INTOXICAÇÕES POR AGROTÓXICOS NO ESTADO DE GOIÁS REGISTRADOS NO CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS, NO ANO DE 2008
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- João Henrique Coelho Caldeira
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1 INTOXICAÇÕES POR AGROTÓXICOS NO ESTADO DE GOIÁS REGISTRADOS NO CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS, NO ANO DE 2008 Deleon Bernardes Assunção 1, Luciana de Melo Borges 2, Sueli Martins de Freitas Alves 3 1 Bolsista PBIC/UEG, graduado do curso de Agronomia UEG Unidade de Ipameri. 2 Farmacêutica Bioquímica, Prefeitura Municipal de Anápolis. 3 Orientadora, docente do curso de Engenharia Agrícola, UnUCET - Anápolis UEG. RESUMO Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 500 mil pessoas morrem devido a intoxicações a cada ano. O impacto do uso de agrotóxicos sobre a saúde humana é um problema que tem merecido atenção da comunidade científica em todo o mundo. A contribuição para o aumento do número de casos de intoxicação deve-se principalmente a sua utilização em larga escala. Os dados de intoxicação por agrotóxicos são divulgados no Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), e os agrotóxicos de uso agrícola ocupam o segundo lugar nas intoxicações dentre todos os agentes tóxicos registrados. Os estudos acerca deste tema são incipientes no Estado de Goiás, e o presente estudo tem como objetivo a descrição das intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola no ano de 2008 no Estado de Goiás. Verificou-se que os registros de intoxicação foi predominante para o sexo masculino, entre as circunstâncias destacou-se a tentativa de suicídio, a faixa etária determinante foi entre 30 a 35 anos e, 95,24 % dos casos evoluíram para a cura. Palavras-chave: Agrotóxicos. Notificação de intoxicação. Agentes tóxicos Introdução A intoxicação é caracterizada como uma manifestação clínica do efeito nocivo produzido em um organismo vivo como resultado da interação de um agente tóxico com esse organismo. A propriedade intrínseca que o agente tóxico apresenta em causar efeitos nocivos ao organismo denomina-se toxicidade. (Chasin & Pedrozo, 2004; Larini, 1997). 1
2 De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 500 mil pessoas morrem devido a intoxicações a cada ano, apesar do reconhecimento da inexistência de estimativas válidas da incidência de intoxicações em nível mundial (WHO, 1997). Dentre as intoxicações mais freqüentes, está a intoxicação por agrotóxicos. O impacto do uso de agrotóxicos sobre a saúde humana é um problema que tem merecido atenção da comunidade científica em todo o mundo, sobretudo nos países em desenvolvimento, onde se observa o maior número de mortes decorrentes da exposição humana a esses agentes (Araújo et al., 2000; Moreira et al., 2002). Uma das causas que contribuem para o aumento do número de casos de intoxicação é a utilização de agrotóxicos em larga escala, tendo como conseqüências um grande número de mortes e doenças dos trabalhadores, que inalam o produto inadvertidamente durante a aplicação ou através do contato com a pele. As conseqüências atingem tanto o meio ambiente quanto as condições de saúde coletiva, já que resíduos de agrotóxicos podem ser ingeridos através de alimentos, devido ao fato destes compostos serem potencialmente tóxicos ao homem (Moreira et al., 2002; Sobreira & Adissi, 2003; Novato-Silva et al., 2004). O aumento dos problemas relacionados ao uso de agrotóxicos levou a criação da Lei dos Agrotóxicos em A partir desta data o Ministério da Saúde começou a implantar junto ao sistema de controle de informações toxicológicas, a investigação dos acidentes com agrotóxicos, utilizando fichas de notificação e atendimento. Esse monitoramento tem como objetivo primordial expor a situação das intoxicações por agrotóxicos e delimitar campos de atuação, a fim de reduzir o número de acidentes (Alves Filho, 2002; Moreira et al., 2002; Garcia et al. 2005). Com o objetivo de coordenar o processo de coleta, compilação, análise e divulgação dos casos de intoxicação e envenenamento registrados, o Ministério da Saúde implantou em 1980 o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), vinculado à Fundação Oswaldo Cruz, capaz de fornecer informações sobre os agentes tóxicos às autoridades de saúde pública, aos profissionais de saúde e áreas afins e à população em geral. Os dados de intoxicação são encaminhados para o SINITOX por meio do registro em todo o país pela Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (RENACIAT), composta, no ano de 2007, por 36 unidades localizadas em 19 estados brasileiros e no Distrito Federal. Dentre estes se encontra o Centro de Informações Toxicológicas do Estado de Goiás (CIT-GO) (BRASIL, 2007). Entre 1999 a 2002, os agrotóxicos de uso agrícola correspondem a 7,07% dos registros de intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola, ficando em segundo lugar em relação a todos 2
3 os agentes tóxicos registrados (Medonça & Marinho, 2005). Os estudos sobre intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola no Estado de Goiás ainda são incipientes, e tais informações são de suma importância para o direcionamento de estratégias para o controle e educação junto aos trabalhadores. O presente estudo teve como objetivo descrever as intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola ocorridas no Estado de Goiás em 2008, identificando as principais variáveis envolvidas. Materiais e Métodos O levantamento de dados deste trabalho foi realizado durante duas visitas ao CIT-GO, realizadas no mês de maio de Os dados foram obtidos por meio das fichas de notificação referentes à intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola, das intoxicações notificadas no CIT-GO ocorridas no estado de Goiás no ano de Após a análise prévia das fichas, os dados foram transcritos para uma planilha eletrônica em que as colunas representavam as características (variável) de cada notificação e as linhas os dados para cada variável. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva. Foram analisadas as seguintes variáveis: dados do intoxicado (sexo, faixa etária e município) e dados do evento toxicológico (circunstância, via de exposição e evolução do quadro clínico). Foram excluídas da análise as fichas de intoxicação em que o evento ocorreu em outros estados, perfazendo um total de 17 fichas, distribuídas nos seguintes estados: Mato grosso (2), Minas Gerais (2), Panamá (3), Pará (1), São Paulo (3), Tocantins (6). Estas fichas são registradas no CIT-GO, devido ao fato de que o atendimento é realizado por telefone, sendo os pacientes atendidos por plantonistas do Estado de Goiás. Resultados e Discussão Foram analisados 252 casos, dos quais 21 (8,33%) ocorreram em Goiânia, 18 (7,17%) em Jataí, 17 (6,75%) em Goiatuba e 16 (6,35%) em Acreúna. Em relação ao gênero, verificou-se o predomínio do sexo masculino (70,63%), corroborando estudo realizado nacionalmente entre os anos de 1999 a 2002 (Medonça & 3
4 Marinho, 2005). Esse resultado pode estar associado ao fato de que os homens que participam mais de atividades no campo e consequentemente têm maior contato com os agrotóxicos. Em relação à distribuição por faixa etária, as que apresentaram maior incidência de 30 a 35 anos (17,86%), de 20 a 25 anos (11,90%) e de 25 a 30 anos (11,11%). Resultados semelhantes foram encontrados em estudo realizado no município de Dourados (MS) por Pires et al. (2005), e em Fortaleza por Lima et al. (2008). O registro de intoxicações foi predominante no mês janeiro (16,67%), seguido por março (12,30%), agosto (10,32%) e fevereiro (10,32%). A principal via de exposição foi a oral (51,19%), seguida da respiratória (19,84%). Em 19 casos, a intoxicação ocorreu por mais de uma via de exposição, sendo que em 19,85 % dos casos por via cutânea e respiratória. Resultados semelhantes foram encontrados por Lima et al. (2008). A principal circunstancia foi a tentativa de suicídio (32,94%), seguida por acidente individual (28,17%), e ocupacional (22,62%). Resultados semelhantes foram encontrados em outros estudos por Lima et al. (2008), Silva & Alves (2007), Medonça & Marinho (2005) e por Bochner (2007). Ao analisar a circunstância em relação ao gênero, a principal circunstância entre as mulheres foi à tentativa de suicídio (45,83 %), diferentemente dos homens que a principal circunstância está relacionada ao acidente ocupacional (29,78%), e tentativa de suicídio (28,09%). Ao analisar somente a circunstância tentativa de suicídio, 60,24% está relacionado ao sexo masculino e 39,75% ao sexo feminino. A faixa etária em que ocorreu o maior registro de tentativa de suicídio foi de 30 a 35 anos (18,07), e de 25 a 30 anos (14,46%). Dos casos que evoluíram para o óbito, a faixa etária encontrava-se entre 20 a 45 anos, e todos esses casos a circunstância relacionada foi a tentativa de suicídio. Em relação ao local de ocorrência, 127 casos ocorreram em zona urbana (50,40%), e 112 casos em zona rural (44,44%). Considerando a evolução do quadro clínico, 95,24% dos casos evoluíram para a cura, e 1,98 % (4 casos) evoluíram para o óbito. Outros estudos semelhantes corroboram os resultados encontrados (Lima et al., 2008; Marinho & Mendonça, 2005; Silva & Alves, 2007). A taxa de óbitos encontrada foi menor, em comparação a resultados divulgados em estudo nacional realizado nos anos de 1999 a 2003, em que a taxa de letalidade atingiu 2,8% (Bochner, 2007). 4
5 Conclusões O presente estudo revelou que a principal circunstância relacionada a intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola é a tentativa de suicídio e o sexo masculino foi o predominante nos registros, o fácil acesso a esses produtos pode ser uma das causas. Contudo, deve-se levar em consideração o alto índice de subnotificação de casos de intoxicação por agentes químicos. Em relação à evolução do quadro clínico, mais de 90% dos casos evoluíram para a cura, e a taxa de letalidade encontrada foi inferior à divulgada em estudo realizado nacionalmente. Referências Bibliográficas ALVES FILHO, J.P. Uso de Agrotóxicos no Brasil - Controle Social e Interesses Corporativos. 1ª ed. São Paulo: Annablume; Fapesp, ARAÚJO, A.C. P.; NOGUEIRA, D.P. & AUGUSTO, L.G. S. Impacto dos Praguicidas na saúde: estudo da cultura de tomate. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 34, nº. 3, BOCHNER, R. Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas SINITOX e as intoxicações humanas por agrotóxicos no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro v. 12, n. 1, p , BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX). Sinitox, Disponível em: < Acesso em: 20 jan CHASIN, A. A. M.; PEDROZO, M. F. M. O. Estudo da toxicologia. In: AZEVEDO, F. A.; CHASIN, A. A. M. (Org.). As bases toxicológicas da ecotoxicologia. São Paulo: RiMa, p LARINI, L. Avaliação toxicológica. In:. Toxicologia. São Paulo: Manole, p LIMA, M.A.; BEZERRA, E. P.; ANDRADE, L. M.; CAETANO, J. A.; MIRANDA, M. D. C. Perfil epidemiológico das vítimas atendidas na emergência com intoxicação por agrotóxicos. Cienc Cuid Saúde. Maringá, v. 7, n. 3, p , jul-set, MENDONÇA, R.; MARINHO, J. Discussão sobre intoxicações por medicamentos e agrotóxicos no Brasil de 1999 a Revista Eletrônica de Farmácia, Goiânia, v. 2, n. 2, p , Disponível em: < Acesso em: 20 mar
6 MOREIRA, J. Avaliação Integrada do Impacto do Uso de Agrotóxicos Sobre a Saúde Humana em uma Comunidade Agrícola de Nova Friburgo, RJ. Ciência e Saúde Coletiva, v. 7, nº. 02, p NOVATO-SILVA, E.; SILVA, J. M. da; SOUZA, R. A.; RODRIGUES, F. A. L. & SILVA, G. M. E. Educação Para a Saúde: o Conhecimento como Ferramenta de Redução dos Riscos da Exposição Ocupacional à Agrotóxicos. In: Anais do 7º Encontro de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte (MG), PIRES, D. X.; CALDAS, E. D.; RECENA, M. P. C. Intoxicações provocadas por agrotóxicos de uso agrícola na microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil, no período de 1992 a Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p , mai-jun, SILVA, A. M.; ALVES, S. M. F. Análise dos registros de intoxicação por agrotóxico em Goiás, no período de 2001 a Revista Eletrônica de Farmácia, Goiânia, v. 4, n. 2, p , Disponível em:< Acesso em: 20 mar SOBREIRA, A.E.G. & ADISSI, P.J. Agrotóxicos: Falsas Premissas e Debates. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 8, nº 4, WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for poison control. Geneva,
Co-Orientadora, docente do Curso de Farmácia, UnuCET - Anápolis - UEG.
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