Gil Vicente. Teatro humanista português
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- Adriano Viveiros
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1 Gil Vicente Teatro humanista português
2
3 Humanismo
4 Gil Vicente ( ) Quem foi? Ourives da Rainha Velha, D. Leonor Organizador das festas da corte Formação Pouco se sabe sobre sua formação, mas infere-se que possuía sólido conhecimento de teologia, além de algum conhecimento de língua latina, e bom domínio do idioma saiaguês uma espécie de espanhol arcaico Religiosidade Gil Vicente era um homem de inabalável fé, e sua visão de mundo é medieval, ou teocêntrica
5 Homem ousado e crítico de seu tempo Auto da Feira: crítica feroz à venda de indulgências e à comercialização da fé dentro da Igreja Católica 1531: discursa no claustro de São Francisco, acusando de superstição os padres
6 Pensamento medieval Teatro pro/fano: à frente do templo O teatro medieval nasce dentro da igreja, em representações catequizadoras, passa para o adro e, depois, instala-se fora do templo, abrindo espaço para as temáticas populares, o vocabulário de baixo calão e as insinuações sexuais e e o humor físico
7 Pensamento medieval Viveu em cheio no renascimento, mas deixou nos uma interpretação cristã do homem, no sentido tradicionalista, cavalheiresco e catequizador. Segismundo Espina Sua concepção de mundo foi teocêntrica; o seu ideal social hierático, e a sua ética a do asceta: desnudar o homem e mostrar-lhe que a vida tem de ser sempre uma preparação para a morte. Joaquim de Carvalho
8 Carreira teatral e vida 34 anos de teatro, dos 72 de vida. Viu 4 reinados portugueses: De D. Afonso V a D. João III Viajava com a corte e sempre encenava suas peças nos eventos festivos organizados pelo próprio Gil Vicente.
9 Testemunhos de época "E vimos singularmente Fazer representações. D'estilo mui eloqüuente, De mui novas invenções: Ele foi quem inventou Isto cá, é o usou Com mais graça e mais doutrina, Posto que Joam del Enzina O pastoril começou Garcia de Rezende Uma novidade extraordinária! Melhor que Juan del Encina! D. João II
10 Fases teatrais escreve em dialeto saiaguês 1ª fase: imitação do estilo do dramaturgo espanhol Juan del Encina peças: Auto da Visitação, Auto dos Reis Magos, entre outras português substitui o saiaguês e começa a crítica social 2ª fase: Auto da Índia, O Velho da Horta, entre outras época da maturidade, com uma de suas melhores produções 3ª fase: Auto das Barcas (Inferno, céu e purgatório), entre outras preferência ao teatro alegórico 4ª fase: Farsa de Inês Pereira, Comédia do Viúvo, entre outras repete os tipos experimentados nas anteriores 5ª fase: Auto da Festa, Farsa dos Físicos, entre outras.
11 Estrutura Atos: Versificação Esquema rímico: peça em um só ato redondilha maior 7 sílabas poéticas rimas interpoladas Bem está! Vai tu muitieramá, e atesa aquele palanco e despeja aquele banco, para a gente que virá. À barca, à barca, hu-u! Asinha, que se quer ir! Oh, que tempo de partir, louvores a Belzebu! a b b a c d d c
12 Temas Crítica social a vários estereótipos (tipos sociais personagens-tipo) olhar antropocêntrico Religiosidade (Bem x Mal) olhar teocêntrico OBS: GIL VICENTE NÃO CRITICA AS INSTITUIÇÕES, MAS OS HOMENS QUE AS CORROMPEM = um medieval vê o mundo como um espaço imutável, de forma que criticar as instituições está longe de seu pensamento voltado para a permanência da ordem e do mundo
13 Personagens-tipo Os personagens Vicentinos representam as diversas classes sociais e suas diferentes interações naquele universo medieval português
14 Espaço improvisado Anjo, arrais da Barca da Glória Diabo, arrais da Barca da perdição
15 Fidalgo (inferno) Objeto: é seguido por um criado que lhe conduz o rabo e a cadeira (comprada na venda de indulgências) Classe social: nobre decaído do século XV Pecado: soberba; desprezou os pequenos
16 Onzeneiro (inferno) Objeto: saco de dinheiro vazio deseja voltar para buscar seu dinheiro Classe social: agiota, costuma emprestar dinheiro aos fidalgos decaídos e aos judeu Pecado: usura, expressamente proibida pela Igreja Católica; além disso, tenta subornar o anjo para passa-lo Obs. O onzeneiro, ao adentrar a barca, reconhece o Fidalgo, seu cliente
17 Joane, o parvo (Paraíso) Objeto: não possui, já que não possui relevo social ou pecado Classe social: samica alguém, ou seja, um ninguém, um João ninguém Absolvição: não pecou por malícia, e por isso recebe passe livre pelo Anjo Obs: Gil Vicente, aqui, adota uma posição ao mesmo tempo cristã e antropocêntrica de defesa da arraia miúda, ou seja, o povo simples
18 Sapateiro (inferno) Objeto: de avental, carregado de forminhas cagadas, formas de sapato Classe social: sapateiro, um prestador de serviços Pecado: enganador do povo; ladrão; excomungado
19 Frade (inferno) Objeto: a senhora Florença; o escudo, o capacete e a espada de esgrimir Classe social: o clero decaído Pecado: quebra do celibato; prática de desporto; representa a corrupção do clero, a que os padres fazem vista grossa, já que fazem outro tanto
20 Brígida (inferno) Objeto: virgos postiços para cirurgia medieval de reconstrução da virgindade; cofres de enleios; furtos alheios; as moças que vendia Classe social: alcoviteira; arranjadora de casamentos Pecado: comércio sexual, entre outros Obs. É conhecida do Judeu, Corregedor, Procurador, todos esses seus clientes
21 Judeu (inferno) Objeto: um bode às costas, representando sacrifícios religiosos pagãos Classe social: Judeu, ou seja, pagão; tenta subornar o Diabo. Pecado: não ser cristão; Obs 1: os judeus são uma etnia vista com preconceito pelos portugueses Obs 2: originalmente o texto de Gil Vicente não condena o Judeu ao inferno, e sim a ficar à toa, sendo rejeitado pelo próprio diabo
22 Corregedor e Procurador (inferno) Objetos: o corregedor vem carregado de feitos (processos), traz sua vara à mão; o procurador vem com livros Classe social: juiz e advogado; falam latim para dar uma carteirada no anjo Pecado: aceitaram suborno Obs. são zombados pelo Parvo, que fala um latim macarrônico para arremedar sua erudição
23 Enforcado (inferno) Objeto: baraço (corda) no pescoço Classe social: indefinida (um condenado) Pecado: condenado à morte, não se arrependeu à hora da extrema pregaçã
24 Cavaleiros (Paraíso) Objetos: portam a cruz de malta, signo dos cavaleiros de cristo Classe social: nobres, lutaram nas cruzadas contra a maura lança, e morrem na guerra santa Absolvição: Vêm Quatro Cavaleiros cantando, os quais trazem cada um a Cruz de Cristo, pelo qual Senhor e acrescentamento de Sua santa fé católica morreram em poder dos mouros. Absoltos a culpa e pena per privilégio que os que assim morrem têm dos mistérios da Paixão d'aquele por Quem padecem, outorgados por todos os Presidentes Sumos Pontífices da Madre Santa Igreja.
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