VI SEMINÁRIO DE PRÁTICA DE PESQUISA EM PSICOLOGIA ISSN: Universidade Estadual de Maringá 26 a 27 de Janeiro de 2017
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1 PROFESSORES READAPTADOS E A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE: REFLEXOES INICIAIS A PARTIR DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL Vivian Reis Liberato (Prática de Pesquisa II. Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá. Maringá, PR, Brasil); Záira Fátima de Rezende Gonzalez Leal. (Orientadora Prática de Pesquisa II. Departamento de Psicologia,. Maringá, PR, Brasil.) contato: vivianliberato5@gmail.com zairaleal@yahoo.com.br Palavras-chave: Psicologia Histórico-Cultural. Personalidade. Professores. Readaptação escolar. A presente pesquisa objetivou o levantamento de bibliografia acerca da temática e estabelecimento de uma relação entre estudo do processo de personalização a partir da Psicologia Histórico-Cultural e a readaptação escolar. A personalidade, segundo a abordagem proposta. Optamos por utilizar esse espaço de pesquisa para um aprofundamento sobre essa temática. Para realizar esse intento antes tivemos que compreender o método Materialista Histórico Dialético. O homem é um ser em constante contato com diferentes estímulos e vivências no decorrer de sua vida, e tudo isso vai compondo sua personalidade. Esse processo de personalização é permitido, segundo Leontiev, por conta da atividade que o homem realiza no mundo. Atividade é o conceito que o autor usa para explanar como os homens se colocam no mundo como seres capazes de transformar a natureza em seu próprio uso, bem como aprender e conhecer o que já foi construído e aprendido pela humanidade o qual é conhecido como gênero humano. O gênero humano diz respeito a tudo que já foi construído, produzido e internalizado pelos homens no decorrer da história da espécie. Conforme os indivíduos entram em contato com essas aprendizagens, vão se humanizando e se colocando como ser social na época e meio onde vive. A atividade se manifesta em ações e operações, os quais possibilitam a objetivação o sujeito se objetiva no objeto, imprime suas características nele; e a internalização o sujeito apreende o objeto e seu significado, inclui seu aprendizado na sua vida. Nesse sentido, toda atividade sempre será norteada por um motivo que desencadeia sua necessidade, ou seja, essa aprendizagem e inserção no mundo do indivíduo não é aleatória, mas com um propósito, por exemplo, aprendemos a ler para conseguirmos nos
2 comunicar, do mesmo modo que aprendemos a cozinhar para preparar o alimento que sacia nossa fome, e assim por diante. Os motivos da atividade podem ser distinguidos de duas maneiras diferentes: motivos estímulos que impulsionam a atividade; e motivos geradores de sentido aqueles dão sentido a realização da atividade. Além dos motivos e das necessidades, toda atividade acompanha uma vivência emocional, ou seja, uma emoção. A emoção trata-se de um sinal interno ao ser humano que tem estreita relação com o seu motivo, as emoções podem se tornar mais corriqueiras e compor um sentimento. Emoções e sentimentos acompanharão e motivarão sempre a atividade, tanto positiva quanto negativamente. Assim, em todos os momentos da vida somos expostos às mais diferentes formas de aprendizado e transformação, por isso, a atividade é algo que nunca acaba enquanto vivermos no mundo. Expostos a tudo isso, o indivíduo tem uma impressão inicial e um aprendizado tirado disso, trata-se do reflexo psíquico da atividade. O reflexo psíquico é como o homem internaliza aquilo que foi realizado e aprendido na atividade. Dialeticamente, a esse reflexo o homem dará uma explicação e uma maneira de percepção que lhe é própria, a essa subjetivação damos o nome de sentido pessoal, pois trata-se de como o indivíduo percebe e entende aquilo que lhe foi exposto ou ensinado. Ele é pessoal porque é próprio de cada um também porque o tipo e as formas como as relações estabelecidas na vida de cada um, sejam elas familiares, escolares, econômicas e políticas, influenciará a construção do sentido pessoal. Esse sentido pessoal será um dos componentes da constituição da personalidade e é o início da construção do individual perante aquilo que foi aprendido. Percebemos então que a personalidade engloba a forma como o homem apreende o mundo e como estabelece a relação com ele. Tendo em vistas os preceitos da Psicologia Histórico-Cultural, temos que o trabalho é atividade fundamental do ser humano, é por meio dela que apreendemos o mundo e o transformamos conforme nossas necessidades. O homem é o único animal capaz de realizar tal façanha de controlar a natureza conforme queira e precise para viver. A partir disso, podemos pensar hoje, inseridos em uma sociedade capitalista que vê o trabalho como atividade principal não apenas para transformar a natureza para sobreviver, mas também como única forma de subsistência, que leva ao acúmulo de riqueza e influencia no desenvolvimento da identidade e personalidade das pessoas. Pensando nisso, nos propusemos a estudar uma classe trabalhadora que se faz presente na vida de todos e que é crucial para a apropriação do que o gênero humano construiu: os
3 professores. Eles são responsáveis pela mediação entre os alunos e o conhecimento científico produzido pela humanidade, detém uma posição importantíssima no desenvolvimento humano e educação científica. É imprescindível a presença de um professor para a educação de uma pessoa, tendo em vista as formas de organização que se tem na sociedade capitalista contemporânea, sendo que é na escola que as crianças começam seus primeiros contatos com os conhecimentos científicos. Entretanto, vivemos uma época de sucateamento das condições de trabalho que propiciam que a finalidade do trabalho do professor, que é o ensino, não seja realizada com qualidade, sobretudo nas escolas da rede pública. Empecilhos como falta de investimento em infraestrutura, carga horária excessiva, problemas interpessoais dentro das escolas, violência escolar tanto verbal, simbólica ou física indisciplina em sala de aula, remunerações baixas, o que demanda que os professores tenham uma carga horária exaustiva para que consigam sobreviver. Esse mal-estar docente tem levado ao aumento do número de solicitação de readaptação funcional. Trata-se de um afastamento da função de professor em sala de aula a partir de laudos que certifiquem que o professor ou professora não está em condições de desempenhar mais a sua função. Uma vez readaptado, o professor passa a desempenhar outras funções na escola, diferentes de dar aula, como supervisão, secretaria, biblioteca, cantina. Em entrevistas e questionários realizados nessa pesquisa coletamos dados de 10 profissionais da educação que se encontram readaptados. As 10 são mulheres, 5 delas se propuseram a serem entrevistadas e as outras 5 optaram apenas por responder os questionários. Todas trabalhavam em escolas na rede estadual da cidade de Maringá. Os dados coletados nos auxiliam a entender um pouco melhor a readaptação. De forma bem geral temos alguns dados parciais: três professores foram readaptadas por problemas na voz, que havia sido desgastada por uso excessivo. Seis foram readaptadas por problemas de ordem psíquica, entre eles depressão e Síndrome do Pânico. Sendo que uma dessas, teve depressão após ter um câncer, mas ainda assim, retratou muita insatisfação com a situação da educação e sobretudo disciplina em sala de aula. E uma foi readaptada por conta de doença degenerativa. Todas tomavam remédios, sendo que apenas três não tomam nenhum remédio de ordem psíquica, apenas para problemas de ordem física. Todas elas também relataram que há um preconceito muito grande sobre os professores readaptados dentro da própria comunidade escolar, como se fosse uma frescura, porque não aguentaram os problemas da sala de aula e também estão tirando trabalho de outros funcionários.
4 Estabelecida essas duas questões estamos tentando estabelecer uma relação de análise entre o fenômeno da readaptação escolar e a constituição da personalidade. Até agora conseguimos perceber que entre as professoras há ainda uma visão inatista de personalidade. Questionadas se acreditavam que a readaptação interferiu na personalidade, algumas delas respondem que sim, pois passaram por episódios que as deixaram mais fortes, que contribuíram para que olhassem melhor para si mesmas e refletissem sobre seu trabalho. Outras colocaram que não houve mudança, algumas pela percepção que a personalidade já estava formada até então ou então porque se consideram a mesma pessoa, nas palavras delas. Sobre a relação que podemos fazer até agora percebemos que o fenômeno que está levando ao mal-estar docente é uma mudança na finalidade da educação escolar. A atividade de educar está pautada por problemas de ordens maiores, como falta de infraestrutura, professores exaustos, desrespeito dos alunos, entre outros. Há também uma visão de educação muito destorcida, a escola é hoje vista com a finalidade de lugar onde as crianças possam ficar enquanto seus pais trabalham, e não um espaço de desenvolvimento humano e científico. Essa distorção da finalidade da atividade educativa se reflete também nos professores, pois os motivos que lhes impulsionavam em ter prazer em educar e ensinar não existe mais, uma vez que não há incentivo por conta dos pais e de toda sociedade. A atividade docente tem para muitos professores apenas a finalidade salarial, não há mais uma finalidade de promover desenvolvimento humano. Percebemos, então, que essa inversão de finalidades e motivos de atividade contribuem, muitas vezes, para o adoecimento psíquico do professor que culmina na readaptação escolar e cada vez um maior sucateamento da educação pública. Dessa forma, continuaremos com a análise das entrevistas para elucidar melhor essa relação entre personalidade e readaptação escolar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASBAHR.F.S.F. Sentido pessoal, significado social e atividade de estudo: uma visão teórica. Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 18, Número 2, Maio/Agosto de 2014: CANTARELLI, A. G. A subjetividade como intersubjetividade: a personalidade do professor e as suas relações com a prática docente. Dissertação de Mestrado em Psicologia.
5 . 2014, Maringá- Pr. ELKOIN, D.B. Enfrentando o problema dos estágios no desenvolvimento mental das crianças. Trad. Maria Luiza Bissoto. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 43, p , jan./mar Editora UFPR. KRUGMANN, Taís Francéli. Histórias De Vida De Professores Em Processo De Readaptação Funcional. Dissertação de mestrado. UFMS. Campo Grande, MS, LIMA, Eliane. Trabalho, Atividade Docente e Processo de Personalização: um estudo a partir da Psicologia Histórico Cultural. Dissertação de Mestrado. UEM. Maringá, Pr, LEÓNTIEV, A.N. Atividade, Consciencia y personalidad. Ediciones Ciencias del Hombre. Buenos Aires, Argentina, LESSA, S. & TONET, I. Introdução à Filosofia de Marx São Paulo: Expressão Popular. MARTINS, Lígia Márcia. Análise sócio-histórica do processo de personalização de professores. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Educação, Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP. Marília, MARTINS, Lígia Márcia. As aparências enganam: divergências entre o materialismo histórico dialético e as abordagens qualitativas de pesquisa. In: TULESKI, S. C. & CHAVES, M. & LEITE, H. A (orgs). Materialismo histórico dialético com fundamento da psicologia histórico-cultural: método e metodologia de pesquisa. Maringá, EDUEM, NAGEL, H.L. Pensando o método que conduz a análise. In: TULESKI, S. C. & CHAVES, M. & LEITE, H. A (orgs). Materialismo histórico dialético com fundamento da psicologia histórico-cultural: método e metodologia de pesquisa. Maringá, EDUEM, SILVA, F. G. Subjetividade, individualidade, personalidade e identidade: concepções a partir da psicologia histórico-cultural. Psic. da Ed., São Paulo, 28, 1º sem. de 2009, pp TULESKI, S. C.. VIGOSTSKI, a construção de uma psicologia marxista. 2ᵃedição. EDUEM, Maringá, Paraná.
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