parte da sociedade em geral, quer por parte da comuidade educativa, em particular. Paralelamete a esta preocupação social, verificouse um expressivo aumeto da ivestigação sobre este tema, em particular sobre um tipo especial de violêcia escolar o bullyig o qual pode ser utilizado para coceituar a agressão sistemática e itecioal etre pares. De acordo com Goçalves et al. 4, existe grade perplexidade da parte do professor que, muitas vezes, fica sem saber como agir para resolver e preveir os múltiplos coflitos que surgem o cotidiao escolar. O que se observa é que, a maioria das vezes, ele tem muitas dificuldades de lidar com as situações de coflito, de forma a propiciar ao aluo experiêcias educativas de iteração social costrutiva que favoreçam a sua formação ética e miimizem a violêcia a escola. Em cotrapartida, pesase que a escola é o espaço por excelêcia em que o idivíduo tem possibilidades de viveciar de modo itecioal e sistemático formas costrutivas de iteração, adquirido um saber que propicie as codições para o exercício da cidadaia. A área da saúde tem, tradicioalmete, cocetrado seus esforços em ateder os efeitos da violêcia: a reparação dos traumas e lesões físicas os serviços de emergêcia, a ateção especializada, os processos de reabilitação, os aspectos médicolegais e os registros de iformações. Ulti
6 840 Cavalcati AL mamete, sobretudo em relação a algus agravos, como violêcia cotra a criaça e a mulher, começa a haver uma abordagem que iclui aspectos psicossociais e psicológicos, tato em relação ao impacto sobre as vítimas como em relação à caracterização do agressor 7. O objeto da presete pesquisa foi estudar as lesões maxilofaciais existetes em criaças e adolescetes vítimas de violêcia o ambiete escolar. Nesse setido, é relevate destacar o ieditismo do estudo, visto que ão foram ecotrados trabalhos semelhates a literatura acioal e iteracioal que teham procurado estudar essa relação, o que dificultou sobremaeira a comparação dos resultados obtidos. Outro importate aspecto referese à amostra aalisada, a qual foi composta por laudos médicos de exames de corpo de delito de vítimas de agressão o ambiete escolar, existido uma miuciosa descrição da quatificação e qualificação das lesões presetes. Este estudo revelou uma maior predomiâcia de vítimas do gêero masculio, cocordado com o estudo de Martis 7. Etretato, Lopes Neto 6 e Seixas 8 relataram que as difereças relativas ao gêero ão são muito evidetes o seio de cada grupo, existido uma ligeira superioridade o gêero masculio o caso dos aluos agressores e vítimasagressivas, e o gêero femiio, o caso dos aluos vítimas. A aálise da idade mostra que 8,0 das vítimas tiham acima de treze aos de idade. Tais dados discordam de Carvalhosa et al., os quais relataram que os aluos mais ovos são mais frequetemete vitimados do que os aluos mais velhos. É lícito salietar a peculiaridade do presete estudo, o qual aalisou dados secudários. É cediço que muitas das situações de violêcia ão são reportadas, pricipalmete quado evolvem criaças pequeas. Neste estudo, os próprios colegas de escola foram os perpetradores mais frequetes (9,9), demostrado o comportameto agressivo existete etre os próprios estudates 6. Cotudo, registros de agressão por parte de professores também foram ecotrados. É um achado comum que, quado um idivíduo é agredido por qualquer razão, às áreas da cabeça e face, frequetemete, estão evolvidas. Portato, ão se costitui uma surpresa o fato de que em criaças abusadas fisicamete essas regiões sejam atigidas 4,8. Os daos que acometem o sistema estomatogático devem ser avaliados pelo cirurgiãodetista, que tem competêcia legal para realizar perícias, etre elas as de lesões em vítimas que sofreram daos corporais e/ou fucioais a região correspodete à sua área de atuação 9. A aálise das lesões segudo a região do corpo atigida revela que em 69, dos laudos existiam registro de lesões a região da cabeça e face, valores estes superiores aos 60,9 ecotrados por Cavalcati 4 em criaças e adolescetes vítimas de agressão física em estudo realizado o muicípio de João Pessoa, Paraíba. Esses úmeros corroboram a assertiva de que estas áreas se costituem o pricipal local a ser lesioado quado da violêcia física. A cavidade bucal, por sua vez, foi ijuriada em 3,8 dos casos, existido uma distribuição similar etre os maxilares superior e iferior, e havedo um predomíio de ijúrias aos tecidos moles. Cavalcati 4 reportou 8,9 de lesões a cavidade bucal, sedo os tecidos moles os mais atigidos, cofirmado os achados desta pesquisa. Na verdade, o essecial das ocorrêcias violetas a escola ão cosiste em ações de grade violêcia cometidas por grupos de joves margiais, mas traduzse em situações de pequea violêcia cotidiaa etre aluos (agressões, itimidação, perseguição e ameaça), geralmete de aluos mais velhos sobre os mais ovos, dos mais fortes sobre os mais fracos. Deste modo, os empurrões, os potapés e tapas e pode ser cosiderados habituais. Martis 7 acresceta aida que a criaça vitimada pode estar em desvatagem umérica, ou só etre muitos, ser meos forte, ou simplesmete ser meos autocofiate. A adolescêcia é uma etapa do desevolvimeto humao em que as patologias ão são tão frequetes, ou seja, esperase que a morbidade este grupo ão seja elevada 0. Além da violêcia física, criaças e adolescetes pobres estão, frequetemete, sujeitos também à violêcia psicológica que se maifesta os processos de avaliação e as formas de iteração que se estabelecem etre diretores, professores, fucioários, aluos e resposáveis. Dada a loga experiêcia da saúde pública a iterveção comuitária, este é um âmbito ode ela pode lograr êxito, caso se articule ao serviço social e de orietação familiar, em sua atuação de preveção em todos os íveis. Os dados que se tem hoje, o país, sobre este tipo de violêcia, são escassos e pobres, por se tratar de um problema em que a preveção tem que atuar, em primeiro lugar, a sesibilização e o avaço da cosciêcia social 6. O comportameto agressivo é um dos problemas associados à exposição das criaças à violêcia doméstica, fazedo parte dos sitomas de distúrbios emocioais e dos problemas de comportameto causados por este tipo de violêcia 3. A despeito da extesiva busca realizada a literatura, ão se obteve sucesso em localizar estudos
7 84 semelhates que teham procurado relacioar a existêcia de lesões o complexo maxilofacial e a violêcia o ambiete escolar. Este estudo realizado com laudos médicos de exames de corpo de delito revela dois importates aspectos: o primeiro expõe um ovo campo de estudos para pesquisadores das áreas de educação e das ciêcias da saúde; o segudo, cofirma a importâcia da odotologia o diagóstico de lesões as regiões da cabeça e face em vítimas de violêcia física. A estes fatos, somase a ecessidade da realização de estudos adicioais, epidemiológicos ou ão, que visem determiar ão somete os perfis da vítima e do perpetrador, mas também idetificar e descrever as iúmeras lesões que podem acometer os maxilares. Ciêcia & Saúde Coletiva, 4(5):83584, 009 Coclusão Apesar da pequea amostra aalisada, a existêcia de ijúrias a cavidade bucal em vítimas de agressão o ambiete escolar mostrouse elevada, demostrado ser importate a realização de ivestigações futuras, que busquem estudar a preseça e a distribuição de lesões o complexo maxilofacial. Agradecimetos O autor agradece o auxílio fiaceiro recebido do Coselho Nacioal de Desevolvimeto Cietífico e Tecológico, Processo /004. Agradecimetos são dirigidos também ao Dr. Jaime Rodrigues de Melo Filho, Diretor da Uidade de Medicia Legal de Campia Grade (PB).
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