SINTOMAS ANSIOSOS EM ESTUDANTES DE MEDICINA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
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1 SINTOMAS ANSIOSOS EM ESTUDANTES DE MEDICINA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS Virgílio Augusto Deodato Gonçalves¹, Leila Rute Oliveira Gurgel do Amaral² ¹Aluno do Curso de Medicina; Campus de Palmas; bolsita PIBIC/CNPq. 2 Orientadora do Curso de Medicina; Campus de Palmas; leila.gurgel@uft.edu.br RESUMO Os estudantes de medicina são suscetíveis ao desenvolvimento de doenças mentais, o que compromete a formação do acadêmico. Ansiedade é a sensação de medo e apreensão, caracterizada por tensão ou desconforto decorrente da antecipação de perigo. É uma resposta normal, porém tende a ser reconhecida como patológica quando interfere na qualidade de vida, no conforto emocional ou no desempenho diário do indivíduo. Diante do exposto, o objetivo desta pesquisa foi conhecer a frequência de sintomas ansiosos em estudantes de medicina da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e avaliar fatores associados. Utilizou-se a Escala de Avaliação de Ansiedade de Hamilton (HAM-A) e o Questionário Sociocultural como instrumentos de avaliação. A amostra foi composta por 366 estudantes matriculados entre o 1º e o 12º períodos do curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins do campus de Palmas. A frequência de sintomas ansiosos foi 17,45%, dos quais 9,97% apresentaram grau leve, 4,99% moderado e 2,49% grave. A maioria (63,5%) pertenciam ao sexo feminino e constatou-se redução dos sintomas ansiosos ao longo dos períodos. Na análise das variáveis identificou-se que o sexo, as práticas de atividade de lazer, o ciclo do curso e o histórico de tratamento psiquiátrico/psicológico apresentaram associação com a presença de sintomas ansiosos. O estado civil, a situação atual de moradia e a atividade remunerada não apresentaram associação significativa com sintomas ansiosos. A frequência de sintomas de ansiedade indicou necessidade de medidas de prevenção e desenvolvimento de programas de saúde mental. Palavras-chave: Ansiedade; Educação Médica; Estudantes de Medicina. INTRODUÇÃO A ansiedade é a sensação de medo e apreensão, caracterizada por tensão ou desconforto decorrente da antecipação de perigo. É uma resposta normal, adaptativa e positiva. Serve como impulso que aumenta os esforços e desempenho, porém este sentimento tende a ser reconhecido como patológico quando se apresenta com Página 1
2 intensidade e/ou duração excessivas e dissociado de situações normalmente ansiogênicas, interferindo na qualidade de vida, no conforto emocional ou no desempenho diário do indivíduo (CASTILLO et al., 2000; SADOCK, 2008). Níveis patológicos de ansiedade são comumente encontrados entre acadêmicos, cerca de 15 a 20% dos estudantes universitários sofrem de transtornos de ansiedade (CHAPELL et al.,2005). No contexto da educação médica, os fatores ansiogênicos podem comprometer a atenção e concentração do estudante, implicando no processo de aquisição de habilidades (MELEIRO, 2001). Ao se considerar este impacto negativo é de grande importância investigar a frequência dos sintomas ansiosos e seus fatores associados, o que se configura como objetivo da presente pesquisa. Vale ressaltar que o curso de medicina da Universidade Federal do Tocantins é o único público do Estado e são escassos os estudos referentes a essa temática nesse contexto. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa ocorreu no Curso de Medicina do Campus de Palmas da Universidade Federal do Tocantins (UFT), entre agosto de 2015 a janeiro de Coletaram-se dados de alunos matriculados do 1 ao 12 período do curso, que é dividido em ciclo básico (1 ao 4 períodos), clínico (5 ao 8 períodos) e internato (9 ao 12 períodos). A amostra aleatória, estratificada por período do curso, foi de 366 alunos, calculada segundo Barbetta (2003), atingindo erro máximo tolerável de 2,23%. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Tocantins sob o protocolo 042/2015. Aplicaram-se dois instrumentos para a coleta de dados: 1- questionário sociocultural estruturado, para conhecer a situação dos discentes quanto a idade, sexo, período do curso e tratamentos psiquiátricos/psicológicos prévios; 2- versão Brasileira da Escala de Hamilton (HAM-A). A HAM-A possibilitou averiguar a gravidade dos sintomas de ansiedade, ressalta-se que esta não é uma ferramenta diagnóstica de ansiedade. Esta escala foi elaborada por Max Hamilton em 1959 (MORENO; MORENO, 1998). Página 2
3 Os dados foram tabulados e analisados estatisticamente com o auxílio do software EPI-INFO (versão 7). Utilizou-se o teste Qui-quadrado ou o Exato de Fisher para avaliar associações existentes entre o desfecho e algumas variáveis de exposição do questionário estruturado. RESULTADOS E DISCUSSÃO A amostra avaliada corresponde à participação de 81,88% dos discentes matriculados na UFT. Os estudantes do ciclo clínico (36,16%) tiveram maior participação no estudo, havendo maior frequência do sexo masculino (54,53%). As idades dos sujeitos variaram de 17 a 43 anos, com média de 23 anos e 3 meses. Quanto ao estado civil, 94,21% eram solteiros, 3,31% casados e 2,48% amasiados. Moravam sozinhos 45,33% dos entrevistados, com familiares 31,87% e com amigos 22,8%. Quanto ao local de procedência, 69,06% eram de outro estado, 18,78% de Palmas, 10,5 % de outros municípios do Tocantins, enquanto 1,66% eram de outros países. A maioria (82,14%) não realizava atividade remunerada. Em relação às atividades de lazer, observou-se que 97,25% as praticavam. Dos estudantes avaliados, 70,33% referiram nunca ter feito tratamento psicológico e (85,44%) tratamento psiquiátrico. Quanto ao resultado da Escala de Ansiedade de Hamilton, que avalia a gravidade dos sintomas ansiosos, obteve-se os seguintes resultados: 82,55% com ansiedade normal, 9,97% leve, 4,99 % moderada e 2,49% grave. A maioria (63,5%) dos acadêmicos acometidos por sintomas ansiosos pertenciam ao sexo feminino. Dentre os alunos que apresentaram algum grau de ansiedade, as frequências de sintomas ansiosos graves se sobrepõem aos demais graus no quinto e no décimo segundo períodos. Embora nesses períodos a predominância da ansiedade grave seja maior, os sintomas ansiosos, em qualquer grau, são menores quando comparados com os dos demais períodos. Os testes estatísticos demonstraram associações entre as variáveis sintomas ansiosos e sexo (p=0,002), sintomas ansiosos e ciclo do curso (p=0,0001), sintomas ansiosos e práticas de atividades de lazer (p=0,0025), sintomas ansiosos e tratamentos psicológico e psiquiátrico (p= 0,0073). As variáveis estado civil (p=0,0892), situação atual de moradia (p=0,0828) e atividade remunerada (p=0,2971) não apresentaram Página 3
4 associação significativa com sintomas ansiosos, embora para estado civil e situação atual de moradia o valor de p esteja próximo de 0,05. Neste estudo, identificou-se que 17,45% dos estudantes desta universidade apresentaram sintomas para ansiedade. No curso de Medicina da Faculdade Pernambucana de Saúde (F.P.S), 19,7% dos discentes manifestaram sintomas sugestivos de tal transtorno (VASCONCELOS et al., 2015). Embora os estudos tenham sido realizados com diferentes escalas de avaliação, é possível verificar que o curso de medicina está associado a graus consideráveis de ansiedade. Ao se observar a evolução destes graus de ansiedade ao longo dos períodos, constatou-se redução dos sintomas ansiosos. Na busca das variáveis que justificassem tais valores, pesquisadores do sul do Brasil observaram que os estudantes do último ano faziam uso de medicações para ansiedade, tendo como hipótese que o uso de medicação interfere na associação ano de curso e presença de sintomas de ansiedade (RODRIGUES, 2014). A alta ansiedade observada no ciclo básico dos alunos da UFT pode ser decorrente do retorno do período de greve, o que acarretou acúmulo de atividades acadêmicas. Além do fator citado, existem também aspectos psicossociais que podem interferir na frequência dos sintomas ansiosos no início do curso, como a alteração de rotina. Embora a população dos estudantes de medicina seja maioria masculina, o sexo feminino apresentou maior frequência de sintomas ansiosos. Inúmeros fatores justificam maiores taxas de prevalência de depressão e ansiedade entre as estudantes de medicina, tais como maior liberdade para a expressão de sentimentos, maior exposição a situações de risco para transtornos mentais e fatores fisiológicos e hormonais (MELLO FILHO, 2006). As causas dos sintomas ansiosos dos estudantes de medicina ultrapassam tais questões demográficas e curriculares. A falta de lazer compromete o descanso, o divertimento e o desenvolvimento (pessoal e social). Os acadêmicos sentem-se ansiosos e culpados até mesmo ao pensar em ter tais momentos (MAIA et al., 2011). Outra forma de privação que acomete os futuros médicos é a familiar. Os estudantes que precisam se afastar das suas famílias tornam-se mais propensos a distúrbios psicológicos (VASCONCELOS et al., 2015). Neste estudo, tal associação Página 4
5 não foi significativa, acreditando-se que devido a maioria dos estudantes serem procedentes de localidades externas, formam redes de apoio entre si, o que ameniza os processos ansiosos. A literatura aponta que estas abdicações acabam sendo ainda mais comuns dentre aqueles indivíduos que realizam atividades remuneradas em período concomitante à graduação médica (VASCONCELOS et al., 2015), apesar deste estudo não evidenciar dependência estatisticamente significativa entre o exercício de atividade remunerada e sintomas de ansiedade. A maioria dos alunos com sintomas ansiosos não reconhece a necessidade de buscar ajuda profissional. Pesquisadores da área apontam a existência de diversas barreiras que separam o estudante de medicina das soluções terapêuticas: dificuldade em perceber e reconhecer as necessidades de ordem emocional, preconceito frente aos problemas emocionais, preocupação com confidencialidade dos serviços e altos custos dos tratamentos (PEREIRA, 2010). As limitações da presente pesquisa estão vinculadas à ausência do estudo de determinadas variáveis, que ampliariam a compreensão dos resultados, tais como: drogadição, tabagismo, etilismo, abuso de cafeína e uso de psicofármacos. Além disso, abordagem longitudinal encontra-se em andamento, o que permitirá a inferência de causalidade Uma preocupação relacionada à manifestação destes sintomas ansiosos é o fato de serem capazes de afetar a cognição e comprometer o aprendizado. Diante deste potencial prejuízo de aquisição de conhecimentos, justifica-se a importância de serviços de apoio ao discente. LITERATURA CITADA BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às ciências sociais. Florianopolis: Editora da UFSC, CASTILLO, Ana Regina GL et al. Transtornos de ansiedade. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 22, supl. 2, p , CHAPELL, Mark S. et al. Test Anxiety and Academic Performance in Undergraduate and Graduate Students. Journal Of Educational Psychology, [s.l.], v. 97, n. 2, p , Página 5
6 MAIA, Davi Alencar de Correia et al. Acadêmicos de Medicina: Sua relação com o ócio e a prática de atividade física como combate à ansiedade e ao estresse. Cader bis ESP [online]. Vol. 5, MELEIRO, Alexandrina Maria Augusto da Silva. O Médico como paciente. São Paulo: Lemos Editorial, MELLO FILHO, Júlio de. A vocação médica e o curso médico. In: Mello Filho, editor. Identidade Médica: São Paulo: Casa do Psicólogo; p , MORENO, R A; MORENO, D H. Escalas de depressão de Montgomery & Asberg (MADRS) e de Hamilton (HAM-D). Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, v. 25, n. 5, p , PEREIRA, Paula Bertozzi de Oliveira e Souza Leão. Bem-estar e busca de ajuda: um estudo junto a alunos de Medicina ao final do curso f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010 RODRIGUES, Joana Ramos. Ansiedade em Estudantes de Medicina f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Medicina, Universidade da Beira Interior, Covilhã, SADOCK, Benjamin J., SADOCK, Virgínia A. Compêndio de psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 9.ed. Porto Alegre: Artmed, VASCONCELOS, Tatheane Couto de et al. Prevalência de Sintomas de Ansiedade e Depressão em Estudantes de Medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, [s.l.], v. 39, n. 1, p , mar "O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil" Página 6
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