Aula nº PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO (ARTS. 346 A 351).
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- Ágatha Paixão
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1 Página1 Curso/Disciplina: Direito Civil Objetivo Aula: Direito das Obrigações 11 Professor(a): Rafael da Mota Mendonça Monitor(a): Sarah Padilha Gonçalves Aula nº PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO (ARTS. 346 A 351). Segundo o léxico CALDAS AULETE, sub-rogação é o ato de sub-rogar. Ato pelo qual se substitui uma pessoa ou coisa em lugar de outra. (For.) Ato pelo qual o indivíduo que paga pelo devedor com o consentimento deste, expressamente manifestado ou por fatos donde claramente se deduza, fica investido nos direitos do credor (Cód. Civ. Port., art. 778). F. Lat. Subrogatio Quando um terceiro paga ou empresta o necessário para que o devedor solva a sua obrigação, operar-se-á, por convenção ou em virtude da própria lei, a transferência dos direitos e, eventualmente, das garantias do credor originário para o terceiro (sub-rogado). Há, portanto, dois efeitos necessários da sub-rogação: liberatório (pela extinção do débito em relação ao devedor original) e translativo (pela transferência da relação obrigacional para o novo credor). O principal efeito da sub-rogação é, exatamente, transferir ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e seus fiadores (art. 349 do CC/2002). Dessa forma, se o credor principal dispunha de garantia real (uma hipoteca ou um penhor, por exemplo) ou pessoal (fiança), ou ambas, o terceiro sub-rogado passará a detê-las, podendo, pois, tomar as necessárias medidas judiciais para a proteção do seu crédito, como se fosse o credor primitivo. Art A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e fiadores. Contudo, há que se avaliar se o crédito foi constituído intuitu personae, não comportando desse modo a transferência do credor originário para o solvens. Trata-se, neste caso, da mera substituição do CREDOR por um terceiro que efetua o pagamento, MANTENDO-SE os demais elementos obrigacionais, caso dos acessórios da dívida (juros, multa, garantia e fiança). NÃO CONFUNDA: Pagamento com Sub-Rogação X Cessão de Crédito Não há que se confundir, todavia, o pagamento com sub-rogação com a mera cessão de crédito, visto que, nesta última, a transferência da qualidade creditória opera-se sem que tenha havido o pagamento da dívida.
2 Página2 Os direitos do cessionário decorrem de um contrato sujeito aos requisitos de validade dos negócios jurídicos em geral, enquanto os direitos do sub-rogado derivam do próprio pagamento, resultando daí, as seguintes diferenças, dentre outras: a) na sub-rogação, a obrigação do devedor limita-se ao valor do que efetivamente foi desembolsado pelo sub-rogado, ao contrário do cessionário, cujo crédito pode ser exigido integralmente, independentemente do valor efetivamente pago na cessão. b) a prescrição começa a correr a partir da SUB-ROGAÇÃO, ao contrário da prescrição incidente sobre o crédito cedido, que não tem o seu curso interrompido com a CESSÃO; c) o cedente assegura ao cessionário a existência do crédito, o mesmo não ocorrendo na sub-rogação; d) quem não tem capacidade para alienar, pode sub-rogar, mas não ceder. Assim, ocorre pagamento com sub-rogação quando Caio paga a dívida de Tício, sub-rogando-se nos direitos do credor Mévio. Diferentemente, haverá simples cessão de crédito quando o credor Mévio, por força de estipulação negocial, transfere o seu crédito a Caio, de forma que este, a partir daí, possa exigir o pagamento da dívida, notificando o devedor para tal fim Modalidades de sub-rogação Sub-rogação legal (de pleno direito pleno iure ou automática). Em três hipóteses configura-se a sub-rogação legal, ou seja, de pleno direito (art. 346 do CC/2002): Art A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: I - do CREDOR que paga a dívida do devedor comum; II - do ADQUIRENTE do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do TERCEIRO que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; III - do TERCEIRO INTERESSADO, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte. Vejamos cada uma delas separadamente. I - em favor do credor que paga a dívida do devedor comum (inciso I) Pode ser ilustrada em três situações: - Se duas ou mais pessoas são credoras do mesmo devedor (ou seja, são CO-CREDORAS) operar-se-á a sub-rogação legal se qualquer dos sujeitos ativos pagar ao credor preferencial o valor devido.
3 Página3 - Da mesma maneira, haverá interesse no pagamento, estando os credores na mesma classe, se o segundo pagar ao primeiro (cuja dívida venceu em 1 lugar) passando a substituí-lo em todos os seus direitos. Ex.: Também, pode acontecer que um credor hipotecário, com segunda hipoteca sobre determinado imóvel do devedor, queira pagar ao titular do crédito, com primeira hipoteca sobre essa mesma coisa, sub-rogando-se nos direitos deste, executando, depois, os dois créditos hipotecários, sem ficar aguardando que o primeiro seja executado para, em seguida, executar o segundo sobre o saldo que restar da primeira execução - Por fim, e embora a hipótese seja pouco factível, a sub-rogação também se dará em créditos sem direito de preferência, uma vez que o CC/02 suprimiu tal exigência na previsão constante do inciso correspondente II - em favor do adquirente do imóvel hipotecado, que paga ao credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado do direito sobre o imóvel (inciso II) A HIPOTECA é um direito real de garantia incidente sobre imóveis. Em geral, quando uma pessoa pretende obter um empréstimo, o credor, antes de fornecer o numerário, costuma exigir garantias e, em especial, uma garantia real, a exemplo da hipoteca de um imóvel do devedor (uma fazenda, por exemplo). Nesse caso, o proprietário terá o seu bem gravado (pela hipoteca), podendo o credor hipotecário reavê-lo em mãos de quem quer que seja, por força do chamado direito de sequela. Tendo isso em mente, vemos que a sub-rogação legal ilustrada no inciso II é a seguinte: Nada impede, porém, que o devedor aliene o bem hipotecado a um terceiro, ciente da hipoteca (aliás, toda hipoteca deve ser registrada no Cartório de Registro Imobiliário). Este adquirente (o comprador da fazenda), portanto, objetivando liberar o imóvel, poderá pagar a soma devida ao credor hipotecário, subrogando-se em seus direitos. Embora se trate de hipótese não muito frequente, não é impossível ocorrer, e, no caso, paga a dívida, poderá o terceiro adquirente, sub-rogado nos direitos do credor, exigi-la do devedor. Ex.: A compra o imóvel de B, imóvel este que foi dado em garantia (hipoteca) sobre dívida devida por b a C. C é, portanto, o credor hipotecário. Se A, objetivando liberar seu imóvel da garantia real gravada neste, pagar a C a divida devida por B, A se subrogará nos direitos de credor de C. Na parte final deste inciso, inovou o Código Civil de 2002, ao reconhecer a incidência da sub-rogação legal também na hipótese de um terceiro efetivar o pagamento para não ser privado de direito sobre o imóvel. No caso, não se trata do terceiro que adquire imóvel hipotecado, pois essa hipótese está contida na primeira parte da norma. A previsibilidade legal compreende situações outras, de pessoas que tenham algum direito sobre o imóvel, e, para não perdê-lo, pagam a dívida do proprietário, sub-rogando-se nos direitos do credor. Ex.: Promitente comprador de um imóvel que paga a dívida do proprietário (promitente vendedor), por considerar que o credor poderia exigir a alienação judicial do bem, objeto do compromisso de venda; III - em favor do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte (inciso III)
4 Página4 Esta é a hipótese mais comum de sub-rogação legal. Opera-se quando um terceiro, juridicamente interessado no cumprimento da obrigação, paga a dívida, sub-rogando-se nos direitos do credor. É o que ocorre no caso do fiador, que paga a dívida do devedor principal, passando, a partir daí, a poder exigir o valor desembolsado, utilizando, se necessário, as garantias conferidas ao credor originário. É o que ocorre, também, quando um dos devedores solidários paga a dívida ao credor comum. Lembre-se de que o TERCEIRO NÃO INTERESSADO que paga a dívida em seu próprio nome tem direito a reembolsar-se, embora não se sub-rogue nos direitos do credor (art. 305 do CC/2002) Até aqui tratamos de hipóteses de sub-rogação legal, quer dizer, operada por força de lei, devendo ser interpretadas RESTRITIVAMENTE, por serem relacionadas de forma taxativa (numerus clausus). Obs.: Na sub-rogação legal, o sub-rogado (novo credor) somente poderá exercer os direitos e as ações do credor até à SOMA QUE TIVER DESEMBOLSADO para desobrigar o devedor (art. 350, CC). Art Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor. Assim, se a dívida vale R$ 1.000,00, e o terceiro juridicamente interessado (fiador) obteve desconto e pagou apenas R$ 800,00 com a devida anuência do credor, que emitiu quitação plena e irrevogável, só poderá exercer os seus direitos e garantias contra o devedor até o limite da soma que efetivamente desembolsou para solver a obrigação (R$ 800,00). Não poderá, pois, cobrar do devedor R$ 1.000,00, sob pena de caracterizar enriquecimento sem causa (ilícito). Trata-se, no caso, de uma restrição apenas imposta à sub-rogação legal, haja vista que, na convencional, inserida no campo da autonomia privada, as partes têm liberdade para estipularem a mantença ou não de garantias e o alcance dos efeitos jurídicos do pagamento. Sub-rogação convencional (pagamento indireto) - terceiro desinteressado Nada impede, outrossim, dentro do campo de atuação da autonomia da vontade e da livre-iniciativa, que as próprias partes, fora das hipóteses supra, admitam a sub-rogação por simples estipulação negocial. Trata-se da denominada SUB-ROGAÇÃO CONVENCIONAL ou VOLUNTÁRIA, a seguir analisada. Esta forma de sub-rogação decorre da vontade das próprias partes e é disciplinada pelo art. 347 do CC/2002: Art A sub-rogação é convencional: I - quando o CREDOR recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos; II - quando TERCEIRA PESSOA empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito. I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transmite todos os seus direitos (inciso I)
5 Página5 Trata-se de situação muito semelhante à cessão do crédito, sendo-lhe, inclusive, aplicadas as mesmas regras (art. 348 do CC/2002). Todavia, consoante já advertimos, o fato de haver semelhança não significa dizer que os institutos jurídicos sejam idênticos. A cessão, que poderá inclusive ser gratuita (prescindindo, pois, de pagamento), não se submete aos limites impostos pelo Código ao pagamento com sub-rogação (art. 350 do CC/2002). Além disso, na cessão de crédito, a cientificação do devedor é também condição indispensável para que o ato tenha eficácia jurídica, uma vez que a sua ciência é um imperativo lógico do princípio da boa-fé, pois, se o devedor pagar a prestação ao credor original (que, de má-fé, não o cientificou de já ter recebido o pagamento de terceiros), não há como exigir do solvens a ideia de quem paga mal paga duas vezes, por não ter o dever de investigar o credor sobre tal circunstância; II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito (inciso II) Nesse caso, a pessoa que emprestou o numerário (mutuante), para que o devedor (mutuário) pagasse a soma devida, no próprio ato negocial de concessão do empréstimo ou financiamento ESTIPULA, EXPRESSAMENTE, que ficará sub-rogado nos direitos do credor satisfeito. Ex.: Se A empresta um valor a B, sob a condição de sub-rogar-se nos direitos do credor primitivo, poderá não apenas exigir o reembolso do que pagou, mas também utilizar-se das eventuais garantias pactuadas em prol do credor inicial. Tudo dependerá da forma pela qual a sub-rogação fora prevista no contrato. Esse caso, lembra-nos SÍLVIO VENOSA, ocorre com muita frequência nos financiamentos dos bancos ditos sociais. As Caixas Econômicas costumam liquidar os débitos dos devedores com instituições privadas, fornecendo financiamentos em condições mais favoráveis Observações finais Obs.: Para que as Obs¹.: Na sub-rogação legal, o sub-rogado (novo credor) somente poderá exercer os direitos e as ações do credor até à SOMA QUE TIVER DESEMBOLSADO para desobrigar o devedor (art. 350, CC). Art Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor. Obs²: Se houver concorrência de direitos entre o credor originário e o credor sub-rogado, ao primeiro assistirá preferência na satisfação do crédito. Art O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever. Ex.: se A é credor de R$ 300,00 em face de B, e C (credor sub-rogado) paga-lhe apenas parte da dívida (R$ 150,00), ficará sub-rogado em seus direitos até essa quantia. Pois bem. Suponhamos que o patrimônio de B não seja suficiente para saldar os dois créditos concorrentes (de A e C). Nesse caso, por expressa
6 Página6 determinação legal (art. 351 do CC/2002), o credor originário terá preferência ao sub-rogado, se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever.
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