Bateria Arizona para Desordens de Comunicação e Demência (ABCD): experiência brasileira.
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- Ana Rosa Soares
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1 Bateria Arizona para Desordens de Comunicação e Demência (ABCD): experiência brasileira. Palavras chave: linguagem, demência, cognição. Introdução e objetivo No processo de envelhecimento humano, enquanto algumas habilidades cognitivas melhoram, outras permanecem estáveis ao lado de perdas frequentemente compensadas por mecanismos intra e intersistêmicos 1. As memórias de curto e longo prazo (episódica e operacional) estão entre as que podem sofrer perdas no curso do envelhecimento 2. Na memória operacional, o sistema executivo-central, responsável pela capacidade de manipular informações e gerenciar a atenção dividida, pode estar alterado, já ao início desse processo 2,3. Modificações na pirâmide populacional têm demonstrado grande aumento do número de idosos, apontando para necessidade de se investir no envelhecimento saudável e diagnosticar alterações cognitivas que possam comprometer a funcionalidade e qualidade de vida dos idosos e cuidadores 1. Entre as alterações cognitivas, a doença de Alzheimer (DA) é a mais prevalente e se define pela presença de distúrbio de memória associado ao de uma ou mais funções cognitivas 4. A linguagem pode se apresentar comprometida desde o início da DA, porém, na maioria dos casos, vem associada a modificações nas habilidades de atenção e memória. Descrições clássicas caracterizam as alterações de linguagem, principalmente em aspectos léxico-semânticos e reconhecem preservação dos fonológicos e sintáticos. Descrições recentes enfatizam a permanência de conhecimentos de linguagem memorizados no sistema implícito 1. A avaliação de aspectos lingüístico-cognitivos é decisiva para diagnosticar precocemente a doença, já que o diagnostico definitivo só é obtido pos-mortem 1. Assim, é necessário um instrumento de avaliação capaz de identificar e quantificar alterações, no espectro do processo de envelhecimento. Portanto, este estudo teve como objetivo explorar a aplicabilidade da Bateria Arizona para Desordens de Comunicação e Demência (Arizona Battery for Communication Disorders - ABCD), em população brasileira, identificando o desempenho de indivíduos sadios e com alterações que possam indicar a necessidade de complementação de investigações para identificar quadros demenciais. Métodos a) Critérios de Inclusão Foram incluídos os indivíduos com escolaridade superior a 4 anos. Os indivíduos sadios deveriam obter escores compatíveis com a normalidade para a população brasileira nos seguintes testes e questionários de rastreio cognitivo e funcional: Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) 5,
2 Escala de Atividades Funcionais de Pfeffer 6 e Questionário para Informante de Declínio Cognitivo no Idoso (IQCODE) 6. Os pacientes com alteração cognitiva receberam diagnóstico médico de DA, segundo critérios do DSM-IIIR 7. b) Critérios de exclusão Foram excluídos os indivíduos (grupo controle) que apresentaram alteração de linguagem prévia, evidência de doenças neurológicas com efeito na percepção ou cognição, evidência de doenças psiquiátricas; utilização crônica de álcool ou de drogas ilícitas; uso de medicamentos em doses que pudessem exercer prejuízo na cognição; alteração de percepções auditivas e/ou visuais, não compatíveis com a funcionalidade. Para o grupo DA, foram excluídos os indivíduos que com alteração de auditivas e/ou visuais, não corrigidas. c) Casuística Foram avaliados 50 idosos normais e 25 com diagnóstico de DA (Tabela 1). Todos foram examinados individualmente, em ambiente silencioso. Os instrumentos para inclusão e a bateria ABCD foram aplicados por fonoaudiólogos com experiência na avaliação de pacientes adultos com alterações lingüístico-cognitivas. d) Instrumento A ABCD 8 é uma bateria designada para identificar e qualificar déficits lingüístico-cognitivos associados a todos os estágios das demências. É composta por 17 subtestes divididos em cinco domínios: estado-mental, memória episódica (recontagem imediata e tardia de estória e aprendizado de palavras), expressão lingüística (descrição de objetos, nomeação por confrontação visual e definição de conceitos), compreensão lingüística (seguir ordens, questões comparativas, repetição e compreensão de leitura), construção visual-espacial (desenho livre e cópia de figuras). Na ABCD, a memória operacional não é avaliada por subtestes específicos; as provas de seguimento de ordens e repetição que exigem retenção e manipulação de material verbal prestam-se à observação da preservação de memória operacional. g) Análise Estatística Foram comparadas as médias, desvio-padrão e variações entre os 2 grupos para as variáveis demográficas e para todos os subtestes da ABCD. Para comparação das variáveis categóricas (gênero), foi utilizado o teste do Qui-Quadrado. Para comparação das demais variáveis entre os grupos, foi usado o teste t de Student. O nível de significância adotado foi de 5%. O programa estatístico utilizado foi SPSS para Windows versão 10.0.
3 Resultados A tabela 1 traz dados demográficos e clínicos dos sujeitos e a tabela 2, os resultados de desempenho na ABCD. Tabela 1 Dados demográficos e clínicos dos sujeitos Variável Controles- M (SD) DA - M (SD) Variação Idade 75,5 (4,7) 77,9 (5,6) Escolaridade 9 (4,6) 9,1 (7,4) Gênero M 21 8 F MEEM 27,2 (1,9) 21 (3,3) p 0,078 0,961 0,458 Tabela 2 - Resultados obtidos nas provas da bateria Arizona Variável Controles- M (SD) Estado mental 12,3 (0,7) Recontagem imediata de estória 11,8 (2) 7-15 Aprendizado de palavras evocação 6,4 (1,9) livre 2-11 Aprendizado de palavras evocação 15,1 (4) com pistas 9-25 Aprendizado de palavras - 45 (2,8) reconhecimento Recontagem tardia de estória 11,2 (2,3) 6-15 Total Memória Episódica 89,5 (8,3) Média Memória Episódica 17,9 (1,6) 13,8-21 Descrição de objeto 8,5 (2,3) 4-13 Geração de nomes 11,1 (2,8) 5-18 Nomeação por confrontação 14,3 (2,4) 8-18 Definição de conceito 44,3 (11,7) Total Expressão Lingüística 82,8 (9,5) Média Expressão Lingüística 19,5 (3,7) 10,3 24,5 Seguimento de ordens 8,6 (0,6) 6-9 Questões comparativas 5,7 (0,5) 4-6 DA- M (SD) 8,9 (2,4) ,2 (2,6) ,7 (1,5) (4) ,5 (8,4) ,8 (3,4) ,2 (15,7) ,2 (3,1) 5,2 15,8 5,4 (1,3) 2-8 7,5 (2,1) (3,5) ,8 (10,3) ,7 (14,2) ,6 (3,5) 6,8-22 6,9 (1,2) (0,8) 3-6 p
4 Repetição 70,8 (4) Compreensão de leitura - palavra 7,5 (0,6) 6-8 Compreensão de leitura - frase 6,2 (0,9) 3-7 Total Compreensão Lingüística 98,9 (4,9) Média Compreensão Lingüística 19,8 (1,3) 16,8-26 Geração de desenho 12,7 (1,6) 6-14 Cópia de figura 11,2 (1,2) 7-13 Total Construção Visuoespacial 23,9 (2,1) Média Construção Visuoespacial 11,9 (1) 8,5-13 Total Geral Bateria Arizona 69,2 (5,1) 56,8 76,9 64,1 (5,8) ,5 (1) 5-8 4,8 (1,4) ,4 (7,6) ,4 (1,5) 13,4 19,8 10,5 (3,1) (1,3) ,4 (3,8) ,8 (1,9) ,2 (6,6) 39,1 67,6 0,001 0,003 0,574 0,004 0,009 Discussão e Conclusão Na comparação entre grupos DA e controles, todos os subtestes da ABCD, com exceção da cópia de figura, apresentaram resultados estatisticamente significantes, ou seja, discriminaram idosos sadios e com comprometimento cognitivo. As diferenças mais exuberantes entre os grupos DA e controles foram notadas nos subtestes de estado mental, memória e linguagem (principalmente expressão). De fato, há estudos sobre alterações em todos os aspectos de processamento de linguagem na DA. Indivíduos com DA apresentam inabilidade para sintetizar e processar a informação fornecida pela fala, explicadas pelas falhas atencionais e em tarefas que envolvem memória operacional 9. Além disso, alguns autores acreditam que a dificuldade de compreensão, apresentadas pelos acometidos com DA, está associada ao efeito de sobrecarga e limitações na capacidade de armazenamento em memória de curta duração, enquanto outros defendem que a dificuldade está relacionada às operações em curta-duração, como a alocação de recursos sob responsabilidade do gerenciador central da memória operacional e outros, ainda, que as desordens são multifatoriais incluindo variáveis de ordem semântica e efeitos de processamento 2,3. Nas dificuldades na nomeação por confrontação, os achados sugerem que tanto déficits perceptuais visuais, como atencionais, de acesso lexical e deterioração de representações semânticas podem responder pelas dificuldades 10. A geração de itens, por critério semântico, esteve mais comprometida do que a nomeação.
5 A idéia da perda do conhecimento semântico na DA permanece como forte argumento para explicar dificuldades de linguagem, embora se admita dificuldade no estabelecimento de estratégias de resgate da informação 9. Pesquisas atuais sugerem que bons instrumentos de avaliações devem permitir a análise da interação entre os subsistemas de memórias de curta e longa duração e as associações com os sistemas de linguagem 3. Assim, frente a essas informações, conclui-se que Bateria Arizona tem se mostrado um bom instrumento de avaliação cognitiva, já que os resultados são positivos para discriminar pacientes com demência e pacientes sadios, identificar as alterações e nortear intervenções fonoaudiológicas. Referências Bibliográficas 1. Mansur LL, Carthery LL, Caramelli P, NItrini R. Linguagem e Comunicação na doença de Alzheimer. Revista Racine. 2006; 95 (16): De Luccia GCP, Bueno OFA, Santos RF. Verbal free recall and working memory in the elderly. Distúrb. comun. 2005; 17(3): Goulart MTC. Memória operacional e linguagem no envelhecimento normal e na doença de Alzheimer. São Paulo; s.n; 2005; (215) p.graf. 4. Schölzel-Dorenbos CJ, Draskovic I, Vernooij-Dassen MJ, Olde Rikkert MG. Quality of life and burden of spouses of Alzheimer disease patients. Alzheimer Dis Assoc Disord. 2009; 23(2): Brucki SMD. Sugestões para o uso do Mini-Exame Do Estado Mental no Brasil. Arq Neuropsiquiatr. 2003; 61(3B): Bustamante SEZ, Bottino CMC, Lopes MA, Azevedo KD, Hototian SR, Litvoc J, Jacob Filho W. Instrumentos combinados na avaliação de demência de idosos. Arq Neuropsiquiatr. 2003; 61 (3A): American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IIIR). 1987; Washington, DC: APA. 8. Bayles KA, Tomoeda CK. Arizona Battery for Communication Disorders of Dementia Tucson, Arizona : Canyonlands Publishing. 9. Weintraub S, Salmon D, Mercaldo N, Ferris S, Graff-Radford NR, Chui H, Cummings J, DeCarli C, Foster NL, Galasko D, Peskind E, Dietrich W, Beekly DL, Kukull WA, Morris JC. The Alzheimer's Disease Centers' Uniform Data Set (UDS): the neuropsychologic test battery. Alzheimer Dis Assoc Disord. 2009; 23(2): Hillis, A. Cognitive neuropsychological approaches to rehabilitation of language disorders: Introduction. In: CHAPEY, R. Language intervention strategies in aphasia and related neurogenic communication disorders. 4. ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, cap. 22, p
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